domingo, 13 de outubro de 2019

O que Padang disse

Como prometi no Podcast de hoje, seguem agora os principais trechos da entrevista de Alex Padang ao programa Tocando a Bola da 98 FM. 

O melhor presidente do América
(...) Sendo pouco modesto, fui eu, dos que eu conheci. (...) Se for para brigar de títulos, achei que Eduardo Rocha com Gustavo Carvalho tiveram mais êxito. Como dirigente, talvez eu tenha mais títulos, acessos, não tive descenso. Mas quando a pessoa fala em gestão, e aí são números, não tem o que conversar. Aí você tem que falar como é que o presidente pegou o clube. Por exemplo, em 2011, o faturamento total do América foi R$ 3,071 milhões. Em 2012, aumentou mais de 100%, 150%, para R$ 8,018 milhões. Em 2013, na minha própria gestão, ano em que estivemos na série A da Timemania, já foi R$ 12,829 milhões. E eu já deixei para Gustavo um pouco mais do que isso no orçamento, que ele conseguiu transformar, por mérito de Gustavo dentro de campo, com a Copa do Nordeste, em que foi 3.°, e com a Copa do Brasil, em que ele andou bem, foi campeão estadual... Na realidade, no futebol, o pecado de Gustavo foi ter caído naquele momento, mas ele vinha de um ano fantástico. Então na hora em que você deixa dessa forma, e da forma que eu deixei o América, pegando com uma dívida absurda de FGTS, e zero. Deixando liberadas as receitas da Timemania, liberadas as receitas de todos os aluguéis, um patrocínio da Caixa fechado entre mim e Rubens para o ano seguinte se a gente continuasse na Série B, receita de Nordestão e de Copa do Brasil que para mim é obrigação, não obrigação para o América, obrigação para América e ABC. Você estar fora da Copa do Nordeste para mim é um absurdo, pelo menos na minha opinião. Tem que ter uma zebra aqui e acolá, mas não ficou sendo assim. No meu último ano mesmo, o ABC não participou. No caso, no ano subsequente, em 2014, ele não participou porque a final foi América x Potiguar. Então, na hora em que você deixa o clube organizado como gestão, o América estava preparado ali. Deu esse azar - enfim, não posso dizer o que foi - deu esse azar de não ter permanecido na Série B. (...) Eu peguei com 680 sócios torcedores. Entreguei aquelas filas que duravam mais de 10 dias dentro do América para fazer sócio torcedor. Entreguei com 5 mil e poucos sócios. Na conta do sócio torcedor, porque é um cartão, entre 12 meses, tinha R$ 1,3 milhão entregue, mais a venda de Norberto praticamente certa, mais 200 mil euros de Isac, que vieram entrar na gestão de Beto, mais um contrato da Arena das Dunas que garantia ao América R$ 100 mil/mês, e se o América tivesse tido competência para vender as cadeiras que eram do contrato do América, teria mais, pelo menos, perto de R$ 1,5 milhão/ano. (...) Eu acho que ninguém teve o sacrifício de passar 2 anos jogando fora de Natal. Eu fiz um acordo com Gustavo. (...) Eu disse: "Gustavo, deixe eu participar como presidente na Arena das Dunas, da inauguração, porque eu não tive o prazer de a não ser de jogar em Natal no Frasqueirão e ter sido inclusive campeão." E aí quando eu ia jogar na inauguração da Arena das Dunas, foi adiada. Aí a posse já estava lá. Enfim, eu acho que esse sacrifício e os números, eu posso dizer isso.

Profissionalização
Você falou dois modelos e eu acho que existem três. Existe o modelo do América, que é o mais arcaico possível. Existem um modelo, que ainda não é o... Inclusive Beto Santos disse isso, quando de sua saída, e ele foi muito feliz. O América daquele jeito, a cada 10 presidentes, um ia dar certo e o restante ia tudo... Existe um modelo de uma gestão que está se preparando, que se profissionalizou e está se preparando para ser uma empresa. É o caso de Ceará, Fortaleza, Bahia, Flamengo, que eternamente não pagava jogador, Palmeiras e por aí vai. Nenhum presidente diretivo vai conseguir isso sem o presidente do Conselho. Não tem como. O América chegou a ter, com a ajuda de Clovis Emídio e Paulinho Freire, quando da posse de Zé Maria, para oxigenar o Conselho... - em especial, Clovis e Paulinho Freire - o Conselho chegou a ter 250 pessoas. Em 2012, pela falta de reunião do Conselho, eu fazia uma reunião de amigos lá no Sal e Brasa, de dois em dois meses. Então, acabou o primeiro ano da minha gestão, eu recebi uma placa do Conselho Deliberativo, de presidente do Conselho, o Dr. José Rocha. Com mais dois meses, eu era um inimigo porque eu sabia o sofrimento do América jogar fora e porque tinha um contrato fabuloso para o América jogar na Arena das Dunas. Fabuloso que eu digo, para não ser mal interpretado, bom para o América e bom para a Arena das Dunas. Na época, foi bom para o ABC, que depois não pôde cumprir e eu não sei quais foram os problemas do ABC mas não foi cumprido. Enquanto os torcedores e os conselheiros começarem a fazer essa comparação, porque tudo se vê hoje na internet... Então, eu passei 7 meses estudando como eu seria presidente porque eu não tinha maturidade. Eu era dirigente, falava mal do ABC, estava errado, falava mal de torcida, era muito emocional. Então, tinha que baixar a temperatura para poder ser. E hoje o América não vai conseguir ultrapassar essas fronteiras. O estatuto do América está, desde a entrada desses conselheiros, sendo analisado. Há 9 anos. Na última vez, botaram uma comissão lá - olhe como são as coisas - eu sugeri o nome de Léo. "Presidente, bote o nome de Léo para fazer parte dessa comissão do estatuto". Na época, foi rejeitado. Hoje ele é o presidente eleito pela situação. (...) Eu não conseguiria fazer mais do que eu fiz sem pensar grande. Tudo na minha vida eu sempre pensei grande. O América precisa dessa reformulação. Ninguém pode ficar "ad eternum" num cargo. Isso não existe. Acho inclusive que no América era para ter no máximo duas reeleições para presidente... Para presidente a gente nem consegue. Na realidade, isso é um problema, até um especialista nisso, que ataca muito as bases. O América, se for contar os últimos 15 anos, deve ter tido 15 presidentes. Então alguma coisa está errada. Quando um Conselho para aclamação de um presidente, que chegou a ter 250 pessoas, só tem 87 pessoas adimplentes, quando pessoas de alto gabarito - juízes, contadores, médicos - disseram que não voltam mais, um cara como Tibúrcio Batista (...) O Conselho do América não decide nada. Chega lá e "Fica calado quem não quiser. Bate palma quem quiser."  Se o cara for pedir para dar uma vista de conta, é uma confusão. Uma discussão que eu soube um dia desses que Itaécio teve porque foi pedir uma vista. Eu acho que isso era para o cara ficar super satisfeito. O cara quer ver as contas? "Veja mesmo, meu amigo." Então a gente vai precisar se modernizar. Não pode continuar da forma que está. Marcelo Sant'Ana, que está aí no ABC, conseguiu isso porque ele teve o Conselho do lado dele para mudar as coisas. Sobre profissionalismo, eu tenho visto Léo falando muito sobre isso, e eu discordo demais dele. Por quê? Se ele está dizendo que vai ter profissionalismo, não tinha profissionalismo nessa gestão passada?  Como é isso? Eu não estou conseguindo entender. Agora eu vou dizer como foi o meu profissionalismo. "Leandro Sena, venha cá, cuidar das bases." Depois Leandro evoluiu. Perdão, ia ser executivo de futebol. Depois ele disse: "Não, eu quero ir para o campo." "Sérgio Papelin, vem para cá." Então eu fui o primeiro presidente a contratar um escritório de advocacia, que inclusive é de Miley God Rocha. Pagar, para ninguém estar abnegado fazendo. Tinha o abnegado que supervisionava. "Odeman, você vai ficar supervisionando o marketing",  que teve uma ajuda de Amanda, veio Canindé, e os números já falam. Se o América foi uma vez para a série A da Timemania, o marketing não estava errado. Se o América pegou com 680 sócios e entregou com 5 mil e pouco, o marketing não estava errado.

Momento do racha
Na votação da Arena das Dunas. E olha que besteira! Eu vejo muita gente falar em vaidade no América. No América eu não veja uma vaidade que o cara torça contra o outro. Eu não acredito que tenha presidente que torça contra, dirigente... Eu sei porque o coração na hora decisão bate e o cara quer que ganhe. O que existe é que, "a priori", tinha uma disputa entre Jussier e Zé Rocha e Eduardo, que, num primeiro momento,  toda vida que um ficava de um lado, o outro ficava do outro, e ninguém queria saber se tinha razão. Por exemplo, quando da venda da Pousada do Atleta, Eduardo, dessa vez acertando, queria um estádio. Foi derrotado. Jussier liderava um grupo que queria. Quando da Arena das Dunas, inclusive foi Jussier que me ensinou que eu poderia exigir uma audiência do Conselho. Então Jussier ficou do lado da Arena das Dunas. Então esse contrato da Arena foi, depois dos adquirentes de camarote, quem mais deu dinheiro à Arena América. Então a gente foi para uma votação que foi 98x4, por exemplo. Depois, uma votação para ver se todos os clássicos teriam que ser na Arena. Eu disse: "A Arena só aceita se for assim." Ganhamos essa de novo. E o grande erro: fizeram um acordo para não ter a terceira votação para em vez de ser 15 anos de contrato, que o América agora estaria com o contrato da Arena, o contrato da Constel, aí disseram "Não, faça aí de 5 anos". Esse, Jussier estava de um lado, que eu acho que era o certo (...) Foi Jussier que me chamou a atenção: eu não tenho a minha foto lá. (...) Eu fui unanimidade no Conselho e não tenho vaidade. (...) Por exemplo, eu soube que as pessoas não queriam votar em Léo porque ele era meu primo. (...) Essa questão do nome do estádio, eu acho que foi uma coisa ditatorial, desnecessária, e eu, por exemplo, eu votaria no nome do Dr. Zé Rocha, tranquilo. Acho que é merecimento. Foi quem lutou, junto com Medeiros, os dois principais. (...) Eu não tenho lado no América. O meu lado no América é o América e pronto.

Voto do sócio torcedor
Eu acho que o sócio torcedor com mais de 12 meses de pagamento em dia deveria votar. Mas votar em quem? Em conselheiros que fossem candidatos a presidente. O Conselho homologasse. Cada conselheiro tinha que ter pelo menos 2 anos, 3 anos de conselheiro para poder se candidatar. O Conselho homologava as candidaturas e quem votava era o sócio. (...) Como é que está dando certo em todo lugar e vai dar errado no América?  (...) Se tocar nesse assunto [no Conselho], é uma confusão. Não vai para a pauta, o estatuto não vem, não precisa dizer nada. (...) Dessa vez é porque eu estou do lado, então "Vamos ficar do outro". Acho muito bom que outros presidentes e outros dirigentes que eram contra, hoje são a favor. (...) Se isso fosse para votação no Conselho hoje, era uma lavagem. Tem que trazer o conselheiro de volta. O que é que justifica um cargo nobre antigamente, de ser conselheiro do América, os caras estarem saindo assim, por nada? Tem que saber. (...) Já foi um glamour ser presidente do América e do ABC. Hoje a gente fica atrás de candidato. Como é que vem um aventureiro? Isso é balela. Isso é fantasia. Aventureiro para entrar no Conselho com a aprovação de 3 pessoas do Conselho, para depois de 2 anos, ser candidato a presidente e ainda ganhar? 

Sobre ser presidente do Conselho
Eu não me acho competente para isso. Não gosto de ler parte jurídica. Acho que tem 3 nomes melhores, bem melhores: Diogo Pignataro, preparadíssimo, advogado, participou das últimas gestões c Stomo vice jurídico, o ex-presidente Hermano Morais, fantástico presidente, como pessoa, e o ex-presidente Clovis Emídio, que fez o começo da profissionalização do América. O América na minha gestão foi totalmente profissional. Não tinha esse negócio de "Ei, só você resolve jurídico", não. "Vai no escritório." Que foi a exclusão de muita gente que não fazia nada e Clovis comprou inimigo por causa disso. Porque no América tinha o cargo de não sei quem, o cargo de não sei quem mais lá... Parece que está existindo isso hoje no ABC, eu ouvi por aí. (...) Hoje o América tem pelo menos de imediato 10 pessoas para sair amanhã. 

Finanças do América
Eu me preocupo muito com algumas palavras. Eu mostrei os números meus. Eu entreguei com R$ 13 milhões de orçamento e com R$ 1,3 milhão na conta do sócio torcedor. Eu escutei uma entrevista de Eduardo dizendo, não só uma vez, que o América estava saneado. Olhe qual é o saneamento. O América está com um TAC desse que o ABC tem com a academia. Não recebe dinheiro de aluguel da academia. O América não recebe a Timemania porque deve mais de R$ 1 milhão no FGTS. Deve também no INSS. Como é que em 6 anos... A gente não devia nada. No FGTS devia menos de R$ 100 mil. No INSS, um parcelamento que eu fiz. Não devia nada no IPTU da Sede. O América tem R$ 207 mil antecipados - R$ 200 mil são o valor, e R$ 7 mil são juros, ou uma taxa, sei lá o quê que a CBF cobra - da Copa do Brasil. Esse outro número eu não sei precisar, mas tenho quase certeza de que são R$ 400 mil da Copa do Nordeste. O América acaba o contrato da Arena das Dunas - que eu não sei por que só foi feito de um ano - em dezembro. Eu não estou vendo a receita do América. Tem a antecipação da Copa do Brasil, tem a antecipação da Copa do Nordeste(...) E o mais grave: a Constel tem 6 meses de carência para começar a pagar o que o América tem direito, que são mais ou menos R$ 180 mil/mês. (...) Sabe quanto vai ser antecipado desse dinheiro até dezembro? Meio milhão de reais. Só de antecipação aqui a gente tem R$ 1 milhão. E não tem receita de Timemania, e não tem receita de aluguel da academia, que é antiga, a Sede não está alugada. (...) A situação do América é muito, muito difícil. Para completar, se fica brigando com a torcida. Sabe quantos sócios o América tem? (...) Para o meu desespero, 300 sócios. Como é que em Goianinha a gente tinha 680? Em 2014, a gente tinha 5 mil e pouco. 300 sócios, gente! Alguém não está vendo que não é só a Série D? 

Participação na gestão de Leonardo
Eu fui a duas negociações com ele porque ele me chamou, pontuais. Léo não pode agradar gregos e troianos. Eu não estou falando de mim e outro dirigente. O ideal é que Léo convença esse dirigentes que a torcida vai ter que ir para dentro. Então ele vai ter que saber se ele vai ficar do lado da torcida ou de cardeal. Ou se cardeais virem torcida, porque isso é o ideal. (...) A torcida tem que jogar junto, como vai para o estádio. O América com 300 sócios consegue botar 10 mil pagantes sem ir para as finais.

Contrato com a TV
Pode ser uma boa prática, desde que o dinheiro entre. Você não pode chegar na hora do filé e dizer "Ei, me dá o campeonato para cá". Olha que negócio danado! "Tudo bem. Você quer o campeonato? Então você compra aqui a final e compra o campeonato do ano que vem, e mais dois anos." Por aí. Eu, por exemplo, fui o único a não assinar o contrato antigo do Esporte Interativo. Todo mundo assinou por causa de uma mixaria. Os outros clubes não recebiam, o ABC recebeu R$ 300 mil, e mais R$ 40 mil/mês. Aí eu disse " Não, eu não vou assinar isso, não. No jogo do América eu ganho muito mais." Só que Gustavo teve uma decisão e isso valeria a pena. Eu disse "Então, Gustavo, vamos fazer o seguinte: eu assino, eu fico com a metade dessa cota e você fica com a metade dessa cota." Porque eu tinha uma intenção de fazer uma limpa em tudo que fosse tributo e dívida do América. Vou pedir licença para dizer o número de acordos que foram feitos. Foram 29 (...) entre atletas e funcionários.

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