domingo, 15 de novembro de 2015

O fanatismo apequena

Sim, apequena. Apequena o conhecimento, a visão de mundo. Apequena o amor. Apequena a humanidade, tanto a característica própria dos seres humanos, como eles próprios.

O fanatismo, seja ele político, religioso, esportivo, cultural, transforma o que foi por ele atingido numa espécie de zumbi, escravo da sua devoção sem limites, cego para todo o resto que ocorre à sua volta. Tudo passa a depender de uma visão maniqueísta do mundo - o bem x o mal, sendo o bem representado pelos fanáticos e o mal, todo o resto. 

O fanático vive, come e respira em nome de sua causa: o time de futebol, o cantor da moda, o partido político, a seita religiosa (e aqui são compreendidas todas elas, desde a católica, mais tradicional, até as menos conhecidas de tribos indígenas, por exemplo).

Não há diálogo: se você é fanático, leva sua vida a tentar de alguma forma destruir os que são contrários às suas idéias, sem se importar nem por um segundo se o que faz traz infelicidade aos outros. Está cego de ódio pelo outro, o diferente. Não suporta sua existência, sua felicidade. Quer sua eliminação.

Essa é a realidade de fanáticos culturais, esportivos, religiosos e políticos. E nem percebem que são pura massa de manobra dos que representam a pureza de seu fanatismo: os ídolos. 

Reflexo disso é a pobreza das relações sociais. Ninguém assume mais nada de suas vidas. Pode dar confusão dizer seu time, revelar seu voto, falar de qual cantor gosta, expor suas crenças religiosas ou a ausência delas, já que o fanático não expõe idéias; ele exige a imediata conversão ao bem. Fora disso, não há vida.

Especificamente falando do que aconteceu na França, triste repetição de uma nova realidade desde o ocorrido em 2001 nos EUA, eis o retrato mais embrutecido da estupidez do fanatismo. Mata-se em restaurantes, em casas de shows, em prédios comerciais, querendo-se na verdade matar o estilo de vida por tais coisas representado. O Estado Islâmico não quer conversão, quer a eliminação de todos os outros que não comungam de seus princípios. Sua selvageria é tão sem limite que até outros grupos terroristas o rejeitam, demonstrando um incipiente sentido de ética e humanidade.

O mundo está em guerra e nem percebeu. Ou se juntam todos para defender a liberdade de ser diferente ou muito sangue inocente ainda será derramado mundo afora. O combate a este câncer não pode se restringir a EUA e França. O mundo tem que reagir. É esse o recado que as pessoas estão mandando nas ruas de Paris, de Nova Iorque, de Londres. É esse o recado que mandam pelas redes sociais, quando expressam sua solidariedade. Todos pela liberdade. Todos contra o fanatismo.

Quer dizer, quase todos. Porque surgem fanáticos de todas as vertentes nessas horas. Há quem gaste seu tempo para criticar a reação que tal ataque provocou em detrimento de tragédias nacionais. Perceberam como o fanatismo apequena? Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Não captam a ameaça que nos ronda. Ou até captam, mas fazem isso para desarticular o movimento anti fanatismo que agora se forma e disfarçam isso num tal espírito de patriotismo. Não são patriotas, são canalhas mesmo.

Aproveitam-se do momento como propaganda de seu próprio fanatismo, especialmente os de cunho religioso e político. Coisas como "isso é apenas revolta contra o capitalismo, que é cruel", "por isso que temos que impedir entrada de estrangeiros", "esses mulçumanos são todos terroristas", são a maior prova de que o fanatismo apequena e dele devemos fazer esforço diariamente para nos afastar. Como dizia Aristóteles, a virtude está no meio.

É preciso que a humanidade retorne urgentemente à reflexão, e acorde para os perigos que o fanatismo de qualquer cunho representa.

Agora é a defesa da liberdade contra essa ameaça real, concreta que requer uma visão maniqueísta. A vitória do Estado Islâmico significa que todos os outros foram mortos. Assim, nem é preciso raciocinar muito: abaixo o Estado Islâmico! E que, tal qual um dominó, caiam todos os outros tipos de fanatismo, um a um.

Como diz o  lema de um ilustre movimento brasileiro oriundo de Minas Gerais e atualmente exposto na bandeira do estado: liberdade ainda que tardia.

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