sábado, 21 de julho de 2018

Irresistível

Imagem de minha autoria

Se você nunca leu um livro de Agatha Christie não faz a menor ideia do que é ser sugado para dentro de uma intrigante estória com assassinos que se julgam muito inteligentes, investigadores aparentemente improváveis e métodos engenhosos. É a irresistível mente brilhante da mulher que me empurrou nos braços do Direito quando me capturou como leitora ainda na minha adolescência.

Eis a única autora cuja vastíssima obra eu de fato coleciono. E quando digo vastíssima é porque é mesmo. São inúmeros livros, peças, contos. Dei a sorte de ter sido presenteada por minha mãe com "Os primeiros casos de Poirot", que já trazia uma grande lista na contracapa das obras da astuta britânica.

Virei membro do Círculo do Livro posteriormente e aí angariei mais uns 15 livros. Depois descobri uma editora que publicava uma coleção semanalmente nas bancas, isso ainda nos anos 90. Consegui mais uns 5 livros. Até que alguém me disse que só conseguiria aumentar mesmo a coleção indo aos sebos. Não sou muito fã de livros usados por causa das minhas alergias. Mas era Agatha, né? Consegui mais alguns títulos desta forma, uns que até me apresentaram a uma Agatha que também escrevia intricados casos de espionagem mundial.

Aí a Saraiva passou a trazer novas republicações e eu passei a substituir os do sebo (devidamente doados) por edições mais apropriadas às minhas condições de saúde. Assim, consegui o livro que acabei de ler ontem que contém 4 obras dela: "Aventura em Bagdá", "Um destino ignorado", "Punição para a inocência" e "O cavalo amarelo". Desses eu já lera os dois primeiros. Mesmo já conhecendo as estórias, não resisti e li novamente. Passei para a terceira obra e nem achei algo tão grandioso assim (mas é Agatha; logo, vale cada página!). Porém, a última obra é absolutamente cativante.

Devo dizer que, às vezes, as mulheres são retratadas como umas bobas por Agatha Christie, mas há também algumas marcantemente inteligentes e perspicazes. Homens também não escapam, mas aí a proporção é menor. 

De todo jeito, "O cavalo amarelo" é de todo especial. Traz até um alter ego de Agatha Christie e que também não é retratada à altura do talento da escritora inglesa, embora continue fascinante para fãs como eu. A estória é intrincada como é natural nos livros dela, mas traz novos elementos de mistério para uma pequena cidade do interior da Inglaterra que envolvem até impressionantes rituais de magia negra. Uma pista aqui, outra ali, um mal entendido aqui, outro ali, pronto. Acabou-se o sossego até que consigamos virar a última página do livro.

"O caso dos dez negrinhos", que por motivos óbvios foi rebatizado como "E não ficou nenhum", e "O assassinato no Expresso do Oriente" são duas das mais marcantes obras de Agatha Christie. Posso citar N outras maravilhosas. Aliás, todas são. Mas essas duas acima marcam mais por suas diferenças em relação às outras. A primeira nem tem Poirot ou Miss Marple e é toda ambientada numa ilha. A segunda tem Poirot, mas é sufocantemente passada num trem em movimento. 

"O cavalo amarelo" se junta a elas por trazer o já citado alter ego de Agatha Christie e enveredar por um enredo maravilhosamente intrigante e com altíssimas doses de suspense. Leitura obrigatória. Mas fica o alerta: depois de poucos capítulos, sua alma só sossegará quando seus olhos chegarem ao ponto final. Prepare-se.

Série C 18: Décima quinta rodada

Sábado
15h30 - Estádio Antonio Guimarães de Almeida - Tombense x Ypiranga (B)
16h - Estádio Nabi Abi Chedid - Bragantino x Volta Redonda (B)
17h - Itaipava Arena Pernambuco - Náutico x Juazeirense (A) (transmissão pelo Esporte Interativo)
19h - Estádio Almeidão - Botafogo-PB x Santa Cruz (A) (transmissão pelo Esporte Interativo)

Domingo
15h30 - Estádio Germano Krüger - Operário x Cuiabá (B)
15h30 - Arena Joinville - Joinville x Botafogo-SP (B)
16h - Estádio Frasqueirão - ABC x Salgueiro (A) 
17h - Estádio Passo das Emas - Luverdense x Tupi (B)
19h - Arena Florestão - Atlético-AC x Globo (A) 
19h - Arena Batistão - Confiança x Remo (A)  (transmissão pelo Esporte Interativo)

Manchetes do dia (21/07)

A manchete do bem: Saldo de empregos tem 1.° resultado positivo no ano.

As outras: Cai o número de multas aplicadas por uso de celular ao volante, Financiamentos para compra de veículos novos em alta e Concurso para a UFRN abre inscrições na segunda-feira (23).

Bom dia, minha gente!

Fonte: Tribuna do Norte

Today's headlines (07/21)

The headline for good: A 4-day workweek? A test run shows a surprising result.

The others: Missouri duck boat accident kills 17, including 9 from same family, Michael Cohen secretly taped Trump discussing payment to Playboy model and Tribe's lone survivor glimpsed in Amazon Jungle, healthy and at work.

Good morning, everyone!

Source: The New York Times

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Podcast: De comida e casamento

Os riscos da comida noturna e que o casamento atrapalha/favorece.


Em todas

O Rio Grande do Norte parece mesmo ter uma nova paixão, além das oligarquias: Rosalba Ciarlina. 

A prefeita de Mossoró foi governadora acompanhada de Robinson Faria como vice. Na eleição seguinte, elegeu o seu vice, que é o atual governador, e agora vai emplacando o filho Kadu como vice de Carlos Eduardo, que renunciou à prefeitura de Natal para tentar o governo.

Parece que Rosalba não deixará o governo do RN tão cedo, não é mesmo?

Manchetes do dia (20/07)

A manchete do bem: "Dr. Bumbum" e mãe são presos no RJ.

As outras: Esquadrilha da Fumaça está hoje em Natal, UFRN melhora avaliação, mas cai em ranking de universidades e 1 em cada 3 potiguares está com as contas atrasadas.

Bom dia a todos!

Fonte: Tribuna do Norte

Today's headlines (07/20)

The headline for good: On Trump's car tariffs, companies are united in dissent.

The others: Israeli law declares the country 'the nation-state of the Jewish people', Climate change is killing the cedars of Lebanon and What stays on Facebook and what goes? The social network cannot answer.

Good morning, everyone!

Source: The New York Times

quinta-feira, 19 de julho de 2018

Cascatinha na TV Mecão

Por dentro do STF - parte 8

Eis a parte derradeira do interessante relato de Roberto Pompeu de Toledo a respeito da intimidade do Supremo Tribunal Federal publicado pela revista Veja na edição de 16 de maio de 2018. Clique para entender o relato completo: parte 1, parte 2, parte 3, parte 4, parte 5, parte 6, parte 7.

A sala do ministro Edson Fachin, cheia de livros, lembra uma livraria . Não pelas estantes que percorrem de ponta a ponta a longa parede, mas pela mesa que, suportando pilhas e pilhas de livros, replica as mesas em que as livrarias expõem os últimos lançamentos. O ministro diz que a trabalheira tem sido tão grande que lhe falta tempo para ler. Como dizer que não tem lido, com tanto livro sobre a mesa? "Ah, mas são todos de direito penal." Na atividade acadêmica não é essa sua especialidade. "Eu me casei com o direito civil, mas aqui me vi obrigado a mudar a relação jurídico-afetiva para o penal".

Fachin foi nomeado para o Supremo, pela presidente Dilma Rousseff, em junho de 2015, para preencher a vaga de Joaquim Barbosa, e desde então a política bate à porta de seu gabinete. No impeachment de Dilma foi relator do recurso com que o governo tentava invalidar atos da Câmara (negou-o). Veio em seguida a crise fiscal dos estados, e viu-se numa reunião com nove governadores. "Essa reunião deveria ter sido do outro lado da rua, não era matéria para o Judiciário resolver." Com a morte de Teori Zavascki, herdou-lhe a relatoria da Lava-Jato. Que sensação experimentou quando lhe caíram sobre os ombros os mais decisivos processos dos dias que correm?

"Vou lhe responder de outra forma. Outro dia um ex-aluno veio me visitar e perguntou se eu estava feliz. Respondi: estado de felicidade, nos tempos atuais, é um querer excessivo. Estou satisfeito. Satisfeito no sentido de que me propus a mudar da Primeira para a Segunda Turma, para substituir o ministro Teori, fiquei por sorteio com os processos, e um conjunto de ações nos últimos meses permite que seja otimista quanto aos resultados."

Apesar da reação em contrário dentro do Supremo?

"Os pilares fundamentais da Lava-Jato estão de pé: execução em segundo grau, apesar de todo o seu aspecto controvertido, o valor jurídico das delações premiadas e a importância de manter as prisões preventivas, observados certos limites. Você indagaria: vai ser mantido o tripé? A maioria do plenário aponta nessa direção."

Fachin identifica uma transformação da percepção das pessoas com relação ao Supremo e à Constituição: "Quando eu era estudante, na década de 70 e um pouco na de 80, pouco se falava do Supremo, e a Constituição era vista num plano de cidadania idealizada. Os nós que a Constituinte não desatou ficaram para o Judiciário. O deslocamento da política para o direito é isso: uma tentativa de desatar os nós em que não houve vencedores. Chegou-se a um impasse, e alguém precisa desatá-los".

O ministro tem outro compromisso, a conversa se encaminha para o fim. Última pergunta: e as ameaças que revelou terem sido endereçadas a ele e à família? Resposta: "A presidente tomou providências e está tudo sob controle". É tudo o que o senhor pode dizer? "Sim, tudo."

Nossa maratona de entrevistas se encerrará com o decano Celso de Mello, em seu gabinete, no 6.º andar do Anexo II. O ministro, previsivelmente, marcou para as 8 da noite. As noites são suas companheiras; ele as atravessa compulsando os livros e tomando notas. Três horas de sono lhe bastam. O aparelho de som toca música clássica (Chopin, Sonata para Piano N.º 2). O ministro combina prodigiosa erudição com prodigiosa memória. Lembra-se da única ocasião em que encontrou o visitante, 25 anos atrás, da pergunta que lhe fez e da resposta que deu.

Diz que conheceu Cármen Lúcia pelos livros de direito público, inclusive constitucional, de que é autora. Sempre a admirou, e ao lê-la pensava que poderia vir a fazer parte do tribunal. "Saíram notícias de que eu estaria estremecido com ela, mas não é verdade. Apenas lhe falei, com cuidado, sobre a necessidade de votarmos a ação sobre a aplicação da pena depois de condenação em segundo grau." Celso de Mello cita um professor na Faculdade de Direito da USP, Luís Eulálio de Bueno Vidigal. "Ele falava da 'indeclinibilidade' da prestação jurisdicional. É preciso dar resposta às demandas."

O decano, assim como Marco Aurélio, é contra a prisão antes que se esgotem as quatro instâncias recursais. Cita o artigo 393 do Código de Processo Penal (hoje revogado), que prescrevia "prisão imediata" do condenado, e o decreto-lei 88, editado quarenta dias depois de inaugurado o Estado Novo, que criava o "Tribunal de Segurança Nacional" e imputava ao réu o ônus de provar a inocência. São aberrações que se devem evitar. "A regra de prisão só depois do trânsito em julgado, em que nossa Constituição repete as da Espanha e da Itália, é antídoto contra arbitrariedades."

Conversar com Celso de Mello é abrir-se a uma catadupa de raciocínios e argumentos sobre questões atuais, reminiscências, episódios históricos, uma questão levando a outra, às vezes um enunciado conduzindo a desvios que conduzirão a outros desvios antes de fazer o caminho inverso para se engatar às premissas que os motivaram. A mesa em que estamos fica no fundo da sala; há livros em cima dela, na estante ao lado e em outras mesas, mais afastadas. O ministro pega um livro, lê um trecho, pega outro e pede ao interlocutor que leia o artigo de lei para o qual aponta. Às vezes levanta-se para pegar um libro mais distante e o faz com dificuldade. Está com um problema na ponta do fêmur que lhe atrapalha os movimentos. Para caminhadas mais longas, socorre-se de uma bengala. Uma cirurgia não resolveria o problema? "Sim, mas eu teria de parar de trabalhar por dois meses, e isso prejudicaria o tribunal."

Para Celso de Mello o trabalho é a vida e a vida é o trabalho. Sua rotina é ir de casa para o Supremo e do Supremo para casa. Ele não vai a festas nem frequenta palácios. "Agradeço os convites, mas não vou." Quando estudante, assistiu a uma palestra em que o então desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo José Geraldo Rodrigues de Alckmin (depois ministro do Supremo) discorreu sobre a vida de juiz. "Juízes, especialmente no interior, são muito requisitados por prefeitos, vereadores, delegados de polícia. Não vá, nos dizia o desembargador Alckmin. Se for impossível recusar o convite, aplique a regra dos três 'S': saudar, sorrir e sumir."

Já passa das 22 horas. Um assessor aproxima-se para lembrar que termina às 23h59 o prazo para votar em matéria pendente no plenário virtual. No plenário virtual, em que os ministros operam na tela do computador, as votações iniciam-se à zero hora de uma sexta-feira e se encerram às 23h59 da quinta-feira seguinte. Celso não se apressa. Ainda discorre sobre os ministros que mais tempo ficaram no tribunal, no período republicano. O mais longo período foi o de Hermínio do Espírito Santo - 29 anos, onze meses e 24 dias. O segundo, o de André Cavalcanti - 29 anos e oito meses. E o terceiro já é Celso de Mello. Ele está perto da primeira colocação. Aos 72 anos, sobra-lhe tempo para conseguir alcançá-lo. Tentará fazê-lo? "Não sei..." Faz uma expressão de cansaço. "Com esse problema na perna..."

Nesta noite, 26 de abril de 2018, esta unanimidade entre os colegas que é Celso de Mello, considerado esteio moral do Supremo, está completando 28 anos, oito meses e nove dias no cargo. À saída, a Praça dos Três Poderes está deserta, e a dama de pedra, condenada ao plantão perpétuo como guardiã dos guardiães da Constituição, cumpre seu solitário dever com ares mais desamparados do que nunca.

NOTA: quatro ministros não foram entrevistados para esta reportagem. Rosa Weber tem por princípio (respeitável) não receber jornalistas. Marco Aurélio se diz temporariamente fechado à imprensa. Ricardo Lewandowski e Alexandre de Moraes não responderam ao pedido de entrevista.