Já participei de muitas carreatas, tanto em campanhas políticas como em comemorações desportivas. Em cada uma delas, alguma história muito engraçada ou particular para contar. Mas desconfio, observando pelas duas últimas de que participei, que não tenho mais nem ideia de como se faz uma carreata.
Na sexta-feira, fomos apenas eu e Janaina participar de uma carreata da governadora Fátima em Parnamirim. Uma ruma de carros e alguns carros de som de candidatos diversos entre elas. Acabamos ficando quase na rabeira. Andei por ruas em Parnamirim que nunca vi na vida, principalmente depois que saímos da rua do CT do América. Era tanto carro que não dava para ver nem de longe o início da carreata.
Até que, depois de algumas horas, tudo parou numa determinada rua com uma rotatória. Ninguém andava. Com muito esforço, conseguimos avançar pelo lado dos carros estacionados. Quando enfim alcançamos a rotatória, cadê a carreata? Acabara sem dar o menor sinal dos carros iniciais. A sorte é que eu reconheci a rua onde estávamos paradas como sendo o finalzinho da que passa do lado do Parque Aristófanes Fernandes, da qual eu utilizo muito a parte inicial para ir ao Fórum da cidade. Vim descobrir os discursos que ocorreram somente nas redes sociais das candidatas Fátima e Divaneide, muitas horas depois.
Mas nada, nadinha supera a carreata que pretendia acompanhar o América do aeroporto até a sede social do clube ontem. Quando o aeroporto era em Parnamirim, essas carreatas eram praticamente um Carnatal com todo mundo acompanhando a pé ao lado dos carros na maior alegria. No entanto, como diria o saudoso Chico Inácio, agora tudo mudou.
Primeiro, essa tronchura de aeroporto que inventaram para Natal deve ser o único exemplar do mundo que cobra só para você entrar no terreno. Sim, você paga mesmo que não tenha a menor intenção de estacionar nele.
Mais: propositadamente, a cancela de cobrança fica a uma distância absurda dos locais de embarque e desembarque, praticamente impedindo que você tenha tempo para carregar/descarregar malas se a viagem for mais longa sem estourar os absurdos 15 minutos de tolerância, ainda que você vire piloto de Fórmula 1 no deslocamento entre cancela e os portões de embarque e de desembarque.
Ontem então chegamos e eu resolvi entrar. R$ 18 por apenas 1 hora. Não se pode desperdiçar um só segundo por ali e mal tive tempo de ver que a cobrança adicional era absurda. Se estourasse a 1.ª hora, a 2.ª sairia por mais de R$ 30!!!
Dei a volta naquela imensidão sem propósito apenas para acompanhar a movimentação porque tinha certeza de que o América ainda não havia desembarcado.
Sem estourar os 15 minutos, arranjamos uma vaguinha logo após o portão de saída para aguardar a passagem do ônibus do América. Muita gente lá fora com a mesma intenção. Fizemos a festa dos vendedores de bandeiras. Janaina barganhou com um e comprou uma bandeirinha de vidro e uma bandeira bem maior, dessas que a gente termina amarrando no pescoço quando está com ela em eventos.
(Imagem de minha autoria)
(Imagem de minha autoria)
De lá, a gente acompanhava o que acontecia no aeroporto pelas redes sociais. O América não saía porque a multidão não deixava passar. Só que a hora ia avançando e havia uma programação anunciada de desfile em carro do Corpo de Bombeiros da sede social para a Arena das Dunas e show de Márcia Freire por lá às 18h.
Depois de muito atraso, enfim o ônibus apareceu. Todo mundo fora dos carros com bandeiras, faixas, buzinando e aplaudindo a delegação que encerrou o pesadelo da Série D para o América com chave de ouro.
O ônibus passou e todo mundo correu para os carros. Carreira para entrar em fila. Que fila? Filas! Todas as faixas com veículos de pisca alerta ligado. Só que o ônibus do América disparou desvairado e aí a carreata passou a se locomover perigosamente colada e em alta velocidade. Com uma rotatória logo à frente, foram pelo menos umas duas freadas à minha frente de fazer subir o cheiro de pneu queimado.
Quando enfim o nó se desfez, cadê o ônibus? Foi pelo acesso sul ou norte? A carreata se dividiu ante a indecisão. Eu só não tomei o caminho errado porque havia um senhor estacionado na saída para a Zona Norte e perguntamos a ele por onde o ônibus do América havia seguido. Demos a volta na rotatória para seguir pelo acesso sul enquanto a fila da carreata seguia na indecisão.
Precisando acelerar mais do que imaginava e muito mais do que a bandeirinha do carro aguentava sem prejudicar a lataria (por isso também detesto esse tipo de bandeira), parei no acostamento para que Janaina fosse removê-la. Janaina também recolheu a outra bandeira que tínhamos (com mastro). Não tinha como segurar se fôssemos mesmo tentar alcançar o ônibus da delegação.
Velocidade disparada. Eu já estava 20% acima do limite permitido e nem de longe via o ônibus do América com os batedores. Era todo mundo correndo. Para piorar, surgiu uma viatura da Polícia Civil que parecia agoniada em estar numa fila de carros do América, apesar de que a velocidade empreendida era alta. Ela me seguia nos cortes que eu fazia, eu sempre apontando com a seta para onde ia. Numa dessas, liguei a seta, iniciei o movimento e a viatura resolveu se jogar antes de eu terminar a ultrapassagem. Recuei mesmo tendo a preferência para evitar o acidente. Tive tempo de olhar para o motorista e lançar um "Bonito. Parabéns!" para ele. Acho que ele devia estar mesmo era com dor de cotovelo pela alegria alheia porque nem de sirenes ligadas, o que obrigaria todo mundo a lhe abrir caminho, ele estava.
Acesso a Macaíba e nada do ônibus do América. Só que aí a velocidade despencou para o que se espera de uma carreata, pelo desvio que é preciso fazer pela outra mão. Janina botou a bandeira nova (só tecido) para fora. Liguei o pisca alerta.
Mais à frente, o sinal de Macaíba. Nem nas partes altas da pista dava para ver ao menos o rastro do América com os batedores. Junto a nós havia mais dois carros também apressados em busca da carreata. Janaina recolheu a bandeira e eu desliguei o pisca alerta. Não fazia mais o menor sentido, uma vez que a carreata onde eu estava ficara bem para trás e a outra (imagine quantas, já que uma seguiu pela Zona Norte...) sumira com o América.
Limite máximo na BR-101 em Parnamirim e umas esticadas onde era possível e seguro, e começamos a ver o rastro da carreata já no viaduto de Ponta Negra. Nessa altura, eu já havia desistido de ir até a sede. Quase 17h, isso significava um trânsito infernal para voltar e eu ainda tinha que buscar uma amiga. Entrei para o Mirassol enfim sabendo que o ônibus já seguia no viaduto do 4.° Centenário.
A amiga terminou desistindo de ir para o show de Márcia Freire. Mas era fim da carreata para nós. A carreata mais louca que já vi na vida e que me fez ter a certeza de que nunca mais vou recepcionar o América naquele aeroporto. Ou até posso ir, mas jamais para seguir em carreata depois. Se um dia o de Parnamirim voltar ou normalizarem no atual que só se paga para acessar o estacionamento, e não para acessar o aeroporto, pode ser que eu mude de opinião.
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