Ibope deve algumas explicações

Pesquisas sempre existiram para todos os gostos. A margem de erro parece ser a tábua da salvação para possíveis erros. Ou mesmo o número de indecisos. Eu já vi tanta coisa nesses anos acompanhando eleições que me preocupo muito mais com a tendência que os números apontam do que mesmo com os números em si. No entanto, os fatos ocorridos no 1.º turno em Natal mostram claramente que o instituto Ibope nos deve algumas explicações. 

Relembrando a campanha, a partir do momento em que as pesquisas começaram a demonstrar queda de Carlos Eduardo Alves, sua campanha passou a desprezar os números das pesquisas e a destacar um tal percentual de votos válidos. Como assim "votos válidos"? Voto só é voto quando cai na urna. Até lá, nós só temos intenção de voto. A coisa chegou à justiça eleitoral que condenou a campanha do candidato do PDT por manipular os resultados.

Tudo certo. Agora os números seriam divulgados como pesquisados. Eis que o Ibope resolve divulgar (na sexta-feira, na Intertv Cabugi; no sábado, na Tribuna do Norte, cuja edição guardei com carinho) os números exatamente como a campanha de Carlos Eduardo Alves divulgava, com os tais "votos válidos". Descontavam os indecisos, os nulos e os brancos. Logo na última pesquisa. É ou não é de se estranhar?

Na pesquisa regular, essa era a situação:

1.º - Carlos Eduardo Alves (estável) com 44% das intenções de voto;

2.º - Hermano Morais (em queda) com 18% das intenções de voto; 

3.º - Fernando Mineiro (em alta) com 13% das intenções de voto;

4.º - Rogério Marinho (estável) com 7% das intenções de voto;

5.º - Robério Paulino (em alta) com 3% das intenções de voto;

6.º - Roberto Lopes (estável) com 1% das intenções de voto;

Brancos/nulos (estável) com 10%

Indecisos (em queda) com 4%

Na estranhíssima pesquisa com votos válidos (o povo votou na hora da pesquisa?), o Ibope/Intertv Cabugi apontava os seguintes números:

1.º - Carlos Eduardo Alves com 51%

2.º - Hermano Morais com 22%

3.º - Fernando Mineiro com 15%

4.º - Rogério Marinho com 8%

5.º - Robério Paulino com 3%

6.º - Roberto Lopes com 1%

Se você acompanhou o resultado da eleição bem sabe ao que me refiro. Mas se você ainda não viu, eis os números percentuais da eleição - agora sim, votos válidos - de acordo com o TRE/RN:

1.º - Carlos Eduardo Alves - 40,42%

2.º - Hermano Morais - 23,01%

3.º - Fernando Mineiro - 22,63%

4.º - Rogério Marinho - 10,16%

5.º - Robério Paulino - 3,57%

6.º - Roberto Lopes - 0,21%

Veja que a movimentação de Carlos Eduardo Alves ( - 10 pontos percentuais) e a de Fernando Mineiro ( + 7 pontos percentuais) estão muito além da margem de erro. A diferença pró-segundo turno foi assustadoramente maior que a margem de erro, muito longe da previsão apertada de definição no 1.º turno como apontava o instituto. Por que? Com a palavra, o Ibope.