quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Williman fala sobre as bases

Não sou jornalista, como acredito já ser de conhecimento público. No entanto,  o bafafá que envolveu o futebol de base do América e a chegada de Williman Oliveira ao comando deste setor americano me fizeram abrir o espaço deste blog para - digamos assim - uma entrevista por mim realizada. 

Agradeço publicamente a Williman pela gentileza e pela paciência de matar a minha curiosidade. Para quem o conhece, já sabe que ele não se furta a responder coisa alguma. Então, vamos à primeira entrevista do Só Futebol? Não!

Contrariando a lógica, seu nome surge no América nos momentos de crise, sem importar quem esteja no comando no momento. Foi assim quando o América foi obrigado a jogar dois anos fora de Natal e também no ano passado quando o clube começou a se encaminhar para o rebaixamento. Agora o clube passa por uma mini crise nas bases e você aparece para enfrentar o problema. O que o motiva a descascar tantos abacaxis no América?
Pois é. O América é um clube que precisa de verdadeiros americanos. Realmente, só aparecer pra tirar a foto de campeão quem não quer? Acho que é da minha natureza ser servil. Fui educado a fazer o melhor pelos outros sempre e ainda mais pelo clube que adotei como meu clube de coração. Sou natural  de Brasília-DF e boa parte da minha adolescência vivi no RJ, numa época de Zico e cia. Sempre fui desportista. Quando cheguei em Natal definitivamente em 1985, fui atleta de Hélcio Jacaré. Daí começou minha identificação com o América. Ver treinos na pousada do atleta na engenheiro Roberto Freire, títulos  da copa do NE e acessos... Sempre fui ao Castelão [primeira denominação do finado Machadão] com grupos de amigos, e a maioria sempre foi de americanos. Como sempre me envolvi com esporte, acabei me apaixonando por fazer algo a mais pelo América. Até animador de torcida no Nazarenão em 2011 eu fui! Chego a dar risadas por que o que faz um empresário pegar um microfone e narrar batida de pênalti de torcedor? Me divertia com isso. Então, conselheiro desde 2010, sempre acompanhei o clube em vários setores. Hoje tenho o respeito de todos  e sempre colocando o América em primeiro lugar, e não pessoas para vantagens pessoais - jamais faria por isso. Minha experiência nesses 5 anos de clube foi conviver com viagens com a delegação, principalmente aquele jogo que ninguém podia ir,  tipo jogar contra o Rio Branco lá no Acre  em 2011. Lá estava eu cumprindo um papel importante e dando suporte a Carlos Moura Dourado. Muitas histórias que são impagáveis com esse clube. Daí hoje me vejo nas  bases para mais  um desafio daqueles. Espero poder envolver todos do clube, e se confirmar de  assumir, não vão faltar motivação, coragem e transparência.    
        
Qual a real situação das bases do América? Há mesmo maus profissionais, como afirmou o técnico Carlos Gutemberg, ou "donos do clube", como disse o conselheiro Walmir Nunes?
Nossas bases vivem de acordo com o termômetro do profissional. As verbas são compatíveis com a posição que o América ocupar no Brasileiro (Séries A, B e C). Nossa realidade é difícil muito mais por falta de investimentos. Esse folclore sobre os Severos é pura maldade de quem os acusa de dificultar que qualquer treinador que chegue na base tenha sucesso. Isso pra mim é teoria da conspiração. Severo Dias (pai) tem serviço prestado ao clube e hoje é um ex-atleta que é apenas responsável pelo alojamento dos garotos e parte administrativa, nada mais. Suas opiniões não têm autonomia na base quanto à formação ou à aprovação de qualquer atleta. A equipe de profissionais da base tem o jovem Severo Jr, que tem formação acadêmica e tem experiência sim que o credencia para a supervisão e para ser treinador de garotos promissores no futebol. O que realmente falta são recursos e mais profissionais para captação de talentos. E mais: vejo a omissão de gestores, aqueles que assumem cargos de direção no clube e, muitas das vezes, não acompanham o dia-a-dia e apenas cobram o resultado  do jogo. Não vejo isso como uma postura que venha acrescentar às nossas bases. Eles, professores, treinadores e atletas precisam de referência, apoio, acompanhamento do clube como um todo. Envolvimento desde do presidente à direção de futebol, junto com a comissão técnica para avaliações, suporte, aprendizado... Só assim teremos uma base consistente. Quem é o dono do América? Me desculpe, mas falta de comando. As desculpas são muitas e a culpa do desenvolvimento das bases recaem exclusivamente nos gestores do clube. Portanto, esse bombardeio do Sr. Carlos Gutemberg, que parece ter a receita na mão sobre bases... Ele só se  esqueceu de aprender sobre  ética. Mas ele nem tem culpa disso tudo. Tem quem o colocou lá. Mas apesar das dificuldades, que são muitas, haveremos de modificar esse cenário.  

Em sua opinião, dá para revelar jogadores e conquistar títulos com as bases ou uma coisa dificulta a outra?
Claro que sim, mas o sentido principal da base é formar jogadores para o profissional. Títulos são consequência de uma geração bem trabalhada. Precisamos de mais gente envolvida trabalhando e comprometida com o clube, exclusivamente com o América e para o América. Envolver ex-atletas como captadores  de talentos, pessoas ligadas ao futebol de modo geral, polos no interior em busca desses talentos e, no CT, as condições para alojá-los, ensiná-los e promover uma disciplina para que cresçam no clube apaixonados pela camisa. Consequência disso tudo serão as vitórias fomentando atletas para o profissional e parcerias com grandes clubes do Brasil formadores de craques, objetivando percentuais que trarão resultados consistentes aos cofres do clube.  

O número de jogadores revelados pelas bases do América (tanto para o profissional do América como os negociados com as bases de outros clubes) está dentro do esperado para a realidade do clube?
Precisamos participar de mais torneios. É aquele velho ditado "quem não é visto não é lembrado". O América tem hoje os direitos de pelo menos 3 atletas que estão no Grêmio, no Flamengo e no Atlético Paranaense e o sucesso dessas promessas poderá render ao clube valores importantes. Mas temos mais potencial para revelar. Como disse antes, precisamos de um grupo mais forte e comprometido para termos um trabalho com um acompanhamento mais direto e profissional, porque amadora é a categoria e não quem trabalha nela.      

Como será o jeito Williman de comandar o futebol de base do América?
Sou muito participativo, gosto de envolver as pessoas nos projetos, dividir ideias e somar resultados. Tenho por aptidão um carinho especial por crianças e jovens. Sei lidar com eles com muito respeito e minha experiência de vida pode ajudá-los nessa caminhada. Tenho 2 filhos, e um deles é adolescente, e tenho ótima relação com eles. Sei ouvir opiniões, conselhos, mas sou decisivo nas minhas conclusões. Não sou de ficar em cima do muro e, seja com quem for, gosto da verdade. Não tenho dificuldade em dizer NÃO quando é necessário. Espero ter o apoio da direção do clube, que buscará meios para que os resultados sejam positivos, e da torcida do América, por eu só entrar descascando abacaxis, como você bem lembrou, principalmente no comando de Gustavo Carvalho, que não gozava da aceitação da torcida e por melhor que você se empenhasse, eram comuns críticas ao nosso trabalho, que nada tinha a ver com futebol. Marketing bom é bola na rede. Tai nosso rival com um profissional competente como Alan Oliveira de mão atadas com a péssima campanha do time dele.      

Quais são os seus projetos para as bases do América? O que é possível fazer de imediato?
Raissa, temos que primeiro fazer um levantamento completo da estrutura da base, desde os profissionais que temos aos talentos do sub 15, 17 e 19. Teremos alguns torneios ainda neste ano que poderão definir melhor essa geração e como poderemos reverter essa mini crise, como foi dito lá no começo. Encorpar com novos profissionais, até quem sabe começar do zero com uma nova filosofia, pois sabemos que ciclos terminam, independente de quem sejam os gestores. Mudanças podem acontecer não por incompetência, mas por apostar em novos projetos. Imediatismos não combinam com base de futebol, mas a médio, longo prazo e com apoio necessário, aí sim podem cobrar de mim que estarei atento a todos os passos que a base der e espero que seja definitivamente valorosa para o clube, que os investimentos sejam recompensados com a revelação de craques potiguares, nordestinos  e que outros Carlos Mota, Montanhas, Biro-Biros, Cariocas, Gitos  e Souzas surjam com a camisa do clube por que sou completamente apaixonado.       

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