Depois de quase 2 anos sem frequentar um restaurante, criamos coragem de ir ao Camarão do Olavo em Nísia Floresta. Antes disso, enfrentamos a fila do drive-thru do Via Direta para que mamãe recebesse sua 3.ª dose, o que, mais uma vez, me encheu de gratidão e satisfação por todo o esforço que fizemos e ela chegar a aquele momento sem qualquer contaminação nesta pandemia.
Voltar ao Camarão do Olavo, que é bem aberto e ventilado, com mesas afastadas e funcionários tudo gente boa, foi uma espécie de prêmio pela conquista, mas também um desafio para a defesa mental que nos impediu de fazer isso esse tempo todo. Não à toa, a minha cefaleia tensional deu às caras, ainda que de forma leve.
Sentamos à mesa preferida para recebermos ainda mais vento (sempre um desafio com os cabelos na hora da alimentação). Todas de máscara até o momento de começarmos a comer.
Do nosso lado uma mesa pequena com 4 pessoas e à frente dela uma outra enorme com muitas pessoas. Com um pouco mais de tempo para observação (nada de celular nesses momentos), foi possível verificar que era tudo um grupo só, sendo a mesa menor dedicada a mulheres que cuidavam dos filhos das famílias que ocuparam a mesa grande.
A impressão dessa segregação foi a pior possível. Não demorou para que eu percebesse que a mesa maior tinha um famoso deputado federal. Naquele momento, pensei na conta nada barata que restaria para a Câmara Federal "ressarcir". Nunca entendi por que o esquema público é voltado para o sustento completo de seus indíviduos, inclusive alimentação em restaurantes, restando o salário/vencimentos apenas para mero acúmulo, enquanto o restante da população é obrigada a se virar com o que recebe para pagar tudo, inclusive alimentação básica (feijão, arroz, ovo...).
Mas não é sobre isso que quero falar. Na verdade, só havia duas mulheres que cuidavam da ruma de meninas e meninos das famílias. E eram essas mulheres, para as quais não acharam espaço na mesa enorme, que deveriam ocupar sozinhas a outra mesa.
O danado é que afeto e afinidade não são impostos; formam-se natural e inesperadamente. Pois duas meninas escolheram sentar com aquelas mulheres, que provavelmente eram muito mais parte de suas vidas do que o restante das pessoas. O detalhe ainda mais fofo é que uma das crianças tinha síndrome de down.
Não percebi se as mulheres chegaram a ser consultadas para a escolha da comida que iriam comer. O que chamou mesmo a nossa atenção foi a alegria que reinou nessa mesa ali do lado, entre as crianças e as mulheres. A risada era uma constante.
Já na mesa maior, as crianças estavam cada uma entregues a um celular que as fazia quase que negar a realidade à sua volta. As expressões eram mais de angústia, mas não posso afirmar que eram apenas de angústia porque dois meninos estavam com as costas voltadas para nós.
Deu uma tristeza de ver a cena. A sorte era que a mesa ao lado nos mantinha com fé de que as pessoas valem mais do que a realidade virtual.
Depois conversamos com uma das funcionárias e perguntamos pelo senhor das cocadas, que há muito não víamos. Conversador, ele adorava puxar papo conosco quando íamos a Goianinha ver os jogos do Mecão, ele também americano, aliás, quase todo mundo ali. Ela nos disse que ele havia deixado de vender cocadas com a pandemia e se mudado para a praia para se dedicar à pesca, uma outra paixão dele. Eu disse que tinha receio de que ele houvesse morrido nesta pandemia porque ele já apresentava sinais de diabetes mais avançada, mas ela nos tranquilizou dizendo que ele estava bem.
Comentamos com ela sobre o fato de que aquela era a nossa primeira saída para restaurante nestes quase 2 anos e ela falou que havia muita gente que não entendia os cuidados necessários, mas que só quem passa pela doença na família é que sabe. Ela mesma perdera 3 pessoas, uma delas sendo a tia que ela via como segunda mãe. Sentimos muito. Ainda bem que parece que, com a vacinação e as demais medidas, estamos vencendo esta batalha, uma vez que o RN não registra mortes há 6 dias.
Na hora de pagar a conta, outro funcionário também veio bater papo conosco enquanto passava o cartão de crédito, sempre um momento de dor para quem paga suas próprias contas. O rumo da conversa agora era a única caipirinha da conta e o limite de consumo alcoólico. Rimos demais.
Demos tchau aos funcionários e partimos antes do pessoal das mesas ao lado. Mais uma etapa cumprida neste vendaval em que a vida se meteu. Que possamos mesmo recuperar a normalidade e a humanidade.
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