sexta-feira, 18 de setembro de 2015

País de manés

Mané é como o brasileiro denomina o oposto do malandro. Enquanto o malandro é tido como esperto, conhecedor de todo tipo de falcatrua e desonestidade que o levam a se dar bem na vida, o mané é o otário que acha que as leis devem ser cumpridas.

O Brasil é um país de manés. Mas também é um país de malandros. Quem não é mané é malandro. E vice-versa.

A essa altura, todos já devem saber que a obrigatoriedade de carregar um extintor de qualquer tipo no carro caiu. Mas antes disso havia a obrigatoriedade de troca dos extintores do tipo BC para novos do tipo ABC. Milhares de manés saíram à caça de tais extintores, em falta no mercado. Agora, faltando menos de um mês para o final do prazo de adequação, o CONTRAN descobriu o que todo mundo já sabia: extintor no carro sem que o usuário tenha treinamento adequado é balela. Então, os manés que gastaram R$ 150 para comprar um extintor ABC já podem se lamentar. Mas é melhor nem se lamentar muito! Pode ser que alguém surja com a ideia de obrigar motoristas a fazerem cursos caríssimos de combate a incêndio... 

Feliz deve ter ficado a indústria de extintores com a desova de todo o seu estoque. Quando outro produto seu encalhar, podemos nos preparar para a nova obrigatoriedade. Quem sabe agora seriam extintores em residências?

Isso me lembra a palhaçada ocorrida em 1998-1999 com a história dos kits de primeiros socorros. Os problemas de acidentados no trânsito do Brasil seriam resolvidos com a obrigatoriedade de todo mundo portar uma caixinha com gaze, esparadrapo e mercúrio cromo. Brilhante! Milhões de manés correram para comprar os tais kits com ágio de até 300% para não levarem multa. Aí descobriu-se o óbvio: os tais kits poderiam matar mais gente se todo mundo resolvesse bancar o paramédico sem o treinamento adequado. E o kit, assim como o extintor, caiu. Não sem antes deixar sua indústria extremamente satisfeita com a desova de estoque.

Nem nos EUA, nem nos países europeus há tais obrigatoriedades. Mas somos mais realistas que o rei. E sabemos que sempre haverá como deixar a conta para os manés. Exatamente como essa ultrajante volta da CPMF.

Assim é o Brasil, o país que valoriza a malandragem e ridiculariza os honestos. As leis aqui são feitas aleatoriamente (ou seria má-fé mesmo?) e a toque de caixa. Para que estudos? Vamos de tentativa e erro! Um dia acertamos. Por isso somos o único país do mundo com uma classificação peculiar de leis: as que pegam e as que não pegam.

Como bem ouvi de um aluno, este não é um país sério. Não é mesmo. Um país cujo presidente assume em rede nacional a prática de caixa 2 em campanha sem qualquer constrangimento por saber que não haverá qualquer consequência não pode ser sério. 

Quem não é malandro leva o país nas costas. Sem dó nem piedade. Sem mordomias. Sem merecer um pingo de consideração. Pagando pela gastança e pelos erros de cálculo alheios. Afinal, como bem diz Diogo Nogueira, malandro é malandro e mané é mané. 

Entendeu, mané?

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