quarta-feira, 8 de abril de 2020

"Não dá para pagar para ver"

Só se fala na projeção divulgada pelo Governo do RN a respeito da Covid-19 aqui no estado. Amanheci então em busca de mais informações a respeito. E eu as encontrei tanto na Tribuna do Norte de hoje, precisamente na página 10,  como no site do RN. Tentei passar aqui as principais informações.

É preciso destacar que esse estudo contém projeções feitas pela Imperial College London, a mesma que traçou vários cenários para o Brasil e o mundo. A autoridade dessa instituição no assunto é tamanha que foi ela a principal responsável pela mudança de abordagem do primeiro ministro britânico Boris Johnson, que inclusive está internado em U.T.I. por causa da Covid-19, mas felizmente em estado estável, segundo a última notícia que acompanhei.

Além das projeções da Imperial College, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, responsável pela publicação do documento, também utilizou dados divulgados pelo Google de que 42% da população do Rio Grande do Norte seguem as medidas de isolamento social.

São 3 cenários possíveis no RN, um deles com uma subdivisão: Inação, Mitigação (otimista e pessimista) e Supressão.

Na inação, as autoridades não fazem nada, apenas deixam que o vírus ataque toda a população em busca de imunidade coletiva.

Na mitigação, que é o cenário atual, há transmissão do vírus, mas são implantadas medidas para diminuir a velocidade de sua propagação e evitar o colapso da rede de saúde. Há um cenário otimista, com 42% da população cumprindo as medidas de isolamento social (nossa realidade), e um pessimista, com apenas 25% cumprindo essas medidas.

Na supressão, temos a verdadeira quarentena, com apenas serviços essenciais sendo mantidos em funcionamento.

Vejamos os números de cada cenário.

Inação

  • 5 de abril: 5,1 mil infectados e 43 óbitos
  • 10 de abril: 17,4 mil infectados e 145 óbitos
  • 2 de maio: 3,5 milhões infectados (população total do RN) e 29 mil mortos. Toda a população estaria imunizada a partir daí.
  • 15 de maio: 3,5 milhões infectados e 29 mil óbitos.
Mitigação otimista (cenário atual)
  • 5 de abril: 924 infectados e 5 óbitos
  • 10 de abril: 2,1 mil infectados e 12 óbitos
  • 2 de maio: 157 mil infectados e 874 óbitos
  • 15 de maio: 2 milhões infectados e 11,3 mil óbitos.
Mitigação pessimista 
  • 5 de abril: 2 mil infectados e 11 óbitos
  • 10 de abril: 5,6 mil infectados e 31 óbitos
  • 2 de maio: 928 mil infectados e 5,1 mil óbitos
  • 15 de maio: 2,6 milhões infectados e 14,6 mil óbitos.
Supressão
  • 5 de abril: 53 infectados e nenhum óbito
  • 10 de abril: 92 infectados e 1 óbito
  • 2 de maio: 1,3 mil infectados e 11 óbitos
  • 15 de maio: 6,5 mil infectados e 55 óbitos
Os números assustam e, como tal, causam incredulidade como reação natural. Mas o responsável pelo estudo, o especialista em Gestão Hospitalar Ricardo Volpe, explicou à Tribuna que o agravamento aqui acontecerá quando o vírus atingir as áreas mais pobres. "A maioria dos casos, hoje, ainda está concentrada na classe média porque foram importados e depois disseminados por perto, mas essa classe tem acesso ao saneamento básico e, geralmente, moram menos pessoas em uma só casa."

Ele ainda destacou que outro motivo para os números oficiais não refletirem as estimativas é a subnotificação, que é a realidade em todo o Brasil. "Precisamos levar isso em consideração para uma estimativa mais real."

No site do RN, o secretário estadual de saúde Cipriano Correia falou sobre a projeção e a situação do estado. "O que fizemos já evitou, com certeza, a aceleração da transmissão e, consequentemente, o número de mortes. Mas quando olhamos os números e as tendências constatamos a importância de manter as medidas e intensificá-las. O ideal seria a supressão total da circulação de pessoas, mantendo apenas as exceções estritamente necessárias, como alguns países europeus fizeram já depois de a crise instalada. Somente com medidas mais rígidas de isolamento social poderemos reduzir o contágio e retardar o esgotamento do sistema de saúde, anunciado para o final de abril ou início de maio. (...) Não precisamos esperar para crer. Muitas pessoas não têm sintomas. Outras podem ter sintomas gripais, mas 15% podem ter quadros graves e 5% críticos de índice de mortalidade, o que não é desprezível. Então as pessoas precisam despertar para a realidade do quadro. Evitar qualquer tipo de contato, de aproximação, de cumprimentos e manter o distanciamento é a regra básica que o mundo tem seguido que a Organização Mundial de Saúde tem recomendado para que evitemos o crescimento acelerado e a sobrecarga do sistema de saúde com desassistência e morte sem assistência, que é o que poderá ocorrer nos próximos dias no Rio Grande do Norte e como ocorre em vários países do mundo."

Segundo o secretário, a medida ideal é a quarentena decretada pelo governo federal, "inclusive mobilizando as Forças Armadas para fazer valer toque de recolher, pois não queremos chegar ao estágio que a Itália vivenciou há algumas semanas."

O secretário de Gestão de Projetos Fernando Mineiro ainda reforçou o alerta: "a população precisa se envolver e se isolar, não dá para pagar para ver. Não podemos deixar uma tragédia maior acontecer. Temos a necessidade do isolamento. As pessoas precisam se conscientizar."

Portanto, parece bastante claro o papel importantíssimo que cada um de nós tem que desempenhar para evitar o colapso do sistema de saúde. É bom lembrar que os números apontam apenas óbitos da Covid-19. Não há dados a respeito dos que podem vir a morrer por qualquer outro motivo, mas que não encontrarão vaga no sistema de saúde pelo acúmulo de internações (demoradas) que a Covid-19 causa. 

É hora de usar máscara, não tocar os olhos, o nariz e a boca (e nem a máscara!) sem antes ter lavado as mãos, lavar as mãos com água e sabão da maneira correta e, principalmente, seguir com o isolamento social. Nada de abraço, beijo, aperto de mão. Nada de visitar familiares e amigos. Nada de passear na rua. Sair de casa apenas para o estritamente necessário. 

#FiqueEmCasa

Um comentário:

  1. Resumindo, nem sim nem não muito menos pelo contrário. Mas que os 37 milhões tem peso na história, ninguém pode negar.

    ResponderExcluir