Com o desafio do América de ter que vencer por 3 gols de diferença para conqusitar no tempo regulamentar a vaga tanto nas semifinais da Série D 2020 como dentre os participantes da Série C 2021, a torcida americana, como é típico do povo brasileiro, já enveredou para prometer algum sacrifício em troca da alegria em campo.
Isso me lembrou um episódio ocorrido comigo em 2008. Fui assistir a um importantíssimo jogo para o América fugir do rebaixamento naquela Série B no apartamento de uma amiga.
Turma toda reunida numa sexta-feira à noite e ciente da importância do jogo e da tradicional dificuldade do América em vencer fora de casa, cada um torcia à sua maneira. O nervosismo e a ansiedade só cresciam à medida que o tempo passava, até porque o São Caetano saiu na frente com um gol de cabeça (para variar...).
Só que em relação ao jogo, eu tinha aquela minha certeza inabalável que é bem mais comum quando todo o resto tem certeza do contrário. E isso também aumentava a dose de expectativa de todo mundo lá reunido.
O América começou a jogar bem melhor, mas foi somente no finzinho do 2.° tempo que o time que tinha Cascata no meio de campo conseguiu empatar. Eram 43 minutos. E eu seguia certa da vitória.
Foi nessa hora, para mostrar aos outros que eu mantinha a certeza da vitória, que eu fiz uma promessa em relação ao jogador que faria o gol da vitória. Eu detestava o futebol de Fábio Neves e deixava isso bem claro para todo mundo.
Pois bem. Eu prometi ali no momento que se Fábio Neves (eu tinha certeza de que seria ele) fizesse o gol, eu iria beijar os pés dele. Aí uma voz interior me lembrou: "Só faça promessas que você possa cumprir". Na hora, eu disse: "Beijar os pés, não; mas eu vou lá no CT dizer a ele 'Você é um craque'". Não deu outra. 3 minutos depois (aos 46), Fábio Neves marcou o gol da virada que garantiu a permanência do América na Série B no ano seguinte.
Na semana seguinte, lá fui eu ao CT cumprir minha promessa. Lembro que até minha irmã, que não costuma acompanhar jogos, quis testemunhar o momento. Levei alguma coisa para Fábio Neves autografar (nem lembro mais se foi uma camisa), tirei uma foto com ele (que já pelejei para encontrar em algum arquivo eletrônico, mas desconfio que ficou na câmera de uma amiga), tudo para criar o ambiente para que eu apoiasse a mão em seu ombro e enfim dissesse "Você é um craque'. Ele deu um sorriso envergonhado e agradeceu. Eu até esqueci de todas as raivas anteriores que ele me fez em campo pela importância do feito.
Volto a esse episódio agora porque vejo uma chuva de promessas na torcida para o resultado do jogo de domingo. Mas eu já deixo o alerta: se você quer mesmo uma promessa que vingue, faça uma promessa que você possa cumprir. Assim, não há torcida contra, consciente ou inconsciente, para atrapalhar.
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