Não sei vocês, mas quando criança, não existia esse negócio de distância e, principalmente, profundidade para mim. Eu falava mesmo era em lonjura e fundura.
Vivia nas piscinas dos clubes daqui. Como não sabia nadar, queria logo saber qual era a fundura de cada uma porque só ia onde dava pé. Terminei aprendendo a nadar sozinha, com a cara e a coragem e as dicas de um colega de Aero Clube ("Tente nadar cachorrinho!", dizia ele) que sonhava em me ver soltar a escada da piscina funda. Deu certo porque a pouca idade era inversamente proporcional à minha coragem. Sigo assim, o que significa que, a cada década passada, a coragem foi diminuindo.
O danado é que o passar da idade parece que também faz a gente ficar mais besta. Assim, lonjura e fundura viraram distância e profundidade.
No Estúdio CBN de hoje um ouvinte questionou se as palavras de outrora estão corretas ou pertencem a algum tipo de regionalismo. O professor Pasquale afirmou que elas são corretas sim, estando em dicionários brasileiros e lusitanos, sendo registrado o primeiro uso de ambas nos séculos 15 (lonjura) e 16 (fundura).
Na minha inocência de criança, eu usava o português certinho, que identifica lonjura com longe e fundura com fundo(a). O uso foi caindo e agora elas parecem coisas regionais. Mas não são muito mais lógicas? Ora, ganham até em número de letras e sílabas de suas frias substitutas.
O pessoal que vive querendo voltar ao passado das piores formas possíveis bem que podia se engajar em trazer essas belezuras de volta para o nosso falar. Afinal, na língua portuguesa simplicidade sempre foi sinal de luxo. Pois que lonjura e fundura estejam de novo entre nós!
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