Não conheço outro povo e até mesmo outro esporte que joguem tanta carga num resultado de partida na arbitragem como o brasileiro e o futebol.
Tudo de ruim é culpa do juiz, até quando ele sabiamente deixa o jogo rolar com um critério mais estrito do que seja falta.
O futebol brasileiro tornou-se chato de assistir. Qualquer toque, jogadores voam, rolam, gritam como se estivessem a ter uma perna amputada ali mesmo, sem qualquer anestesia.
Durante um bom tempo, os árbitros brasileiros caíam nessa esparrela. Jogadores que cavavam faltas e pênaltis inexistentes sempre foram exaltados, talvez a melhor constatação do sério problema ético da nação brasileira.
Há uns 10 anos, lembro de ter visto um jogo aqui no RN pela Série B em que o atleta que acabara de entrar na partida correu imediatamente para a área e lá se jogou em busca de um pênalti. Só faltou prestar atenção ao seu redor, posto que não havia jogador adversário nas proximidades, mas isso bem mostra a realidade de então.
De lá para cá, alguns árbitros agiram para aproximar o futebol brasileiro do que se vê ao redor do mundo. Futebol, como basquete, é um esporte essencialmente de contato. E se todo contato virar falta é melhor fecharmos essa bodega. Quem aguentaria um jogo parado a cada 10 segundos porque fulano colocou o braço em cicrano, ou beltrano encostou em fulano?
Mas o futebol, especialmente o brasileiro, tem umas adorações esquisitas. Tem gente que idolatra Maradona, um cara que fez um gol de mão numa Copa e teve coragem de dizer que foi a mão de Deus ali e que viu um jogador brasileiro (Branco) ser dopado intencionalmente pela Argentina na Copa 1990 e contou isso rindo num programa de TV. Isso para não falar no fato de que ele mesmo jogou a Copa 1994 dopado.
Alguém pode até concordar comigo na indignação acima. Mas se em vez de Maradona fosse um jogador brasileiro, eu poderia até ser acusada de torcer contra o Brasil. É o velho e chato "dois pesos, duas medidas" que teima em imperar no futebol daqui. Antes fosse só no futebol...
Eu já vi e revi umas quatrocentas mil vezes os lances reclamados pela Seleção Brasileira de futebol masculino no jogo contra a Suíça. No momento do gol da Suíça, por exemplo, a primeira coisa que questionei aos meus companheiros de audiência foi por que Alisson não saiu do gol num lance dentro da pequena área. Estaria ele esperando a morte da bezerra?
Depois veio o replay e a reclamação de falta em Miranda. Desculpe, gente, mas se aquilo for falta, teremos mais de 200 dessas, fora os pênaltis por jogo. É que os zagueiros fazem aquilo direto. Aquele tipo de lance só seria falta se o jogador estivesse no ar. Aí sim qualquer toque vira falta. No solo, é mera disputa por espaço. E não é porque o lance foi de autoria de um atacante sobre um zagueiro que ele passa a ser falta. Há lances bem piores em que um mete o ombro jogando o outro longe e em que a falta não é marcada porque não existe. É mero uso do corpo. Mas o futebol brasileiro acostumou-se com uma marcação exarcebada de faltas e pênaltis a cada partida. Isso até já levou à criação de um termo específico (pênalti à brasileira) para indicar aqueles pênaltis que não seriam pênaltis em lugar nenhum do mundo, só aqui mesmo.
Voltando ao lance em um dos trocentos replays que vi, prestei atenção na reação dos jogadores na hora. Todos se olham em cobrança pela falha na marcação. Todos, menos um. Miranda, que sofrera a "falta"? Não. Alisson, que não saiu do gol, é o primeiro a reclamar da tal falta. Só aí o pessoal se junta para cobrar o árbitro.
Na coletiva, Tite ainda revelou que o próprio Miranda não tinha convicção da falta sofrida. Disse que deveria ter se jogado para que ficasse caracterizada. Mas o próprio Tite disse que isso seria simulação. Oxe, no meu vocabulário futebolístico, simulação é quando alguém tenta dar um migué no juiz para que seja dada falta num lance normal...
Sobre o pênalti de Gabriel Jesus, também fico com o juiz. Tudo bem que, de fato, o marcardor quase o abraça por completo, o que até poderia ter ocasionado mesmo o pênalti. Mas se de fato o cara puxa o brasileiro para baixo e para trás, como é que Gabriel termina o movimento num rodopio espalhafatoso? Se contrariou as leis da Física é porque foi mais um lance típico do futebol brasileiro - a tal da encenação.
A verdade verdadeira é que Neymar, de quem mais se espera nesta Seleção, amarelou. Seus primeiros lances no jogo já mostravam isso. Nada de dar passes e partir para cima do adversário. Prendeu a bola e ficou esperando a falta em lances sem qualquer efetividade para o time. Só entrou em campo lá para os 12 minutos do 2.° tempo e, ainda assim, longe do que se espera.
Cito Neymar por seu destaque, mas outros também estiveram bem abaixo, como seu companheiro da esquerda Marcelo.
E depois que fez o gol, o Brasil deixou de ser Brasil. Nada de querer ampliar o placar. Pior: depois que tomou o gol, o time desandou de vez. Aí foi a vez do competente Tite encarnar Ney da Matta, ex-América, trocando 6 por meia dúzia e ainda piorando o time.
Do outro lado, uma Suíça que marcou bem, mas não se resumiu a isso. Jogou. E encurralou a Seleção que é sinônimo de futebol mundo afora. O que a arbitragem tem a ver com isso?
Outra coisa: o empate saiu nos primeiros minutos do 2.° tempo. O Brasil teve o tempo inteiro para mudar seu destino.
Sobre a arbitragem de vídeo, eu só tenho uma ressalva: acho que o vídeo deveria ser visto pelo árbitro quando requisitado pelos times nestes lances capitais. Nos lances desse jogo, nada mudaria, visto que típicos de interpretação, e a do árbitro é a majoritária no mundo todo, menos no Brasil. No entanto, a reclamação perderia força, visto que ficaria claro o uso da tecnologia para reforçar a interpretação.
No mais, o brasileiro adorador de futebol precisa deixar a posição de eterna vítima. Num jogo, além da arbitragem e dos 11 do nosso time, há 11 do outro lado que também querem ser bem sucedidos e trabalham duro para isso. No dia que entendermos isso, pode ser que esse eterno e chato choro de perdedor acabe. E olhe que, neste caso, nem derrota houve, e sim um empate.
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