Há tempos reclamo da eternidade que uma partida de futebol dura. 90 minutos e um intervalo de 15 minutos levam praticamente o turno inteiro de quem pretenda acompanhar o jogo in loco. Nos tempos atuais, isso é quase impeditivo, especialmente se considerarmos que a CBF mete jogos do Brasileirão diariamente.
Para piorar, a sensação de perda de tempo só cresce com a desgraçada mania de se fazer cera. Há quem aplauda a atitude como esperteza. Eu acho um saco! Se estou vendo na TV, troco de canal na mesma hora. No estádio, minha revolta cresce: paguei para ver fulaninho mostrar péssimo talento de ator. Não à toa já não vejo mais tantos jogos quanto via antigamente. Falta paciência.
Para minha sorte, o pessoal da International Board parece que também acha isso tudo muito deprimente e resolveu dar uma sacudida no futebol.
Em 15 de junho, a entidade anunciou em seu site a iniciativa Play Fair! (Jogue Limpo!) numa tentativa de melhorar o cumprimento de regras do jogo, eliminado aspectos negativos do jogo, para trazer à tona o verdadeiro futebol, que é o que o público deseja. A ideia é mudar o futebol de forma que a iniciativa Play Fair! seja vista como um verdadeiro divisor de águas.
Segundo David Elleray, diretor técnico da International Board, "o apoio à Play Fair! dentro da comunidade do futebol tem sido muito positivo - árbitros, jogadores, técnicos e torcedores, todos concordam que melhorar o comportamento do jogador e o respeito a todos os participantes (especialmente ao trio de arbitragem), aumentar o tempo de bola rolando e a lisura e a atratividade do jogo deve ser a principal prioridade do futebol."
Eis, portanto, os 3 pilares das mudanças:
- Melhorar o comportamento do jogador e aumentar o respeito;
- Aumentar o tempo de bola rolando;
- Aumentar a lisura e a atratividade.
A iniciativa prevê medidas imediatas (podem ser impostas sem mudança de regras), medidas prontas para teste e medidas a serem discutidas. E quais são essas medidas? Vamos a elas!
Para melhorar o comportamento do jogador e aumentar o respeito
- Imediatas: aumento da responsabilidade do capitão. Ele é o ponto principal de comunicação com o árbitro; é o único autorizado a se aproximar e abordar o árbitro numa situação controversa; ajuda o árbitro a acalmar situação e jogadores. Além disso, a International Board e a FIFA estudam produzir um Código de Responsabilidades dos Capitães e estabelecer formas de consultar os capitães das seleções sobre as ideias e iniciativas da Paly Fair!
- Prontas para teste: "Encurralar" (arrodear para pressionar) o árbitro/assistente deve ser punido mais fortemente pela arbitragem (cartão amarelo), uma vez que só o capitão está autorizado a abordar a arbitragem a respeito de uma decisão controversa; os clubes também serão punidos com perda de pontos ou multas quando um time for considerado culpado de "encurralar" o árbitro; cartões amarelo e vermelho serão mostrados aos membros da comissão técnica para ficar claro que forma punidos.
- A serem discutidas: haverá aperto de mãos entre técnicos e árbitro central antes do início da partida como sinal de respeito; cartão vermelho para um jogador substituto retira do time punido a capacidade de realizar uma substituição (caso todas as substituições tenham sido feitas anteriormente, a punição passa para o jogo seguinte)
Para aumentar o tempo de bola rolando
- Imediatas: o tempo de acréscimo deve ser calculado de forma mais acurada, com o árbitro parando o cronômetro em pênalti (desde a marcação até a cobrança), gol (desde a marcação até o reinício da partida), lesão (desde o momento em que o árbitro pergunta ao jogador se precisa de atendimento até o reinício da partida), cartões amarelo e vermelho (do momento em que o árbitro mostra o cartão até o reinício da partida), substituição (desde o sinal de autorização do árbitro até o reinício da partida), formação de barreira (desde o spray ou contagem dos passos para 9,15 m até o apito para a cobrança da falta); a regra de 6 segundos para domínio com as mãos do goleiro será aplicada mais rigidamente.
- Prontas para teste: substituições (jogador deverá deixar o campo pela linha mais próxima, exceto se razões de segurança impedirem).
- A serem discutidas: cronômetro será parado cada vez que a bola estiver fora de jogo nos 5 minutos finais do 1.º tempo e 10 minutos finais do 2.º tempo (inclusive das prorrogações) ou no jogo todo; estádio pode ter cronômetro visível para espectadores (ligado diretamente ao árbitro central ou outro árbitro que controle o cronômetro de acordo com comunicação com o árbitro central); mais de um toque em sequência do mesmo jogador em tiros de meta, tiros livres, escanteios, e talvez pênaltis (enfim, a oficialização da paradinha); a bola pode estar em movimento num tiro de meta; o tiro de meta tem que ser cobrado do mesmo lado em que a bola saiu do campo.
Para aumentar a lisura e a atratividade
Nas palavras da International Board, a intenção da estratégia Play Fair! é "desenvolver regras para que o jogo se torne mais limpo e agradável de assistir, jogar, treinar e arbitrar. Isso pode envolver aspectos desafiadores do futebol que são tradicionalmente aceitos, mas que causam irritação e 'estragam' o jogo."
- Prontas para teste: adoção do sistema do tie-break do tênis para as cobranças de tiros livres (a ordem passa a ser time A, time B, time B, time A, time A, time B, time B, time A... Estudos mostram que, no sistema atual, o primeiro time a cobrar o pênalti tem grande vantagem, especialmente depois das cobranças obrigatórias. Outros sistemas também podem ser testados durante essa fase); cobrança de faltas da defesa dentro da área e tiros de meta permitirá que jogadores da defesa (inclusive o goleiro) toquem a bola dentro da área após a cobrança (atualmente, é preciso esperar que a bola saia da área), mas os oponentes obrigatoriamente ficam fora da área até a cobrança.
- A serem discutidas: interpretação e definição mais clara de bola na mão; jogador que marcar gol com a mão será expulso (é o equilíbrio da regra que expulsa o jogador que impede um gol com a mão); goleiro que pegar com a mão passe ou lateral de seu time será punido com pênalti; se um gol for impedido por bloqueio com a mão de defensor na linha do gol ou muito próximo a ela, o árbitro poderá marcar o gol; fim de 1.º tempo e 2.º tempo somente ocorre se a bola estiver fora de jogo; cobrança de pênalti não terá rebote (se não convertido, será tiro de meta).
Não sei nem como expressar minha felicidade ao ver que a International Board anda preocupada com o futuro do futebol. Estou até sonhando com os dois tempos de 30 minutos com o cronômetro registrando apenas a bola em movimento como há muito tempo defendo. Será o fim do tédio e dos péssimos atores no futebol.
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