"It is not in the stars to hold our destiny but in ourselves." A célebre frase de William Shakespeare em sua obra Júlio César traz que o nosso destino é feito por nós mesmos, nada estaria escrito nas estrelas. Será?
Sou conhecida pelo enorme ceticismo a respeito de quase tudo, embora tenha grande respeito pelas ideias alheias. Na Bíblia, diria que sou São Tomé - preciso ver para crer. Entretanto, o polêmico vestido que era preto e azul, mas que meus olhos insistiram e ainda insistem em ver branco com dourado, só aumentou em mim a certeza da veracidade do aforismo do filósofo grego Sócrates: "Só sei que nada sei."
Sobre religiões, discordo de todas, embora também concorde em alguns pontos. Existiria princípio mais bonito do que "Ama teu próximo como a ti mesmo"? Apesar de saber que a maioria dos religiosos fervorosos interpretam a regra acima como sendo para amar o próximo, mas só se ele for muito próximo mesmo, da família, e não tenha qualquer "defeito". Mas isso fica para outro texto.
O meu ceticismo me leva a ficar entre ateus e crentes (no sentido dos que creem em Deus). Não posso afirmar que Deus não existe e também não posso afirmar que ele existe. Há evidências para ambos os lados. Não seria eu hipócrita a ponto de negar que, quando a situação aperta, é em algo superior (seja lá o nome que se queira dar) que reunimos forças para prosseguir. Mas acreditar no Deus exatamente como as religiões pregam seria crer que somos meras marionetes num mundo cheio de provações e testes desnecessários, já que o ser superior como onipotente, onipresente e onisciente já saberia todo o desenrolar de todos os habitantes. Tudo não passaria de mero sadismo deste ser. Esquisito.
Quando estou quase certa de que esse papo furado de destino não existe, acontecem coisas que me intrigam. Por exemplo, há tempos não via uma grande amiga. Eu moro no Mirassol e sei que na hora do almoço é um verdadeiro teste de paciência chegar em casa passando pelas ruas do Colégio CEI. É que pais desorientados acham que podem estacionar em qualquer lugar e impedir a passagem dos outros veículos só porque eles não querem andar 200 metros para deixar seus preciosos descendentes. Por isso, evito tal caminho na hora do almoço. Mas num dia desses simplesmente esqueci este detalhe e entrei pela rua do CEI. Resmunguei na hora: "Que danado vim fazer por aqui?" Nem fechei a boca direito e vi essa amiga passar mais à frente com seu filho. Com a parada do trânsito, meu carro ficou emparelhado com o dela e ela correu para me dizer que desde o dia anterior havia pensado em mim porque precisava colocar para frente certos assuntos jurídicos que estavam pendentes desde a última vez que nos vimos (bote tempo nisso!). Quando comentei a respeito da enorme coincidência, já que eu errara o caminho, ela, muito católica, me respondeu: "Coincidência não, amiga. Providência."
Guardei aquilo comigo, afinal, era mesmo intrigante. Se não errasse o caminho, talvez ela demorasse tanto a entrar em contato comigo que até desistisse de resolver sua questão jurídica.
Mais recentemente ouvi uma história real que mais parecia coisa de romance ou de novela. Duas pessoas se conheceram e sentiram-se atraídas mutuamente de imediato. Mas o romance não prosperou porque uma dessas pessoas tinha um compromisso à época. Nada foi feito a respeito, nem mesmo se apresentaram. 10 anos depois as mesmas pessoas se esbarram em local público e, apesar de não se reconhecerem (em 10 anos, a mudança física pode ser radical; daí a regra de passaportes e RGs serem renovados a cada 10 anos), sentiram-se novamente atraídas. Dessa feita, nenhum compromisso servia de obstáculo, mas não houve tempo para apresentações. Milagrosamente, amigos em comum presenciaram aquele momento mágico, perceberam o clima e providenciaram uma apresentação formal em outro dia. Não deu outra: o amor venceu. Apenas algum tempo depois é que essas pessoas perceberam que já haviam se encontrado naquele momento inicial. Coincidência ou destino?
Essas coisas me deixam muito intrigada. Se prestarmos atenção, perceberemos que 5 minutos a mais ou a menos poderiam ter mudado radicalmente o rumo das coisas. Existe mesmo destino? Ou tudo não passaria de absurdas coincidências? Ou será que uma providência de um ser superior poderia interferir em nossas vidas como acreditam as religiões?
Não sei. Só sei que nada sei. Ou melhor: só sei que não malho mais de situações que pareciam acontecer apenas em novelas. A vida imita a arte, ou talvez a arte seja mero reflexo da vida, sem muita capacidade de inovação, mas apenas de mostrar outros pontos de vista.
Também sei que esses acontecimentos abalam e muito as minhas convicções. No entanto, tendo que escolher, fico com Shakespeare: o destino está em nossas mãos.
De todo jeito, só para animar o restinho do feriado, segue música de Tulipa Ruiz para quem acredita em outros tipos de providência. Mas como ela mesmo adverte, é preciso acreditar. Eu prefiro acreditar no amor.
Boa semana!
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