Dizem que clássico não tem favorito. Tem sim. Só que o favoritismo, principalmente no futebol, não é uma ciência exata. Ele pode ou não ser confirmado no campo de jogo.
Basta verificar uma casa de apostas para saber se há ou não favorito para um jogo. Isso é uma festa na Inglaterra, por exemplo.
Um clássico valendo título tem muito mais variantes a condicionarem este favoritismo, mas ainda assim é possível apontar quem chega com pinta de campeão, mesmo que apenas levemente superior ao adversário. Negar isso é não dar a cara para bater e adotar o por vezes chato "politicamente correto".
Campo de jogo é um dos fatores. Historicamente, mandantes vencem em seus domínios. Empates são um pouco mais frequentes do que vitórias dos visitantes. Por quê? Acho que isso se deve ao fator conforto: o mandante se sente bem à vontade em jogar onde normalmente atua. O visitante tem apenas 90 minutos para processar detalhes como gramado, vento, dimensões. Torcida também pode influenciar o desempenho de ambos os times e da arbitragem, seja positiva ou negativamente. É a tal da pressão.
Outro fator é a própria reação de jogadores e treinadores à pressão. Como em todos os campos da vida, há os que só rendem na pressão. No caso de jogadores, são aqueles conhecidos como decisivos. Às vezes não passam de jogadores regulares durante todo o campeonato. Mas gostam de ser provocados, desafiados, postos à prova. Numa final então, viram gênios e são fundamentais à conquista.
Há também os que desaparecem na pressão. O descontrole emocional os fazem trocar os pés pelas mãos e ter desempenho medíocre. Estes são normalmente tidos como amarelos ou amarelões, já que falham nos momentos cruciais, ainda que tenham arrebentado até então.
As campanhas dos envolvidos são outro fator. Não que entrem em campo na hora do jogo, mas influenciam na confiança que cada um terá para buscar o resultado.
Nesta final ABC x América, a pressão corre solta, de todos os tipos e em todas as direções. Final já é pressão. Num clássico, é verdadeiro teste para cardíaco, como gosta de dizer Galvão Bueno. No Potiguar 2015, o América tenta o bicampeonato; o ABC, o fim de um jejum de 4 anos. Tudo isso ficou elevado à máxima potência: é a final do ano do centenário dos clubes natalenses, título que será exaltado por muitos e muitos anos vindouros.
Sobre as campanhas, tudo igual. Cada um com um turno de forma incontestável, embora o campeão do 2.° turno normalmente esteja mais embalado, o que não se confirmou no 1.° jogo da final.
No campo de jogo, a vantagem é do ABC. Conhece seus domínios e terá mais torcedores nas arquibancadas.
Na questão pressão, uma certeza. Boa parte do elenco americano e a comissão técnica já provaram que reagem bem à pressão. Max, Cascata, Flávio Boaventura, Daniel Costa, Thiago Potiguar, Adriano Pardal e, claro, Roberto Fernandes parecem gostar de provocações e desafios. Do outro lado, o destaque fica para a frieza de Saulo, Reginaldo e Fabinho Alves
De quem é a vantagem então? A do ABC é claramente pelo mando de campo e pela confiança da campanha sem derrotas. O fato de o América estar mais habituado à pressão pode pesar na hora do jogo, como ficou claro na 1.a partida. Só saberemos depois do apito final. E olhe lá se esta final não reservar uma interminável e angustiante disputa de pênaltis.
Como não sou de ficar em cima do muro e considerando os últimos acontecimentos, fico com a capacidade que Roberto Fernandes tem de agigantar seus times e desestabilizar seus adversários em situações como essa. Cravo o América como favorito.
Indubitável mesmo é que o futebol do RN merecia uma final dessas no centenário de seus maiores clubes. Que vença o melhor!