No caminho para o trabalho, escuto no rádio do carro, numa das raras vezes em que não sintonizo a CBN (sou viciada em notícia), a belíssima voz de Adele cantando a não menos intensa Someone Like You e sou invadida por uma extrema felicidade. A felicidade de poder desfrutar daquele momento tão singelo, de uma canção já antiga para os padrões atuais de passagem do tempo e de uma voz tão em falta nestes tempos de auto tune e vozes 100% iguais dos que dizem cantar forró e axé.
De repente, percebo que aquela felicidade só foi possível porque Adele sofreu uma desilusão amorosa. Aí me lembro que a inesquecível Amy Winehouse (coincidentemente também inglesa) compôs sua melhor obra (Back to Black) com um lenga-lenga com um marido cafajeste. Poderia listar inúmeras divas cujo sofrimento trouxe imensurável felicidade à humanidade. Até Tim Maia compunha melhor após desilusões.
Ou seja, a maioria esmagadora dos clássicos letrados só se materializou porque alguém sofreu algo tão profundamente depressivo que somente transformando aquilo em versos com rima foi possível superá-lo. Logo, é o sofrimento que motiva os gênios a compor obras estupendas. Não seria isso um paradoxo: felicidade coletiva dependendo da miséria alheia? No entanto, é inegável a relação. Pode soar egoísta, mas benditos tais sofrimentos que proporcionaram tamanha felicidade aos nossos ouvidos.
Naquele instante, ou em todos os instantes em que ouço obras tão sinceras e com vozes tão capazes de dar vida às palavras musicadas, sou invadida por uma felicidade extrema. Extrema porque simples, efêmera. Típica das coisas comuns da vida - aquelas que ocorrem gratuitamente e sem qualquer planejamento, como acordar sorrindo por causa de um sonho bom, ou porque recebemos de volta o sorriso matinal de quem amamos.
Seja feliz neste domingo!
Muito bom....
ResponderExcluirUm bom domingo pra vc também
Obrigada, Cláudio.
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