Pode até não parecer legítima a crítica em virtude de minha identificação pública como torcedora do América, mas se há algo que eu busco em minha vida, até por ser professora e advogada dedicada e comprometida com valores maiores como verdade e justiça, é ser justa. Digo busco porque sei que é muita pretensão dizer que sou justa sempre. Afinal, ninguém é dono da verdade.
Mas quem tem a enorme gentileza de separar alguns minutos de seu dia para ler o que aqui publico perceberá coerência no que vou expor aqui.
O ABC acaba de anunciar a demissão do técnico Gilmar dal Pozzo. Nem sei dizer quantos dias o profissional de fato trabalhou no clube. Talvez mais do que Josué Teixeira e menos do que Roberto Fonseca. Seriam dois meses?
A demissão seria mesmo uma mudança de rumo? Acompanhem meu raciocínio. Primeiro, o ABC manteve Roberto Fonseca por ter livrado o time de um possível rebaixamento na Série B 2014. Mas se engasgou com a perda de um turno do estadual. Apesar de invicto e de ter classificado o clube para a 2.a fase da Copa do Brasil, o treinador foi demitido.
OK. Nunca achei Roberto Fonseca grande coisa como treinador. Mas qual foi o critério utilizado para sua manutenção? Foi esse critério levado em consideração na hora da demissão?
Chegou Josué Teixeira. Teria sido contratado por ser o atual campeão da Série C com o Macaé, tendo desbancado alguns favoritos no caminho. Com início arrasador, Josué devolveu ao ABC a participação numa Copa do Nordeste e numa final do estadual. Caiu pela desgraça de não vencer em casa, embora tenha dado início à impressionante campanha fora de casa na Série B. Foi o primeiro a apontar que o grupo do ABC não aguentaria uma Série B, mas na hora errada. Foi demitido também pela campanha em casa.
Chegou Gilmar dal Pozzo. Sonho antigo do ABC, segundo divulgado. Respaldado por ter feito longo e bem sucedido trabalho que levou a então inexpressiva Chapecoense à Série A. Não havia chegado antes por ter salário alto para a realidade do RN e não admitir a realização de trabalhos curtos (leia-se: multa rescisória pesada), em suas próprias palavras, apenas trabalhos "com início, meio e fim". Também pediu reforços e sucumbiu à falta de vitórias em casa.
Aí eu retomo a pergunta do título: mudança de rumo? O futebol brasileiro é pródigo em não ter paciência com trabalho de treinador. Primeiro, porque contrata sem convicção. Segundo (talvez seja o primeiro), porque não tem humildade suficiente para estabelecer publicamente uma meta condizente com o orçamento. Terceiro, porque mascara erros de contratação apontando o técnico de vilão. São 20 clubes numa disputa. 19 vão sucumbir, apenas 1 terá os louros da vitória. Sabem o que isso significa? No mínimo 19 treinadores demitidos por serem incompetentes. É um ciclo interminável. Ilógico. Uma verdadeira maquiagem da realidade. Mas é assim que funciona.
O atual campeão da Série C não serviu para o ABC. O técnico que elevou a Chapecoense a um novo nível no futebol nacional também não. Quem servirá então? Qual o critério para contratar Toninho Cecílio?
Sem convicção num trabalho, não há como prosperar. Parece que os dirigentes do América aprenderam a lição ao manter Bob mesmo com a queda para a Série C. Parece. Já os do ABC com essa média de um treinador a cada dois meses parecem cegos em tiroteio. Parecem.
Num futebol sofrido como o do RN ter bom senso não é privilégio, é obrigação. Ou então tome dinheiro escorrendo pelo ralo.
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