segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Recorte sem nexo


Um filme com Viola Davis e Chadwick Boseman sobre uma grande cantora de blues dos anos 1920 tem tudo para arrebentar, não é mesmo? Mas o roteiro estragou tudo.

Assim é A Voz Suprema do Blues, lançado no fim de 2020 na Netflix e que marca o último trabalho do astro de Pantera Negra antes de sua morte.

Aliás, é bom ressaltar que todos os atores, todos mesmo, estão sensacionais, com atuações absolutamente convincentes. Mas nem isso salva o filme.

Você jura que vai entender mais sobre a cantora de blues Ma Rainey, só que ela é mera coadjuvante! O filme prefere centrar nas discussões dos membros de sua banda a respeito de como a gravação de um disco deveria ser.

Claro que no meio das discussões há muitas epifanias. No entanto, os diálogos parecem soltos, fora de contexto, o que transforma a 1h34 de filme num arrastado tédio.

Não é de hoje que a ideia de adaptar peças teatrais para cinema ou televisão naufraga. E ainda que se utilize como desculpa o fato de que o título em inglês ressalta uma única música de Ma (Ma Rainey's Black Bottom), a sua quase ausência do enredo, mera referência em muitos momentos, irrita muito para um filme que leva seu nome em inglês e que exalta sua voz no título em português.

Além de atuações sensacionais, o elenco é majoritariamente negro, como era a cena do blues na época. Obviamente, o racismo salta aos olhos em vários momentos.

Retire-se isso e nada sobra. Fico extremamente revoltada quando vejo alguém ter nas mãos uma joia e não saber o que fazer com ela. Ou jogá-la fora. Foi essa a sensação que me invadiu ainda no terço inicial do filme. Que desperdício!

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