Não é mais segredo para ninguém que o futebol virou negócio, com tudo de bom e de ruim que daí possa advir. O problema é quando o lucro/sucesso nunca é da pessoa jurídica principal, apenas das pessoas físicas/jurídicas que com ela negociam.
Também não é de hoje que um clube de tradição como o América não olha mais para suas bases, deixando que outros olhem. Dizem que é preciso priorizar o futebol profissional.
Futebol profissional... PROFISSIONAL. Alguém já viu algo profissional ser uma panela tão mexida como é o futebol do América? Entra gerente, sai gerente. Entra empresário, sai empresário. Entra procurador, sai procurador. Entra amigo, entra irmão, entra pai, entra filho, entra abnegado... Só não entra o lado profissional de verdade. Aquele que busca um objetivo único: sucesso do clube, sem qualquer influência se isso vai incluir sucesso na negociação de atletas X ou Y.
Vê-se por aqui (e eu me refiro ao Brasil como um todo) outro tipo de profissionalismo eficiente: o dos empresários de atletas. Eles estão certos dentro do seu exercício, buscando sempre que seus clientes estejam (bem) empregados, em atividade.
O problema é quando há conflito entre o que de fato interessa ao clube e os interesses empresariais. Sem um profissionalismo forte por parte do clube, daquele que defende e almeja unicamente o sucesso da entidade (que nem sempre é título, dadas as circunstâncias, mas certamente seu engrandecimento a cada temporada), a desgraça tende a imperar.
Empresários, procuradores, ou o nome que quiserem dar, passam por cima de decisões técnicas, não aceitam reposicionamento de seus atletas, ou que eles sejam banco, ou que joguem com outros de determinado empresário. Há também os famosos pacotes, quando um atleta bom só pode ser contratado trazendo a reboque 2-3 (ou mais) que estão encostados por lesão ou por falta de talento mesmo.
Quantas vezes não vimos departamentos médicos lotados quando técnicos estão pressionados e que esvaziam rapidinho pós-troca no comando? Uma lesão derruba técnico tanto quanto jogador que faz beicinho, e ela evita acusações de indisciplina.
Com tantas outras coisas que nem cito aqui do futebol brasileiro, é bastante pertinente a pergunta sobre quem escala uma equipe. A vontade de responder que é o técnico é enorme, mas é ele mesmo? Por que, então, uma troca de técnico leva à manutenção dos erros cometidos pelo que caiu?
Volto ao América para perguntar: quem vetou os laterais do estadual viu mesmo os laterais no estadual? O caso da lateral esquerda, por exemplo, é gritante. Como o titular foi mandado embora, o reserva ficou e trouxeram um pior ainda e que segue sendo escalado, mesmo sob comando de 3 técnicos diferentes? A direita não fica atrás. E qual foi o pecado de Zé Eduardo, que sempre marcou gols em jogos decisivos/importantes, para não ser mais escalado com Wallace Pernambucano, dupla que deu super certo?
Ver jogadores que chegaram sem condição física adequada e sem ritmo de jogo (conferir DM) virarem titulares absolutos em detrimento de outros que suaram no estadual deprimente daqui é para levantar mesmo o questionamento sobre quem escala de fato o time do América.
O América-RN não é o Rio Branco de Americana-SP, para ficar no ponto em comum dos últimos carreados ao clube dentro e fora das quatro linhas. Para não ficar debatendo glórias de um e de outro, apenas aponto que o clube norte-rio-grandense conquistou em campo o direito de participar de uma Copa Sul-americana em 1998. É bem verdade, cruel até, que hoje está relegado ao pré-limbo do futebol nacional, afundado que está na Série D. Mas é preciso muito esforço para engrandecê-lo novamente, com atletas empenhados em suar a camisa em prol do clube e daí obter seu sucesso, algo que costuma funcionar bem, não apequená-lo de vez com escalações quase zumbis.
Vejam que eu nem estou afirmando que são jogadores ruins. O que não consigo entender é por que eles têm que conquistar ritmo de jogo atuando como titulares a custa do desempenho de um clube centenário no campeonato brasileiro. Não dava para ir escalando a maioria no 2.° tempo, não? Esperando uma lesão ou uma suspensão para que tivessem chance na escalação inicial para mostrar serviço e enfim agarrarem a titularidade?
A realidade desta temporada é que o América nem se impõe mais em casa. Muito pelo contrário, tem aproveitamento de time rebaixado justamente diante de sua torcida. Não dá para aceitar uma situação dessa, principalmente sabendo que o time do estadual estava arrumado e sabia muito bem de suas limitações.
Quem escala o time (seja o técnico que fugiu vergonhosamente da coletiva no último jogo em casa, seja o diretor Fassina, seja o gerente Moura, seja o presidente Souza, ou qualquer outra pessoa, do clube ou não, todos juntos ou não), precisa assumir responsabilidades e corrigir esse rumo fracassado o quanto antes porque a vaca neste ano ameaça ir para o brejo bem mais cedo do que se espera. E se ela for para o brejo, mesmo a conta maior sendo do clube, como sempre, ela também atinje os envolvidos neste processo, dentro e fora das quatro linhas.
Só há sucesso se o clube for bem-sucedido. E para um clube do tamanho do América, sucesso na Série D é acesso. Quem avisa amiga é.
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