quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Quando se perde a razão

Existe uma máxima que diz que, quando não há mais argumentos, parte-se para a violência. Essa máxima, infelizmente, resume bem 99% das agressões ou atos violentos dos seres humanos. O fim dos argumentos empurra aquele que se vê encurralado a buscar novas armas, nem que seja literalmente. Um salto em direção aos instintos mais primitivos.

Antes de continuar a leitura, é preciso que você se pergunte se os fins justificam os meios, como defendia Nicolau Maquiavel em seu "O Príncipe". É possível que você responde sem pestanejar. É até provável. Mas é bom saber que tudo tem que ser contextualizado, sob pena de vivermos amarrados a princípios absolutos cuja aplicação poderia nos levar a um caos maior do que o que se tenta resolver. Era o que propunha Recaséns Siches: não podemos aplicar o direito se a sua aplicação vai causar um caos ainda maior.

Agora vamos ao ponto: o caos do transporte público natalense. Caríssimo, ineficiente, degradante nos horários de pico. Tão ruim que empurra a todos para o sonho/sacrifício de comprar e manter um carro ou até mesmo uma motocicleta. Nada preciso dizer mais a respeito desse péssimo serviço, vez que já é de pleno conhecimento de todos.

Aí surgem os protestos. Protesto faz parte do direito de se manifestar livremente, protegido pela Constituição. Mas nem menos nem mais protegido que outros direitos básicos como o direito à vida, a ir e vir, ao patrimônio. Protestar faz bem; alivia a alma. Até nos faz crer que estamos em busca do que almejamos. Cada protesto, um novo passo rumo ao objetivo.

Aqui em Natal, tudo começou com a insatisfação com o governo de Micarla. Depois, passou para o aumento da tarifa em época de eleição - prato cheio para que fossem produzidas imagens marcantes para a mudança de rumo dos eleitores. Os vereadores derrubam, de forma inédita, o aumento da tarifa. Seturn diz que não vai mais conceder o direito de passe livre de 60 minutos. Assim, do nada. Ministério Público e Prefeitura demoram a agir. Novo protesto. E o que era direito passou a configurar abuso de direito e uma verdadeira guinada rumo à violência. 

A quem interessa impedir que trabalhadores cansados cheguem a seu destino após a jornada de lavor diária? A quem interessa incendiar ônibus, destruindo um bem que serve ao povo e pondo em risco a integridade das pessoas? A quem interessa radicalizar um mero protesto de estudantes para que seja necessária a intervenção da Polícia de Choque e os prováveis confrontos que daí advirão? A quem interessa se vangloriar de feridos que mais parecem troféus exibidos em redes sociais? A quem interessa agredir equipes de jornalistas para impedir a liberdade de imprensa? 

De que lado mesmo estão os estudantes? Dos que querem um serviço público melhor ou dos que são adeptos do "quanto pior, melhor" numa eleição? Tão inteligentes e politizados, vão mesmo servir inocentemente de bucha de canhão para quem quer mudar os votos de uma democracia na marra?

Não votei em Micarla. Não votei em Rosalba. Não votei em Dilma.Não me sinto culpada por nada que aí está. Até porque nem anulei meu voto, nem votei em branco. Mas fico perplexa como os que dizem defender a democracia e um mundo melhor não conseguem respeitar a maioria.

E assim, quando os argumentos acabam, quando se perde a razão, vamos à violência. Fuja do maniqueísmo, estudante! Como Sócrates bem dizia, a virtude está no meio.

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