quarta-feira, 6 de maio de 2015

Quanto vale um sonho

Já ouvi dizer que medo é a exata medida das consequências de algo. Quanto maiores as possíveis consequências, maior o medo. Concordo com esse pensamento. Pena não lembrar se tal aforismo tem um autor famoso. De todo jeito, levo a frase como uma verdade incontestável.

Hoje li uma reportagem no G1.com que me fez parafrasear o conceito acima, no entanto, aplicando-o ao que seria um sonho. Sonho é a medida exata dos seus esforços. Pensando bem, melhor seria afirmar que a transformação de um sonho em meta é a medida exata dos seus esforços. Quanto vale um sonho? Quanto mais esforço necessário para alcançá-lo, mais algo pode ser considerado um sonho, e quanto mais alguém de fato se esforça para alcançar algo, mais o sonho vira uma meta.

A reportagem que li traz a história (com H, porque verdadeira) que se passou com um sujeito de Sananduva, RS, e virou destaque com a sua chegada ao Distrito Federal neste mês.

Dos 9 aos 15 anos, ele e mais quatro irmãos eram borracheiros com o pai. Viviam de consertar pneus e lavar carros. Segundo seu relato, mãos e pés chegavam a congelar no inverno por ausência de equipamentos de proteção. "Só restava fazer muito fogo para se aquecer, mas, com isso, os choques térmicos era inevitáveis. Vivíamos com fissuras nas mãos e pés."

Diante das duras condições de vida, sua família acreditava que a única saída possível era a educação e, com muito esforço, os cinco irmãos foram aprovados numa faculdade de Direito a 250 quilômetros de casa. Os estudos foram pagos com um novo ofício que os irmãos tiveram que adquirir: aprenderam a costurar cortinas e edredons e a fazer bordados. Sem dinheiro para outros "luxos", os irmãos trocavam de roupa e de sapatos entre si para não irem vestidos sempre do mesmo jeito para a aula.

Ao conseguir a habilitação, o sujeito passou a trabalhar na área de vendas. Saía todo dia bem cedinho e ia de porta em porta pelos municípios da região vendendo os produtos do novo ofício. O almoço tinha como cardápio algumas fatias de pão caseiro e um pedaço de frango empanado frio ou uma torrada, tudo feito pela mãe. Para acompanhar, um litro d'água numa garrafa pet.

No fim da tarde, era hora de voltar para casa e pegar o ônibus para a faculdade. Nem sempre conseguia tomar banho. Comparecer às aulas geralmente só dava certo em 3 dias da semana. Ficou em prova final nos 10 semestres do curso.

Os colegas, bons seres humanos, emprestavam os cadernos para que ele copiasse as anotações. Livros de doutrina para estudo eram raros. "Aliás, meu 'horário de estudos' era no ônibus, durante as viagens de ida e volta, e aos domingos - os sábados eu usava para fazer vendas nas cidades mais distantes. A necessidade faz a gente se reinventar."

Tentou a Escola Superior de Magistratura aos 22 anos por insistência de um professor. Foi aprovado, mas passou a trabalhar nos finais de semana em escritórios e levava os estudos de segunda a sexta a 400 quilômetros de casa.

Com o fim do curso, neste momento já casado, ele começou a fazer concursos. Chegou perto da aprovação entre 1999 e 2003 nas carreiras de promotor, procurador, juiz estadual e juiz do trabalho, mas desistiu porque nascera o primeiro filho. Somente em 2010 retomou o sonho da aprovação. "Sofri muito para refazer a base do conhecimento que perdi durante aquela 'parada técnica'. Levei um bom tempo para voltar a atingir um 'nível competitivo'. Reprovei em muitos concursos. (...) Logo percebi que, por conta das minhas limitações (...) eu não conseguiria (...)  frequentar cursos preparatórios, estudar por 'doutrina pesada' etc."

Ele então começou a fazer resumos das matérias e a grifar as principais leis para voltar a ter noção das principais áreas do Direito. Fez sinopses de informativos, usou a internet, estudou provas antigas. Terminou juntando mais de 200 quilos de material de estudo - exatamente 34 caixas.


Todo esse material foi agora encaminhado para a reciclagem. Rolando Valcir Spanholo, o ex-borracheiro de 38 anos, tomou posse neste mês como juiz do Distrito Federal. "Naquele momento [espera de cinco horas em confinamento pela prova oral], um filme da vida passa na cabeça da gente. Sem me abalar, em fração de segundos, lembrei-me de cada fase, dos meus pais e familiares, das privações, das quedas, enfim, de tudo que tinha se passado ao longos dos 38 anos de minha existência. Entrei naquele recinto pronto para 'lutar' por mim e por todas as pessoas que, de uma forma ou de outra, acabaram me ajudando a chegar naquele lugar. Não podia decepcioná-los."

"A vida sempre me ensinou que dificuldades existem para serem superadas. Aliás, dificuldades todos têm. Uns mais, outros menos, mas todos enfrentam obstáculos para alcançar seus sonhos. O que diferencia as pessoas é exatamente a forma como elas reagem diante das resistências do cotidiano. Uns se acovardam e se deixam dominar. Outros veem nas dificuldades grandes oportunidades de crescimento, de evolução pessoal."

Ler e não se emocionar com essa história é não reconhecer os grandes feitos de que o ser humano com sua inesgotável força de vontade é capaz. Quanto vale um sonho, qualquer quer seja ele? Quais obstáculos são mesmo intransponíveis? Quem define os limites de cada um? 

A transformação de um sonho em meta (alcançável) é a medida exata dos seus esforços. Reflitamos, então.

terça-feira, 5 de maio de 2015

O técnico do Potiguar 2015

Segundo eleição conduzida pela Federação Norte-rio-grandense de Futebol entre os que militam na imprensa futebolística potiguar, o técnico do Potiguar 2015 foi Josué Teixeira. A justificativa encontrada para tamanho disparate no resultado seria que os votos foram dados antes dos jogos finais. Não sei se é para rir ou para chorar.

Analisemos os fatos até então. Josué Teixeira conduzira o ABC em 7 partidas. Roberto Fernandes conduziu o América por todo o 1.º turno, todo o 2.º turno, além da classificação para as quartas-de-finais da Copa do Nordeste e da classificação inédita e antecipada para a 2.ª fase da Copa do Brasil, isso tudo com N desfalques e sem conseguir repetir escalações. Não seria de maior bom senso escolher o trabalho mais estável e duradouro? Não para a imprensa potiguar, que parece nutrir mesmo uma certa rejeição a Bob, sem falar em tudo mais que seja proveniente do América.

Vejam que nem me referi ao fato de Roberto Fernandes ter sido o comandante de um título histórico, dando ao América o bicampeonato em pleno ano do centenário. Isso nem poderia ser levado em consideração se a votação foi anterior às partidas finais.

Mas o ABC foi campeão do 2.º turno invicto! É verdade. Porém, já naquele América 0x2 ABC ficou muito claro que o time de Josué não parecia ter forças para suplantar nem a marcação americana, nem o volume do ataque adversário pelo que se viu no 1.º tempo. Tantas foram as chances perdidas, que o próprio Josué disse que o jogo teria sido completamente diferente se o América tivesse convertido as inacreditáveis chances perdidas, especialmente por Max. Tanto isso é verdade que ele tentou nos dois jogos seguintes mexer na escalação para evitar o poderio do adversário, mas só conseguiu equilibrar as coisas quando o paraense Dewson inventou a expulsão de Maguinho ainda no 1.º tempo do 1.º jogo da final.

O que explicaria a escolha de Josué? Eis o constrangimento a que imprensa potiguar se submeteu. Trocaram um trabalho inteiro de reconstrução por apenas 7 partidas de deslumbramento. Ou faltou competência para ler o jogo, analisar friamente os trabalhos até então desenvolvidos, ou foi deslumbramento mesmo com a volta do ABC às finais de um estadual. Qualquer uma das soluções tira credibilidade dos eleitores, o que termina por atingir a reputação dos profissionais. E reputação é uma coisa que levamos a vida inteira para construir, mas que desmorona em apenas 5 minutos.

De todo jeito, ficou feio. Ficou tão feio, que jogadores, comissão técnica, presidente e todos os diretamente ligados ao futebol do América simplesmente menosprezaram a premiação da FNF, que se viu ridicularizada até mesmo por torcedores abecedistas nas redes sociais.

Que fique claro que isso não quer dizer que Josué Teixeira não seja um bom treinador. Ou ainda que não preste para mais nada porque seu time foi amplamente envolvido pelo América nos 3 clássicos, especialmente nas finais. Só que são necessários bem mais que 7 jogos, principalmente de um estadual, para que uma análise seja mais realista, para o bem ou para o mal - uma constatação tão simples, de tanto bom senso, mas que parece nem ter passado pela cabeça do pessoal da imprensa de futebol do RN. Agora é lidar com a ressaca moral.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Sobre o alambrado que cedeu

No programa da manhã da Satélite FM, Aquino Neto lembrou o alerta feito por um torcedor do ABC há mais ou menos quatro semanas sobre as condições do alambrado que cedeu. O torcedor, identificado como Almir do Detran, mostrava-se preocupado então com o risco de um acidente com a torcida abecedista.

Vendo o jogo pelo Esporte Interativo, ainda durante a partida, as imagens da torcida americana já transpareciam que aquele pedaço do alambrado apresentava grande fragilidade com o hábito de alguns torcedores de assistir ao jogo nele encostado.

Não deu outra. Felizmente, ninguém se feriu gravemente. Mas vem dor de cabeça por aí. O estádio terá condições de receber torcedores naquele setor no jogo da próxima sexta?

As carências

Passadas as emoções da final do centenário e conquista do bicampeonato pelo América, eis que restam as competições nacionais: Copa do Brasil para ABC e América, Série B para o ABC e Série C para o América. 

Dizem que o estadual não serve de parâmetro. Acho que serve sim. A tendência (eu escrevi "tendência") é de que aquilo que não deu certo nessa competição não dará nas nacionais. Entretanto, não é hora de partir do zero, mandar todo mundo embora e fazer outro time. Assim jogar-se-iam fora o planejamento traçado e o trabalho até então desenvolvido para que um novo time fosse montado.

Para o ABC, o buraco é um pouco mais embaixo. O nó imposto por Roberto Fernandes com uma equipe de Série C a uma equipe que vai disputar a Série B acende um grande alerta para a necessidade de reforçar o elenco. Mas reforçar com jogadores que cheguem para ser titulares, não para completar o elenco, embora entrem aos poucos para não desmontar a equipe. Josué Teixeira já fazia esse alerta ainda antes dos jogos das finais: " Não adianta achar que este elenco aguenta uma Série B." Meias e zagueiros são para ontem.

No América, apesar da disputa ser num nível teoricamente mais fácil e com um calendário mais elástico, o que deve diminuir sobremaneira os problemas de lesão, embora o nível dos gramados seja motivo de preocupação, as carências já se apresentavam desde o estadual. As duas laterais são cruciais. Na direita, só há Diogo. Na esquerda, o problema de desempenho é tão grave que Álvaro foi improvisado por ali nas finais. Um volante a mais ante o risco de lesão de Zé Antonio Paulista e de Tiago Dutra não seria uma má pedida, especialmente se a ideia for utilizar 3 de uma vez (não acredito).

Confesso que não acredito na renovação com Daniel Costa e especialmente Max. E o América já se movimentou. Chegou o bom Clébson e, segundo José Jorge, Luiz Eduardo, artilheiro da Caldense-MG, vem aí. Por sinal, ontem saiu ovacionado pela torcida mineira na final contra o Atlético-MG. Ainda segundo JJ, caso Max não fique mesmo, outro atacante ainda será contratado.

De todo jeito, o tempo urge. O América volta aos gramados contra o Atlético-GO no dia 12/05, na Arena das Dunas, pela Copa do Brasil e estreia na C no dia 17/05, em Marabá, contra o Águia. O ABC tem ainda menos tempo para suprir suas carências: sua estreia ocorre na próxima sexta, às 19h30, no Maria Lamas Farache, contra o Oeste-SP.

Torcer faz parte

E faz mesmo do cotidiano do ser humano. Torcemos, fundamentalmente, para que as coisas deem certo. Torcemos pela felicidade própria, de amigos e de familiares. Torcemos pelo sucesso de cantores favoritos. Torcemos até quando estamos vendo qualquer competição esportiva na TV. Qualquer mesmo, até golf, uma competição chiquérrima!

Por isso acho tão engraçado quem trabalha com futebol na imprensa, em sua maioria, querer esconder o time de seu coração. Todos temos um time de coração, nem que seja por uma leve simpatia, aquela distante mesmo, de quem só ouve falar do time quando vence e não sabe o nome de um só jogador.

E ainda que todos tenhamos um time de coração, também adotamos um time de ocasião, aquele que participa do evento a que estamos assistindo no momento. Ver uma partida entre Jabaquara x XV de Piracicaba nos faz escolher inconscientemente um dos dois naquele momento: ou o mais fraco, ou o que demonstra mais empenho. Não há como passar incólume: é do ser humano.

Aqui em Natal, por exemplo, a imprensa é majoritariamente formada por torcedores do ABC, nem que sejam simpatizantes. E não é nada difícil apontá-los. Basta aguardar uma derrota alvinegra. É que o torcedor costuma olhar apenas para o seu time. Se vence, é o melhor, sem que haja falhas do adversário. Se perde, a falha foi do seu time; nada de mérito do adversário.

Assim se deu a histórica conquista no ano do centenário do América: "Josué se perdeu, Josué mexeu errado, Josué desmontou o time..." e por aí vai. Josué apenas constatou, desde a vitória do seu time no clássico do 2.º turno, que seria muito difícil segurar a boa qualidade americana. E do outro lado havia uma cobra criada em pressão: Roberto Fernandes, que sabia exatamente onde estavam as falhas de seu time e as do adversário. Tanto que o América foi superior nos três últimos clássicos, apesar de ter perdido um e ter permitido o empate (com um a menos, diga-se de passagem) em outro.  Mas desde sábado a análise uníssona firmou-se em como o ABC perdeu o título.

Ainda na semana passada já havia comentarista dizendo que Roberto Fernandes entraria para não perder os jogos. Gente, esse nunca foi o estilo de Roberto Fernandes! Uma análise dessa devia envergonhar o autor. 

Em 2012, o presidente Alex Padang finalmente atendeu o apelo da torcida americana, que há anos clamava para que árbitros de fora viessem apitar os jogos do estadual ante os erros (?!) escabrosos que insistiam em acontecer em clássicos e jogos decisivos, 99% deles contra o América. Naquele 2.º turno, o América desembolsou muito com árbitros FIFA em todos os jogos. Só assim acabou com a fila na competição e esteve em todas as finais de lá até aqui, tendo sido campeão em 3 delas, sendo a conquista do bicampeonato no ano do centenário a maior delas.

Pois sabem qual é a campanha agora? Querem que a FNF institua uma taxa de míseros R$ 10 mil para cada pedido de arbitragem de fora. Isso fora as despesas normais com um árbitro FIFA, que já chegam aproximadamente a esse valor. Para quê? Para que o América ou se lasque ainda mais nas finanças, ou pare de pedir árbitros FIFA para seus jogos. A quem interessa uma campanha dessa? A quem interessa criar um obstáculo maior ao exercício de um direito pelo América? Se contra fatos não há argumentos, as campanhas do América desde que tomou a decisão de exigir árbitros FIFA pelo menos para os clássicos e finais demonstram seu acerto. Se um árbitro FIFA é bem mais qualificado pelo nível de exigência nos seus testes, por que há tanto interesse em impedir sua escalação em jogos do América?

Como dizia Jesus, quem tiver olhos para ver que veja! Torcer faz parte, minha gente. Ser imparcial, ante a profissão escolhida, seja de jornalista, radialista ou árbitro de futebol, também.

domingo, 3 de maio de 2015

Zé Vanildo: "Temos que entender que futebol é assim"

Segundo o Blog Marcos Lopes, foi esta a frase pronunciada pelo presidente da FNF José Vanildo antes de parabenizar o América pela conquista do bicampeonato no ano de seu centenário.

A que será que o presidente se referia? Como seria o futebol? Teria ele se referido ao bom futebol apresentado pelo América? Ou na verdade apresentava um certo desapontamento pelo fato de o ABC, favoritaço segundo meio mundo, ter perdido mais uma vez em casa? Leia e tire suas conclusões.

"Termos que entender que futebol é assim, o América está de parabéns. Quem não acredita em campeonato estadual tem que rever os seus conceitos. O estadual é o início de tudo e os clubes estão de parabéns."

América, bicampeão no centenário

Os sinais eram claros. O jogo ABC x América seria de muita pressão para ambos os lados. O ABC porque está na fila desde 2011, desde 2012 não chegava a uma final, perdera a última dentro de casa e 2015 é o ano de seu centenário. O América porque a torcida não esqueceu o papelão do rebaixamento no ano passado após uma temporada de grandes conquistas e também por ser 2015 o ano de seu centenário.

Não era jogo para qualquer um, era um verdadeiro teste para cardíaco, como analisei por aqui durante a semana.

Do lado do ABC, um treinador que dava sinais claros de que acusara o golpe de ter feito um péssimo primeiro tempo ainda naquele clássico do 2.° turno, vencido por seu time. Ali ficou claro que o adversário era capaz de produzir um volume de jogo assustador para Josué Teixeira, que não soube bem como reagir. Foi criticado e reagiu como se estivesse amuado e fez tudo que não se deveria fazer numa semana de clássico, inclusive dizer abertamente que seu elenco não aguentaria uma Série B. O comandante acusou o golpe do adversário. E o ABC sentiu.

Do outro, o mito. Roberto Fernandes adora esse tipo de situação. É quando ele se espalha e ninguém o encolhe mais. A imprensa batia na tecla de que o time do ABC jogava um futebol irresistível e que era enorme a vantagem alvinegra por jogar em casa. O jogo da Arena seria neutro. Deu a Bob tudo que ele queria. 

Aliás, só a Bob não. Muitos jogadores do América gostam dessa pressão, como eu citei por aqui nessa semana. Não deu outra: os dois jogadores mais pressionados da partida por já terem jogado pelo ABC decidiram o jogo. Cascata achou Flávio Boaventura sozinho na pequena área do ABC e ele agradeceu o cruzamento certeiro cabeceando para baixo a bola, que foi morrer no fundo do gol de Saulo. Gol do desabafo do zagueirão, cuja contratação não foi bem aceita na época por causa de uma certa foto que vazou nas redes sociais, mas cujas técnica (indiscutivelmente aprimorada em Portugal) e raça foram conquistando jogo a jogo a torcida americana, e as vaias foram virando aplausos de reconhecimento por sua entrega em campo, de longe o melhor zagueiro deste início de temporada. Flávio comemorou o gol do centenário sobre o ABC na casa do adversário como quem enfim exorcizou um fantasma e caiu de vez nas graças da galera do Mecão, que imediatamente o perdoou por qualquer erro de um passado agora cada vez mais distante.

Deu a lógica. Um jogo como esse é para quem se sente à vontade em tal situação. É para quem adora a pilha dos outros para usar como seu combustível. Os ditos amarelos ou amarelões se apagam em situações que tais, exatamente como falei por aqui durante a semana.

Mais uma festa da torcida americana no Frasqueirão, desta feita com um título que vale por 100. Ser campeão no centenário entra para a história e será lembrado para sempre. O América então voltou a conquistar um bicampeonato, o que há mais de 10 anos não fazia. E ainda quebrou a escrita recente de que o campeão do 1.° turno não leva o título. 

O domínio do América no futebol do RN tem sido tamanho que se não fosse pela desgraça do Barrettão em 2013, quando perdeu nos pênaltis, a comemoração atual seria pelo tetracampeonato. 

Ao ABC restou a volta à Copa do Nordeste após perder por dois anos a vaga para Potiguar e Globo, respectivamente, e o fim da fila para disputar uma final (a última foi em 2012), além do artilheiro, Kayke com 7 gols, salvo engano.

Ainda sobre o jogo, o ponto negativo fica para o árbitro Anderson Daronco. Que papelão, hein? Faltando 40 segundos para acabar o jogo, uma torre de iluminação se apaga e o cara obriga todo mundo a esperar 20 minutos para ver mais 40 segundos de jogo. Pega a bola e encerra a partida, meu filho! Torcidas fervendo e sem ter o que fazer na arquibancada são um passaporte para confusão nos dias atuais. Faltou bom senso ao gaúcho, que deixou Rafael Miranda distribuir todo tipo de pancada durante o jogo, inclusive uma cotovelada em Adriano Pardal sem nem um sermãozinho nele, quanto mais cartão amarelo ou vermelho. E ainda expulsou Tiago Dutra por ter levado um chute de João Paulo. Isso mesmo! Tiago Dutra foi expulso sem ter feito coisa alguma. Só não ficou pior porque o perdido árbitro expulsou o autor da agressão e deixou ambos os times com o mesmo número de jogadores.

Quanto à torcida do América, chegou a hora de fazer o que ela sempre soube fazer: abraçar o time e empurrá-lo para o acesso no campeonato brasileiro, o que seria um final pra lá de feliz no ano do centenário. Agora 99% dos jogos acontecerão no domingo, o dia por excelência do futebol. E ainda tem Copa do Brasil! Sem desculpas, seja Sócio Mecão. É mais barato, muito mais prático (com o cartão que sai na hora, o acesso a todos os jogos com mando de campo do Mecão já está garantido sem ter que pegar ingresso em canto algum), ajuda o torcedor a ter planejamento financeiro também com os gastos do futebol (todo mês o mesmo valor) e até possibilita a compra da camisa do centenário (essa do bicampeonato histórico) por menos de R$ 7 por mês. Mas o mais importante: você vira patrocinador master do Orgulho do RN nesse período de vacas magras do futebol brasileiro.

E que venha o Brasileiro!

sábado, 2 de maio de 2015

Potiguar 2015: ABC x América às 16h

Local: Estádio Maria Lamas Farache (transmissão ao vivo e em HD para todo o Brasil pelo Esporte Interativo)

ABC (4-3-3): Saulo, Reginaldo, Suéliton, Leandro Amaro, Lima; Fábio Bahia, Rafael Miranda, Erivelton; Chiclete, Fabinho Alves, Kayke. Técnico: Josué Teixeira.

América (4-4-2): Busatto, Diogo, Flávio Boaventura, Cléber, Álvaro; Judson, Thiago Dutra, Zé Antonio Paulista, Cascata; Tiago Potiguar, Max. Técnico: Roberto Fernandes.

Árbitro: Anderson Daronco (FIFA)
Assistentes: Izac Márcio da Silva Oliveira (CBF) e Aldeilma Luzia da Silva (CBF)

Destaques do ABC
Saulo - tem feito milagres.
Reginaldo - boa opção ofensiva.

Destaques do América
Diogo - passes e cruzamentos precisos.
Max - atacante que não perdoa.

Prognóstico: verdadeiro jogo de xadrez entre Josué Teixeira e Roberto Fernandes, a final do centenário vai exigir até dos torcedores nervos de aço, especialmente pela possibilidade de ser definida nos tiros livres da marca do pênalti. Arbitragem também no fio da navalha pelos erros da 1.a partida. Enfim, pode dar qualquer resultado. Mas Roberto Fernandes gosta deste tipo de jogo, na pressão. Vitória do América.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

De quem é a vantagem

Dizem que clássico não tem favorito. Tem sim. Só que o favoritismo, principalmente no futebol, não é uma ciência exata. Ele pode ou não ser confirmado no campo de jogo.

Basta verificar uma casa de apostas para saber se há ou não favorito para um jogo. Isso é uma festa na Inglaterra, por exemplo.

Um clássico valendo título tem muito mais variantes a condicionarem este favoritismo, mas ainda assim é possível apontar quem chega com pinta de campeão, mesmo que apenas levemente superior ao adversário. Negar isso é não dar a cara para bater e adotar o por vezes chato "politicamente correto".

Campo de jogo é um dos fatores. Historicamente, mandantes vencem em seus domínios. Empates são um pouco mais frequentes do que vitórias dos visitantes. Por quê? Acho que isso se deve ao fator conforto: o mandante se sente bem à vontade em jogar onde normalmente atua. O visitante tem apenas 90 minutos para processar detalhes como gramado, vento, dimensões. Torcida também pode influenciar o desempenho de ambos os times e da arbitragem, seja positiva ou negativamente. É a tal da pressão. 

Outro fator é a própria reação de jogadores e treinadores à pressão. Como em todos os campos da vida, há os que só rendem na pressão. No caso de jogadores, são aqueles conhecidos como decisivos. Às vezes não passam de jogadores regulares durante todo o campeonato. Mas gostam de ser provocados, desafiados, postos à prova. Numa final então, viram gênios e são fundamentais à conquista. 

Há também os que desaparecem na pressão. O descontrole emocional os fazem trocar os pés pelas mãos e ter desempenho medíocre. Estes são normalmente tidos como amarelos ou amarelões, já que falham nos momentos cruciais, ainda que tenham arrebentado até então.

As campanhas dos envolvidos são outro fator. Não que entrem em campo na hora do jogo, mas influenciam na confiança que cada um terá para buscar o resultado.

Nesta final ABC x América, a pressão corre solta, de todos os tipos e em todas as direções. Final já é pressão. Num clássico, é verdadeiro teste para cardíaco, como gosta de dizer Galvão Bueno. No Potiguar 2015, o América tenta o bicampeonato; o ABC, o fim de um jejum de 4 anos. Tudo isso ficou elevado à máxima potência: é a final do ano do centenário dos clubes natalenses, título que será exaltado por muitos e muitos anos vindouros.

Sobre as campanhas, tudo igual. Cada um com um turno de forma incontestável, embora o campeão do 2.° turno normalmente esteja mais embalado, o que não se confirmou no 1.° jogo da final.

No campo de jogo, a vantagem é do ABC. Conhece seus domínios e terá mais torcedores nas arquibancadas.

Na questão pressão, uma certeza. Boa parte do elenco americano e a comissão técnica já provaram que reagem bem à pressão. Max, Cascata, Flávio Boaventura, Daniel Costa, Thiago Potiguar, Adriano Pardal e, claro, Roberto Fernandes parecem gostar de provocações e desafios. Do outro lado, o destaque fica para a frieza de Saulo, Reginaldo e Fabinho Alves 

De quem é a vantagem então? A do ABC é claramente pelo mando de campo e pela confiança da campanha sem derrotas. O fato de o América estar mais habituado à pressão pode pesar na hora do jogo, como ficou claro na 1.a partida. Só saberemos depois do apito final. E olhe lá se esta final não reservar uma interminável e angustiante disputa de pênaltis.

Como não sou de ficar em cima do muro e considerando os últimos acontecimentos, fico com a capacidade que Roberto Fernandes tem de agigantar seus times e desestabilizar seus adversários em situações como essa. Cravo o América como favorito.

Indubitável mesmo é que o futebol do RN merecia uma final dessas no centenário de seus maiores clubes. Que vença o melhor!

Bob e a preparação para a final

Em entrevista coletiva divulgada pelo site do América, o técnico Roberto Fernandes falou sobre a preparação para a grande final centenária.

"[Com] um intervalo de apenas 2 dias de um jogo para outro não tem outra coisa a fazer a não ser recuperar e descansar. Então, como o hotel tem uma infraestrutura espetacular e nos dá opção não só de academia como de campo reduzido para aqueles que não atuaram, nós estamos utilizando isso aí. [E para aqueles que atuaram] estamos também fazendo o trabalho de recuperação na musculação, usando também sauna, usando a hidromassagem. Agora é recuperar. Não adianta [porque] você não vai fazer o que não fez em 2 dias, principalmente num desgaste emocional e físico de uma equipe que jogou com 1 a menos 60-65 minutos. Então, agora é recuperar mesmo o grupo. (...) O intervalo de um jogo para outro é muito curto. Hoje, cientificamente, todo mundo sabe que 48 horas é aonde vem o maior reflexo do esforço feito. E 48 horas é a véspera do jogo! Então, é um trabalho realmente de recuperação, de procurar conversar com os atletas um detalhe outro que possa ser feito. Eu acho que ao final de 3 jogos com praticamente os mesmos jogadores atuando (...) todo mundo já se conhece, todo mundo já sabe a forma do adversário jogar, já sabe ponto forte, já sabe ponto fraco. Então, é estar concentrado. É estar focado para que no jogo, como eu acredito que vai ser decidido em detalhes, pelo equilíbrio e pela campanha das duas equipes... é estar realmente com a cabeça boa para que na hora da decisão você possa estar com o detalhe lhe favorecendo."


"Tudo dentro do meu conceito de trabalhar é definido. Nada sai no acaso. O acaso é apenas a liberdade ao talento do jogador que nós damos. O cara vai para o drible, eu vou dizer como ele deve driblar? Não! (...) Senão vira videogame. Mas posicionamento, função, quem vai jogar, isso é evidente que já sai muito bem definido antes do último treino."

"Nós vamos trabalhar muito pouca coisa. Na minha cabeça já está definido o substituto do Maguinho. E mínimos detalhes. O grupo está muito desgastado. Se entrevistar todos os jogadores que começaram e terminaram a partida, se eles pudessem, eles não saíam da cama do hotel até o momento do jogo. Enfim, há um desgaste emocional. Eu não joguei e parece que eu levei uma surra! Eu não joguei e parece que eu lutei contra 15 caras sozinho! É um desgaste que só sabe quem viveu, quem vive isso aí. Então a palavra de ordem é recupetar o grupo para que ele possa entrar em campo o máximo inteiro possível."