Atire a primeira pedra quem nunca voltou para conferir se havia ou não feito o que deveria fazer. Pode ser trancar a porta de casa, do carro, apagar a luz, enviar uma mensagem, pagar uma conta. A memória, especialmente a curta, nos trai diariamente e sem a menor cerimônia.
Todos os dias eu procuro um culpado para essa traição ininterrupta. Idade? Estresse? Pandemia? Mente? Celular? Tudo junto? Na minha busca, até descobri que a perimenopausa (antes da famosa menopausa) também é capaz de tal artimanha.
Sobre idade, eu queria dizer que quando ainda adolescente na faculdade, eu voltava "n" vezes ao estacionamento para conferir se havia mesmo trancado a porta do carro. Isso me incomodava tanto, que no veículo seguinte que comprei, fiz questão de colocar um alarme que travasse as portas, algo tão comum hoje em dia muito provavelmente pela enorme quantidade de pessoas que sofriam/sofrem do mesmo mal, para evitar pelo menos que tivesse que descer/subir a enorme escadaria do Setor I da UFRN.
Desconfio mesmo é do automático, esse modo que temos de resolver as coisas habituais sem de fato prestar atenção nelas, algo que vem piorando com o uso das redes sociais, aparentemente essesciais a cada pausa que temos em atividades.
Mas resolver, que é bom, nada. Ou pelo menos não há como saber se a solução foi definitiva até que o próximo pequeno ato seja esquecido, interrompendo a calmaria de quando há efetiva dedicação a focar nos hábitos em execução.
Ou seja, a luta concentração x hábito é sem fim e a memória curta parece adorar esse embate intenso para empreender seus ardis. No menor descuido, lá se foi o sossego (tranquei mesmo a porta?). Resta-nos, por enquanto, a certeza da vida que segue no martírio da (des)atenção.