sábado, 30 de junho de 2018

A maldição do título

Quase me escapou o texto que o tricampeão Tostão escreveu para a Folha de S.Paulo a respeito da tal maldição que atinge a seleção campeã de uma copa na edição seguinte, quando é eliminada ainda na 1.ª fase. Não li o texto todo, mas os trechos que foram publicado pelo Jornal de WM na Tribuna do Norte de sexta-feira. Destaco exatamente o trecho em que ele fala disso.

A maldição psicológica e técnica de o campeão do mundo ser eliminado na primeira fase da Copa seguinte atingiu a Alemanha, uma decepção, com três péssimas atuações. Eu estava presente, em 1966, quando o Brasil foi desclassificado, na fase inicial, após ser campeão em 1962. A diferença é que o Brasil, na época, enfrentou duas fortes seleções, Portugal e Hungria. A Alemanha perdeu para a Coreia do Sul e para o México. A torcida brasileira ficou dividida, em querer dar o troco na Alemanha e, ao mesmo tempo, aliviada, traumatizada com os 7 a 1.

Nem sabia disso. Todavia, no caso do Brasil, a eliminação precoce na Copa 1966 não fulminou a seleção campeã da edição anterior, mas a bicampeã mundial, vez que a Canarinha conquistou as edições de 1958 e 1962 em sequência. Deve ter sido um trauma maior do que os 7x1 da semifinal passada. Assim como o fora o Maracanaço de 16 de julho de 1950 - tão traumatizante que até a data é lembrada.

Relembrando a história das copas, o campeão de 1930 nem participou da edição de 1934. O problema não foi maldição ou eliminação, e sim um boicote mesmo. O Uruguai resolveu dar o troco na copa italiana ao boicote que o continente europeu empreendera ao torneio disputado no país platino. 

Em 1938, na França, a Itália não foi assombrada por nada e conquistou o bicampeonato em sequência. As copas seguintes é que foram amaldiçoadas pela 2.ª Guerra Mundial e o torneio só voltou a ser disputado em 1950, desta feita na América do Sul, especificamente no Brasil. E aí conhecemos a história que levou o Uruguai ao título em pleno Maracanã entupido de gente.

Em 1954, na Suíça, o campeão anterior Uruguai só caiu na semifinal para a Hungria, que terminou sendo vice da Alemanha.

Na copa seguinte, em 1958, na Suécia, a então campeã Alemanha acabou no 4.º lugar. E o mundo se rendeu a Pelé, Garrincha e Didi, com o Brasil, país sinônimo de futebol, sendo campeão pela primeira vez. Em 1962, no Chile, o Brasil repetiu a dose.

Em 1966, na Inglaterra, aí sim a tal da maldição deu às caras de fato pela primeira vez e o Brasil caiu na fase de grupos como 3.º colocado num grupo com Portugal, Hungria e Bulgária.

Em 1970, no México, o Brasil lambeu as feridas e formou um time cantado em verso e prosa como uma das melhores seleções de todos os tempos. Nada de esquema tático retrancado. O Brasil mostrou ao mundo pela TV como é que se joga bonito (saudades de ver isso no futebol moderno...) e vence.

Em 1974, a Copa voltou para a Europa. E os alemães, donos da casa, enfim conquistaram o seu 2.º título - 20 anos depois do 1.º. O Brasil acabou sucumbindo ao grande futebol da Holanda, a famosa Laranja Mecânica já na beira de chegar à final.

Em 1978... bem, 1978 foi a edição em que rolou aquela desconfiança do resultado de 6x0 conquistada pela Argentina dentro de casa contra o Peru. Esse era o único resultado que tiraria o título do Brasil, que jogara mais cedo.  Já a Alemanha, então campeã, caiu apenas na 2.ª fase.

Em 1982, na Espanha, a Argentina caiu na 2.ª fase. Coube à Itália, depois de 44 anos, conquistar o título, o 3.º de sua coleção.

Na edição seguinte, em 1986, no México, a então campeã Itália caiu nas oitavas de final. E a Argentina de Maradona garantiu o 2.º título de sua história. O Brasil, invicto, foi eliminado pela França de Platini nos pênaltis.

Em 1990, na Itália, a então campeã Argentina chegou até a final contra a Alemanha e só ali sucumbiu. 

Em 1994, nos Estados Unidos, a Alemanha caiu nas quartas de final para a Bulgária. E Itália e Brasil, disputando o o primeiro tetra da história das copas, marcaram o primeiro 0x0 de uma final. Os pênaltis consagraram o goleiro Taffarel e desgraçaram o então melhor do mundo Roberto Baggio.

Em 1998, na França, o Brasil só parou na atuação irretocável de Zidane, que levou a dona da casa à sua primeira conquista.

Em 2002, na primeira vez que a copa chegou ao continente asiático, a maldição do título volta a dar as caras e a França caiu logo na fase de grupos. O Brasil chegou à sua 3.ª final seguida e conquistou o 5.º título em cima da Alemanha numa verdadeira ressurreição de Ronaldo, o Fenômeno.

Em 2006, na Alemanha, o Brasil parou nas quartas de final, mais uma vez diante da França e de uma atuação irretocável de Zidane. A Itália conquistou seu tetra 12 anos depois de ter sido derrotada nessa mesma conquista por Romário e cia..

Na primeira copa disputada no continente africano, em 2010, na África do Sul, a maldição atingiu em cheio a Itália, que caiu na fase de grupos sem vencer uma única partida num grupo com Paraguai, Nova Zelândia e Eslováquia. A Espanha enfim conseguiu ser campeã.

Em 2014, aqui no Brasil, a Espanha caiu logo na fase de grupos. Foi a vez da Alemanha garantir o seu tetra, dessa feita 20 depois da conquista brasileira.

E agora em 2018, na Rússia, ninguém sabe quem será a grande campeã, mas a maldição atacou novamente e a Alemanha foi eliminada na fase de grupos tendo sido derrotada por México e Coreia do Sul, triunfando apenas sobre a Suécia.

Dada a sequência do ataque da maldição, já é possível temer pelo futuro da campeã de 2018. Mas só saberemos mesmo em 2022. 

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