Lá estou eu lendo uma revista Cláudia quando de repente vejo uma mini-entrevista com Emma Stone, a Gwen Stacy de O Espetacular Homem-Aranha 2. Dentre as três perguntas, uma despertou minha atenção e me motivou a escrever o que agora você lê. Na verdade, foi a resposta que me intrigou. Questionada sobre qual seria a parte mais difícil de ser famosa, a atriz disse: "Permanecer autêntica. É esquisito estranhos virem falar com você, tendo uma preconcepção de quem você é baseada nas entrevistas que leu."
Pronto! Fiquei com a pergunta título deste texto na cabeça. Seríamos mesmo o que falamos? Será que teríamos sempre a mesma opinião sobre os mesmos assuntos ao longo de uma vida? Não, claro que não. Pelo menos não em relação a todos os assuntos. Mas onde estaria o seu verdadeiro eu? Quando sua fala reflete de fato sua alma?
Mudamos muito com o passar dos anos. O gosto musical muda. Até o que te atrai em outra pessoa muda. Nosso paladar muda. Não acredita? Experimente algo que não gostava quando criança. Há grande chance de você comer algo hoje que nem imaginava antes, seja quando criança, seja há dois anos. As opiniões também mudam. Eu nem de futebol gostava, imagine.
Mas a entrevista de Emma Stone me criou uma enorme pulga atrás da orelha. Se gravássemos o que falamos, seríamos capazes de reconhecermo-nos em reprodução posterior? Se escrevêssemos, reconheceríamos nossa essência naquelas palavras?
De repente fui invadida por uma vontade enorme de reler meus diários de início da adolescência. Nem sei por onde andam. Mas não tenho registro de minhas opiniões anteriores nem posteriores. Somente algumas que passei a escrever por aqui a partir de 2010. E esse intervalo? Eu ainda estaria de acordo com as mesmas ideias? Fiquei me sentindo um tanto quanto vazia por não poder me confrontar a respeito.
Penso que numa questão essencial, pelo menos até aqui, eu não mudei. Acredito piamente que só amamos de verdade uma vez na vida. Feliz de quem consegue ser correspondido nesse verdadeiro achado, talvez um pouco menos difícil do que acertar na loteria.
No resto, penso que fui aprimorando minhas ideias. Só o tempo me dirá. De religião a esporte, passando por política, preconceitos, assuntos transcendentais, etc.
A grande questão é se falamos o que somos. Não somos muito dados a verdades, por incrível que pareça. Desde o bom dia, quando achamos que o dia está ruim, até o "bem, obrigada", quando só queremos desaparecer da face da Terra, mentimos muito, sem perceber. Eu me considero bem sincera - quase áspera - diariamente. Porém, é inegável que as mentiras, mesmo as pequenas, tidas como politicamente corretas, me perseguem. "O que acha disso?" é uma pergunta que me leva a uma profunda reflexão: quem me pergunta realmente quer me opinião ou só precisa de uma palavrinha de fé, uma levantadinha no moral? Veja que não é nada fácil aprimorar ideias e começar a ter consciência de como elas atingem os outros.
Entendi ou acredito que entendi a angústia da atriz. Nem sempre o que falamos é o que somos, mas sim o que esperam que falemos ou sejamos. Quanto mais em público estamos, mais nos afastamos de nossa essência e nos aproximamos das expectativas dos outros. Manter o equilíbrio entre essas duas realidades é a verdadeira batalha do dia-a-dia.
Pobres celebridades. Num mundo tão exposto como o atual, cada dia mais elas se distanciam de seu verdadeiro eu. Agora entendo a quantidade de depressivos nessa realidade. Afinal, todos vivemos o mesmo dilema, tão bem dito pelos velhos Engenheiros do Hawaii: somos quem podemos ser?
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