segunda-feira, 11 de junho de 2018

Desabafo de um torcedor

Espaço descaradamente dedicado a discussões, o Só Futebol? Não! sempre deu oportunidade para que outras pessoas publicassem seus textos, desde que dentro da civilidade, obviamente.

E assim o espaço agora vai para o desabafo de Isaac Leandro, mais um decepcionado e preocupado torcedor do América.

Parece já fazer parte da rotina do torcedor americano acordar, para aqueles que conseguem dormir, com um sentimento amargo no início da semana, tamanho e repetidos os insucessos acumulados ao longo da última meia década.

Não me atreveria a fazer uma terapia de regressão para identificar a gênese desta crise ou para eleger seus genitores, mas é preciso que algumas coisas sejam modificadas para que uma história centenária não seja depreciada somente para alimentar a vaidade de alguns.

Ao longo deste ano, que para nós se encerra ainda no início do mês de junho, tivemos que mais uma vez conviver com provas incontestes de que nosso modelo de gestão está falido.

Não sou contrário à presença dos abnegados nas diversas e improdutivas diretorias do clube, mas o departamento de futebol carece de profissionais com estudo e atualização na área, sobretudo se intentamos deixar a linha do semiprofissionalismo.

Repetem-se no América fórmulas que já se teriam por ultrapassadas na década de 80 e sucedem-se presidentes que apenas mudam o titular da arrogância, mas que praticam as mesmas arbitrariedades de seus antecessores, sob o manto da primazia da sapiência individual.

Na atemporalidade do América, acredita-se que desenvolver o etilismo vendo jogo de futebol pela televisão se presta ao conhecimento do esporte, mesmo que os resultados obtidos dentro de campo revelem somente a ebriedade daqueles que comandam os rumos do clube.

De fato, somente com a capacidade intelectiva desfocada se poderia conceber um clube de futebol profissional ainda alicerçado quase que exclusivamente em oligarquias familiares e divorciado daquela que poderia ser sua maior fonte de receitas, qual seja, sua Torcida.

Na verdade, estreitam-se os nichos de poder para esvaziar as ideias contrárias. Centraliza-se o poder na figura do Presidente e faz-se do Conselho Deliberativo um órgão que apenas reverencia as determinações do soberano. No América vigora a imagem do consenso, mas sobram conspirações nos bastidores, sempre para tirar um monarca do trono e substituí-lo por outro ungido em poderes supremos, sem nunca modificar o próprio modelo.

Nestas ocasiões, o Conselho Deliberativo passa a ter relevância, pois é necessário encenar um processo de resgate nas esferas democráticas de poder, para posteriormente devolver ao novo mandatário a vontade absoluta sobre os rumos do clube.

Ao longo das últimas décadas, quase tão certo quanto os fracassos do clube no campo esportivo, foram as renúncias de presidentes e formações de grupos transitórios para gerir a as contumazes crises na instituição.

Há nestes iluminados senhores o apego à fidalguia que outrora permeava a função de Presidente do América Futebol Clube. De fato, ainda persiste este elemento anímico a identificar a sede da Rodrigues Alves como uma confraria dos melhores patrícios da sociedade potiguar, de sorte que não poderia um grupo indistinto de torcedores tomar as rédeas da instituição e levá-la aos rumos da profissionalização.

Essa foi a lógica que nos inspirou a abrir mão das disputas do futebol para construir nossa sede social. De fato, há ainda certa medida de glamour em ocupar a presidência do América. Para isso, paga-se o preço da administração, mais das vezes tirando dos próprios bolsos as receitas para fazer da instituição sua pequena granja no meio de bairros nobres da capital.

Neste caminho, perdeu-se de vista que o América deixou muito sua natureza de clube social e se constitui hoje, quase que essencialmente, em torno do futebol, ganhando um número significativo de adeptos que exigem mudança nos seguimentos do clube, para que seu destino de glórias volte a ser a tônica.

Queridos amigos, não se trata de diminuir o valor do clube e sua relevância histórica para o desporto e sociedade potiguar, mas ter a inteligência e humildade de admitir que o América não mais pertence a uma casta de poucos eleitos e que não pode mais ficar sujeito ao julgo destes poucos “abnegados”.

A corresponsabilidade é uma das demandas mais urgentes para a modernização do clube, inclusive para resguardar sua sobrevivência paras as futuras gerações de torcedores que certamente virão.

No modelo atual, chama-se o torcedor apenas para pagar a conta dos inúmeros erros de avaliação e estratégias equivocadas na gestão do futebol, sem que em contrapartida lhes seja assegurada qualquer possibilidade de participação na administração dos rumos do clube.

Por outro lado, no modelo da corresponsabilidade, o adepto continua tendo parcela de importância significativa na constituição das fontes de receita do clube, tendo também a possibilidade de decidir sobre quem reuniria melhores condições para administrar a instituição.    

Ninguém perde espaço ou importância, apenas se reposiciona a expressão do poder, do mesmo modo como também se divide com maior justiça a responsabilidade pelos resultados obtidos.

A gestão do clube se fará na medida dos recursos alcançados, em grande parte, pela adesão dos sócios, que por sua vez terão a possibilidade de alçar à condição de presidente aquele que trouxer ao clube o melhor projeto de profissionalização.

Tudo muito simples e prático, mas há algo de não natural nesta obviedade que reside exatamente na relutância dos nossos cardeais em permitir que o América seja realmente grande.

Eles não poderiam ser donos do gigante que colocava vinte mil pessoas na Série A. Eles não seriam tratados como semideuses se tivéssemos ídolos dentro de campo. Eles seriam menos importantes se tivéssemos receitas. Por isso, preferem apequenar o clube para agigantar seus egos.

Mais uma vez eu reitero, não sou nem serei jamais contrário aos grandes presidentes do América Futebol Clube, todos com relevantes serviços prestados à instituição e que contribuíram para a formação da história deste clube que teimo em amar, mas é necessário que eles deem lugar ao novo. É preciso que tenham a humildade para perceber que sem o auxílio de pessoas capacitadas e conhecedoras da nova realidade do esporte, somente levarão o clube ao degredo. É essencial concedam ao torcedor o direito de participar da vida do clube, para que este torcedor, em contrapartida, resguarde a própria existência da agremiação no aspecto financeiro. É urgente que eles deixem de ver o América como apenas deles e o enxerguem como NOSSO.

Deixem que sejamos, juntos, responsáveis pelas glórias deste clube, pois, para nós, não basta ser América, é preciso ter orgulho de ser América.   
   
   

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