6 anos depois a história se repete. Ou, como diria Karl Marx, a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa. Mais uma vez o América, com a melhor campanha, chega como grande favorito a um título estadual. Vamos relembrar?
Em 2007, o América tinha mais de 10 pontos de vantagem sobre o 2.º colocado ao fim da fase de classificação. Naquele ano, a melhor campanha trazia de vantagem ao seu dono o mando de campo no 2.º jogo decisivo e o fato de jogar por dois empates. Também naquele ano, o América estava sem o Machadão por causa de reformas. Passou o ano jogando entre Mossoró e Parnamirim, no terrível campo do Potiguar. Aí o Abc ofereceu o Frasqueirão para os jogos finais com a promessa de dividir a renda, apesar de só disponibilizar em torno de 4.000 ingressos para a torcida do América. Ou seja, o América abriu mão de jogar com o mando de campo a seu favor por duas rendas divididas ao meio. O castigo veio a cavalo: 5x2 para o adversário, com a ajuda de Estevam Soares, que resolveu escalar o lado direito da defesa com jogadores que vinham há 60 dias parados (Eduardo Arroz e Fernando Lombardi). Tragédia.
Deveria ter ficado a lição. Deveria, mas não ficou. E como diria Marx, a primeira é tragédia, a segunda é farsa.
Em 2013, o América também chega com não sei quantos pontos de vantagem sobre o 2.º colocado ao fim da segunda fase. E isto apenas lhe dá o direito de fazer o 2.º jogo decisivo em sua casa. De novo, o América não joga no Machadão por reformas. No entanto, já tinha um canto para chamar de seu: o Nazarenão em Goianinha. Mas eis que surge Marconi Barreto, empresário matreiro que aplicou um belo canto de sereia na torcida do América. A "Arena" Barretão seria moderna, teria grandes públicos em virtude do pessoal da região estar ávido por futebol, e o acesso seria facilitado com trem a 50 centavos e ônibus para o estádio a 1 real. Hordas e hordas de americanos, alguns até notórios, defendendo a ida do América para essa Arena que caiu do céu. Ou seja, mais uma vez o América abriu mão de sua vantagem. E de novo o castigo veio a cavalo: perdeu mais um título "ganho".
E a super Arena Barretão? Moderna? Sim. Tão moderna que nem a sua construção acabou. Estacionamento caro (R$ 5) e num charco. Lama dentro e fora do estádio. Não havia banheiros físicos para a torcida, só químicos, típicos de festa de rua. O novíssimo alambrado não aguentou nem o 1.º tempo da final. Um torcedor gastou 40 minutos para comprar um ingresso porque a impressora não tinha tinta. Várias quedas de energia no estádio atrapalharam o trabalho da imprensa.
E o acesso? Dá para ir a Goianinha e voltar de lá só no tempo que se gasta para chegar no super bem localizado estádio (ou seria Arena?) de Marconi Barreto. A volta é um caos. Agora muitos se perguntam: onde está o trem de 50 centavos e o ônibus de 1 real para chegar à Arena (ou campo mesmo?)? Ninguém fala mais no assunto. Por que eu, que sempre fui contra, iria falar, né?
Para resumir, os públicos dos jogos contra Atlético-PR e Potiguar não justificam a modificação para Ceará-Mirim. Jogos decisivos que eram e que não superaram a capacidade de 5.400 lugares do Nazarenão. Sei que o custo das arquibancadas móveis é o grande empecilho de Goianinha. Mas não havia necessidade de tirar do América a única vantagem que ele tinha na final do estadual. As arquibancadas não seriam necessárias, tanto porque não havia exigência da Cbf nem da Fnf (Copa do Brasil e estadual), como porque os públicos de ambas as partidas não atingiram a capacidade máxima do Nazarenão.
Mais uma vez, o América abriu mão da vantagem do mando de campo iludido por um canto de sereia. Até quando?
De minha parte, sócia que sou e apaixonada pelo América que faz de tudo para não perder um jogo apesar dos terríveis horários da Cbf, já havia decidido diante dos transtornos no jogo da Copa do Brasil que este ano só acompanharia o América pelo rádio e pela tv. Ontem, com o acúmulo e aumento dos problemas, muitos outros decidiram o mesmo. Afinal, a volta de um jogo em Ceará-Mirim é muito perigosa ante a realidade de violência entre as torcidas. Velocidade de funeral, só uma faixa com quase nenhum acostamento, engarrafamento e todos por um único caminho. Some-se a isso os que bebem e dirigem (só eu escapei de 2 batidas na volta do jogo da Copa do Brasil). Se eu reclamava de 3 horas gastas por jogo em Goianinha, 6 horas em Ceará-Mirim são muita coisa numa época de corrida contra o relógio. Daí a realidade de esperar ansiosamente a volta do América a Natal para poder acompanhar um jogo no estádio. Acostumar-se é que será fogo!
De fato, a história se repete como tragédia e, na segunda vez, como farsa.