sexta-feira, 24 de abril de 2015

Roberto Fernandes e as rádios de Natal

Cada dia mais atarefada, quase não tenho mais tempo para dedicar a programas de rádio e/ou TV sobre futebol. Nesse ponto, os programas de rádio levam pequena vantagem porque normalmente estou no trânsito no horário de 90% deles, o que me deixa a par de algumas opiniões.

Acostumada a lidar com testemunhas (aquelas pessoas que sempre lhe dizem uma coisa fora do processo e outra totalmente diferente em juízo) e mesmo com alunos (sempre com uma desculpa pronta para a atividade não realizada na data prevista), a vida me calejou a ler as entrelinhas do que qualquer pessoa diz.

A pauta mais recente, de um jeito ou de outro, tem sido Roberto Fernandes. E o ar de rancor em relação ao técnico americano ficou meio que evidente em alguns momentos nos últimos 15 dias.

Primeiro, Bob vinha reclamando de desfalques e cansaço de alguns jogadores ante o desempenho não satisfatório do time. Ok, até eu reclamei da reclamação. Mas algumas pessoas nas rádios aproveitaram a deixa para descer o sarrafo no treinador e ensinar como um treinador deveria se portar.

Depois, Bob disse que a imprensa já havia cravado o ABC como campeão do 2.° turno e não seria por ocasião do clássico que ela iria "arregar". Nossa! Houve um comentarista que negou veementemente que a imprensa desse o ABC como favoritaço à conquista do 2.° turno (uma leseira, já que era essa mesma a condição do ABC 100% invicto), mas foi justificar sua opinião e meteu que era a mesma situação do América no 1.° turno (favoritaço pela boa campanha). Então a imprensa dava mesmo o ABC como favorito, né? O rancor era tamanho que o cara acabou se contradizendo.

Um site esportivo chegou até a tirar de contexto a declaração de Bob, dizendo que ele afirmara que era o América que não iria arregar. Mas hoje o América disponibiliza suas entrevistas coletivas completas em seu site, o que evita essas edições esquisitas.

Melhor mesmo foi a tentativa de colocar os estilos de Josué Teixeira e de Roberto Fernandes como diametralmente opostos, especialmente quanto a fazer segredo sobre escalações. Passaram o tempo todo dizendo que esconder o jogo era coisa antiga e ineficiente, mas quando o mesmo comentarista soube que Josué Teixeira não pretendia fazer qualquer segredo sobre o time do ABC e os treinamentos para o clássico, bateu o desespero. Na hora, ele rebateu o repórter e disse que certamente o treinador teria algum segredo para o clássico. Ou seja, segredo era coisa do passado, mas ao saber que Bob teria seus mistérios e o técnico do ABC seria 100% transparente, a angústia tomou o mesmo comentarista de supetão e ele praticamente desautorizou o repórter ao vivo.

Ainda nessa linha, agora foi Josué Teixeira que escondeu o jogo (não tanto quanto Bob, pelo menos até agora) sobre o time a jogar contra o Globo. 99% reserva. Imagino que isso seja uma decisão inteligente - é o que devo ouvir hoje se estiver no trânsito no horário.

Mas ontem ouvi outro comentarista descer o sarrafo na decisão de Bob de jogar com time dito reserva contra o Potiguar. Ante o resultado de 3x2, o cara teceu longo comentário a respeito de que o América teria que ter usado o time titular porque Roberto Fernandes precisava definir seu estilo de jogo. Santa inocência, Batman! Bob já tem seu time. Ele quer saber é quem mais pode render como opção, ou até muito eventualmente, como titular, e, principalmente, evitar desfalques.

No entanto, o melhor ainda estava por vir. Num estilo definido como "converse mais que você se perde", o comentarista terminou por afirmar que mostrar serviço contra o fraco e desfalcado Potiguar não era mérito para ninguém e que não havia qualquer pessoa que achasse que um titular daquele jogo deveria ser titular nas finais. Então, cara pálida, por que Bob teria que submeter seus titulares a um gramado reconhecidamente péssimo e correr o risco de novas lesões para definir um tal estilo de jogo (já definido, diga-se de passagem) se o Potiguar não servia de parâmetro para definir titularidade de jogador algum? Quanta incoerência!

A impressão que salta aos olhos é que o pessoal das rádios amarga grande rancor em relação a Roberto Fernandes e fica na expectativa de um minúsculo deslize para defenestrá-lo. Ninguém é obrigado a gostar de Bob, mas torcer abertamente contra fica muito feio para quem tira seu sustento da cobertura do futebol. Parece até que o profissionalismo é inexistente. 

Será que nas faculdades de jornalismo/radialismo há disciplinas como Ética e Ética Profissional ou mesmo Marketing Pessoal? 

Enfim, o rancor corrói a alma. E a reputação também.

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