quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

A maior torcida do RN

O globoesporte.com divulgou o ranking das médias de público das Séries A, B, C e D. Em 2015, a maior torcida do Brasil foi a do Corinthians, que colocou, em média, 34.149 pessoas por jogo.

No Rio Grande do Norte, a maior torcida foi a do América, que colocou em média, 4.263 pessoas por jogo. A torcida do Mecão ficou em 39.° lugar nacionalmente. Mesmo na Série C e sem ter alcançado a fase decisiva da competição, o América superou várias equipes da Série B (como o América-MG, que conquistou o acesso à Série A) e até o Brasil-RS, que conquistou o acesso à Série B.

Também do RN, o ABC, apesar de ter disputado a Série B com clubes de grande torcida, ficou apenas em 52.°, com uma média de 2.979 pessoas por jogo, e o Globo, que disputou a Série D, ficou em 84.°, com uma média de 371 pessoas por jogo.

Apesar dos parcos números do RN, a torcida do América superou e muito a soma das médias das torcidas de ABC e Globo. 

O ranking das médias de público só reflete a realidade que já vinha sendo mostrada pelo ranking da Brahma , que monitora o número de sócios torcedores de todos os clubes do Brasil. Nesse ranking, o Internacional é o 1.°, com 147.982 sócios, e o Corinthians é o 2.°, com 135.779 sócios. 

O América responde por 55% de todos os sócios torcedores do RN e é o 1.° no estado. Nacionalmente, é o 34.°, com 2.670 sócios. O ABC é o 38.° nacionalmente, com 2.146 sócios. No RN é o 2.° e responde por 44% de todos os sócios potiguares. 

Apesar de ainda medíocres para o potencial de ABC e América, os números de 2015 coroam, sem espaço para tergiversações, a torcida do América como a maior do Rio Grande do Norte.

"É Série C?"

A pergunta do título me foi feita por mamãe durante Trinidad e Tobago 0x3 México ontem na Arena das Dunas. Achei o perfeito resumo para o que as duas seleções (não) apresentaram. Ainda assim, valeu a pena conferir a partida. A goleira de Trinidad e Tobago é um capítulo à parte. Deve ser, em todo o futebol mundial, seja feminino ou masculino, a goleira que mais leva bolas na trave e escapa de tomar gols. Apesar de compensar com algum frango depois.

E a locução da Arena, hein? Arranjaram outra voz masculina para narrar em "inglês" os acontecimentos. O inglês vai entre aspas mesmo. A voz é até carismática, mas além de insistir em chamar os acréscimos de prorrogação (aqueles dois tempos a mais de 15 minutos cada quando um jogo importante termina empatado - desde que haja previsão), ontem ele trocou a jogadora Quinn por Kim, dentre outras gafes. Para piorar, o locutor em português narrou demoradamente um gol que só ele viu!

A arbitragem do jogo não esteve nada bem. Wilton Sampaio e a auxiliar Neusa Back terminaram abrindo o placar para o México num claro impedimento. Aliás, como Neusa se posiciona mal! Foram muitos os impedimentos que ela deixou passar por isso.

No jogo principal, o esperado: disputa renhida. O Brasil apostando tudo logo no início e o Canadá naquela defesa chata. Foi um bom jogo, com alguns momentos mais chatos, logo compensados pela torcida do setor leste com coisas mais interessantes, como ensinar o povo dos setores iniciais como um Hola funciona (faltou desenhar) e chamar Breno para se juntar à sua família. Uma integrante tentou tantas vezes chamá-lo sem sucesso que a galera resolveu ajudar nos gritos e Breno ganhou um setor inteiro de fama durante o jogo. Para azar dele, o gol do Canadá saiu exatamente quando ele enfim se sentou. Foi tachado de pé frio. Mas tudo acabou bem: Brasil 2x1 Canadá, sendo um dos gols brasileiros uma linda assistência de Marta.

Também acho um show a árbitra Simone Xavier. Seu penteado me faz lembrar a grande Tina Turner. Só isso já vale o ingresso. Pena que não consegui uma foto da árbitra com o penteado usado nesta Copa Caixa para comparação.


No domingo, teremos a grande final e a disputa do 3.° lugar. Ou seja, teremos a repetição da rodada de ontem a partir das 15h30. Será a última oportunidade de conferir in loco a goleira de Trinidad e Tobago, o inglês paraguaio e as gafes da locução e o talento das brasileiras Marta, Formiga e cia. e das canadense Prince, Sinclair e cia. Também é o último dia de acompanhar futebol sem cai-cai. Não dá para perder.

E voltando a Tina Turner, vale relembrar um sucesso dessa grande cantora de voz absolutamente marcante:

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Aonde a vaca vai...

...o boi vai atrás. Assim é a história de ABC e América. Quando a imitação é positiva, ótimo. Mas os dois têm caminhado em direções tortuosas. Depois de se juntarem na Série C, agora América e ABC partem para a mesma estratégia na contratação de treinador: ex-Santos e com ligações à base do clube que revelou Pelé para o mundo.

Primeiro, foi o América que resolveu apostar em Aluísio Guerreiro, que apresenta como experiência ter sido campeão com o Jabaquara em 1993, embora haja controvérsias. Agora é o ABC, que parecia já acertado com Sérgio China, mas anunciou Narciso, cuja grande conquista foi a Copa São Paulo de Futebol Júnior em 2012. A favor do ABC é que Narciso de fato já atuou como treinador profissional e trabalhou no ano passado. Quanto ao América, a manutenção da base do time campeão centenário é um alento. E só.

Vão muito bem os dois grandes do RN. As três primeiras rodadas do estadual prometem.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Seria o fim do "rouba, mas faz"?

Esse era o lema de um político na década de 50. Imaginem o nível da política brasileira: o cara já fazia campanha afirmando que roubaria, mas também lembraria em algum momento do povo...

De lá para cá, a nação brasileira foi se acostumando a todo tipo de ladroagem. Todo político seria ladrão e pronto. O voto na urna seria uma verdadeira licença para os mais terríveis malfeitos com o dinheiro público. Aliás, o conceito de coisa pública era de coisa do governo. E quando vivíamos a ditadura, parecia ser uma espécie de vingança depredar o patrimônio "do governo". E assim surgiu esse sentimento forte de que coisa pública não pertence ao povo, e sim aos políticos da situação.

Só que no meio do caminho havia uma pedra: a constituição de 1988. No afã de ser garantista e impedir novos arroubos que retirassem direitos do cidadão, a carta magna brasileira trouxe importantes instrumentos para que essa triste realidade do "rouba, mas faz" enfim pudesse nos abandonar.

Não, ela não nos abandonou ainda. Afinal, a constituição ainda é jovem (apenas 27 anos). Seus conceitos ainda estão sendo sedimentados, tanto no mundo jurídico, como no mundo cão dos políticos.

Hoje é preciso prestar contas de cada centavo gasto do dinheiro do povo. As negociatas precisam ficar mais escondidas. Tudo é  feito em aparente legalidade. Mas investigações mais aprofundadas, sempre empreendidas pelo Ministério Público, seja federal ou estadual, revelam jogo de cartas marcadas em licitações, propinas disfarçadas de doações, empréstimos e outras vilanias. Ressalte-se que esse papel do MP foi trazido pela constituição de 1988, que lhe deu garantias contra afastamentos a bel prazer dos governantes. O MP deixou de ser advogado do governo para ser fiscal da lei.

Desde a entrevista em que o presidente de então do Brasil disse para todo mundo ouvir que seu partido fizera caixa 2 (motivo que derrubara Collor em 1992), como se um crime cometido por muitos perdesse o caráter de ilicitude, Ministério Público, Polícias e Poder Judiciário parecem ter finalmente compreendido que a nossa constituição não pode ser um texto sem aplicação. Mensalão, Petrolão, Lava Jato, Zelotes e todos os outros escândalos diários e infinitos em todos os níveis de atuação política neste país seguem sendo fustigados, vasculhados e até punidos! Aos poucos, é verdade. Devagarinho, porém, numa marcha sem volta. O recado é simples: aqui já não se tolera mais o "rouba, mas faz". É preciso zelo com o dinheiro suado do povo.

O impeachment de Dilma, por exemplo, desafia politiqueiros Brasil afora. É princípio fundamental de direito administrativo que a administração pública só pode fazer o que a lei expressamente permite. Se não permite, então é proibido. Exatamente o contrário do cidadão. Nós podemos fazer tudo o que a lei não proíba. Se não proíbe, é permitido para nós. Por que a diferença? Proteção ao suado dinheiro do povo! A administração pública, desde o chefe de governo até um mísero estagiário, só pode atuar nos limites da lei. Se a lei proíbe estripulias com o dinheiro público, quem bobear dança. Ou deveria dançar...

E qual o medo dos governantes? Se Dilma cair, uma ruma de prefeitos e governadores devem acompanhar o destino pelo mesmíssimo problema: ginásticas feitas com o dinheiro público para cumprir metas determinadas em lei. Cumprir para inglês ver, diga-se de passagem, porque não houve cumprimento algum. Um ano inteiro de pagamentos realizados por um banco em nome do governo sem que haja dinheiro na conta do governo se chama empréstimo. O dinheiro daqueles pagamentos, que deveria estar ali, foi utilizado para outras coisas. Se você saca dinheiro da sua conta corrente sem que tenha dinheiro nela, já sabe que pagará juros, porque está sendo financiado pelo banco. Mas governos só podem pegar "empréstimos" com autorização prévia do poder legislativo. A lei não permite que o governo use "cheque especial". E quem desafia a lei...

A nação brasileira caminha a pequenos, mas incessantes passos para mostrar que temos apego às leis. Pelo menos nós que não somos políticos. A lei tem que soar como uma espada pronta a desabar sobre a cabeça de governantes sem zelo com a coisa pública. Mas para quem se acostumou com o Brasil do "rouba, mas faz" isso é uma afronta. Daí assistirmos todos os dias a políticos zombando dos outros (não-políticos, claro) que ainda trabalham em prol da nossa nação.

Pode demorar. Dilma pode até escapar, salvando a pele de muitos governantes salafraios por aí, afinal o impeachment é um julgamento político e exclusivamente a cargo de um Congresso desmoralizadamente presidido por um deputado com contas secretas na Suíça. Mas a nação brasileira parece querer seguir um novo rumo, longe de expressões perjorativas como "rouba, mas faz", "jeitinho brasileiro", "país das leis que pegam e que não pegam", e por aí vai.

Muita gente quer seguir esse novo rumo. Falta você, que diz não gostar de política, acompanhar mais de perto o que os políticos andam fazendo com o dinheiro público. Falta pararmos de eleger os que mentem descaradamente. Depois evitaremos os que mentem veladamente. Até sobrarem os bons. Assim faremos. 

Sonho com o dia em que "jeitinho brasileiro" significará honestidade e ética à toda prova. A cada dia que passa ele fica mais perto de chegar.

Reapresentação secreta

Já vi treinamento secreto, mas reapresentação é a primeira vez. A direção do América resolveu que a reapresentação, ou apresentação no caso dos novatos, será feita sem qualquer cobertura jornalística ou olhar da torcida. Não houve esclarecimento acerca do motivo ou mesmo de quem partiu a ordem, apenas que veio da "diretoria", assim, bem genérico, sem maiores especificações.

A ordem não partiu da comissão técnica, mas da diretoria. Da última vez que isso ocorreu no RN foi a diretoria do ABC (também sem especificações) que mandou fechar o treino sob comando de Josué Teixeira antes da final centenária.

Aluísio Guerreiro já começa bem no quesito comando. As contratações foram feitas à sua revelia e agora até seus primeiros momentos como técnico passarão longe dos curiosos por ordem exclusiva da diretoria. Será que ele vai mesmo comandar os treinos? 

Por enquanto, a diretoria decidiu que só a partir de 26/12 os treinos serão abertos. Até segunda ordem.

domingo, 13 de dezembro de 2015

Aidar x Ceni, Cruz e Osório

Carlos Aidar, ex-presidente do São Paulo, remexeu a polêmica em entrevista ao Diário de São Paulo, republicada pelo Estadão no domingo. Vejamos trechos:

Sobre Rogério Ceni: "Ou você joga o jogo dele ou está fora do jogo. Eu já achava que estava na hora de abrir espaço para outro goleiro no ano passado, mas houve uma baita pressão e ele ficou até agora. (...) O Rogério Ceni não deixava que surgissem líderes. Um exemplo era o Dória, que batia de frente com ele. O Rogério também não gosta do Pato pelo fato de ele ganhar muito. O Rogério marginaliza essas lideranças."
Sobre Milton Cruz: "O Luiz Eduardo quem descobriu com olhos clínicos foi o Milton Cruz. E quem fez o agenciamento? O filho do Milton. Eu deveria ter mandado embora o Milton. (...) Tive de proibir o Milton Cruz de levar o celular para o banco de reservas e para o vestiário, porque descobri que o Abílio Diniz ficava ligando durante o jogo para dar palpite sobre escalação."

Sobre Juan Carlos Osório: Não sei como ele ganhou o respeito incrível da imprensa e da opinião pública. Era um marqueteiro danado. Não repetiu o time uma vez em 22 partidas. Isso não é coisa de treinador, mas de alguém achando que o São Paulo é laboratório. (...) Eu sabia que ele fazia rodízio, mas não sabia que punha goleiro de centroavante, lateral no meio-campo. Se soubesse, não o traria. Só me arrependo de não ter mandado a mensagem no celular dele antes. Fui eu quem mandou ele parar de rodízio para definir logo o time."

Sobre Ataíde Gil Guerreiro, vice-presidente pivô de sua renúncia: "Houve uma tentativa dele de me enforcar. Tudo começou no sábado, quando ele foi na minha sala no Morumbi e gravou o tal áudio. Aí, no café da manhã de segunda-feira, da diretoria, ele veio dizer que o negócio do Maidana estava esquisito. Respondi que ele e o pessoal da base que tinham começado o negócio e que passei a negociar porque eles eram incompetentes e perderiam o atleta. Do nada, o Ataíde bateu a mão na mesa. Eu também bati na mesa e disse para ele parar de ficar com frescura. Perguntei na frente de todo mundo se o Julio Casares havia emprestado dinheiro para o Ataíde. Ele disse que sim. Aí, o Ataíde pôs as duas mãos no meu pescoço. Para me defender, acabei quebrando a cartilagem de um dos dedos da mão"

Sobre sua última passagem como presidente: "Foi um erro voltar ao São Paulo. Em 2014, eu estava numa zona de conforto, ganhava sem nem ir ao escritório. Não é fácil ficar ouvindo falarem mal da minha filha, da minha mulher. Me chamando de corno, viado, ladrão…"

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

100 anos de Sinatra


Que bela coincidência os 3 grandes clubes do RN compartilham com The Voice (A Voz)! Frank Sinatra, se ainda estivesse entre nós, completaria 100 anos neste sábado, 12/12, mesmo ano em que América, ABC e Alecrim também comemoram o seu centenário.

Intérprete de primeira e de inconfundível voz e marcantes olhos azuis, Sinatra presenteou o mundo com inúmeros sucessos, podendo ser destacado sem nenhuma injustiça o hino de amor a Nova Iorque New York, New York, verdadeira ode à esperança do recomeço na capital do mundo.

Ele também teve boa participação em filmes de Hollywood, na época áurea dos musicais. Ganhou Oscar de melhor ator coadjuvante em 1954 justamente no filme em que não cantou: A um passo da eternidade (From here to eternity, 1953).

A Globo News o homenageou em seu Arquivo N, que será reprisado amanhã às 15h05 (horário de Natal). Vale a pena conferir.

Como a lista é muito grande, deixo dois super duetos (Ella Fitzgerald e Elvis Presley, de quem sou super fã!) e alguns sucessos de arrepiar d'A Voz. 





Quando Marta superou Pelé

A Arena das Dunas tem uma queda por feitos históricos. Lá foi marcado o gol mais rápido da Copa do Mundo 2014: Dempsey, aos 28 segundos de EUA x Gana no dia 16/06. O placar final foi 2x1 para os americanos. 

Lá também ocorreu a polêmica mordida do atacante uruguaio Luis Soárez no zagueiro italiano Chiellini (Itália 0x1 Uruguai, em 24/06, também pela Copa 2014).

Foi também na Arena das Dunas que a rainha Marta deixou o rei Pelé na poeira no quesito gols marcados com a camisa da Seleção Brasileira. A alagoana marcou 5 gols na histórica goleada de 11x0 contra a seleção de Trinidad e Tobago (em 09/12/15) e agora tem 98 gols contra 95 de Pelé. E ainda há mais 3 rodadas da Copa Caixa Internacional de Futebol Feminino na mesma arena para que Marta aumente sua supremacia.

A coincidência desses 3 eventos? Eu estava lá, acompanhando tudo de pertinho e vou levar para sempre comigo a lembrança de quando Dempsey foi o mais rápido da Copa 2014, de quando Suárez bancou o vampiro e mordeu o ombro de Chiellini e da noite em que Marta superou Pelé.

Obrigada, Arena das Dunas!

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Hoje tem Brasil de Marta e Formiga na Arena das Dunas

Essa é para quem gosta de futebol bonito, para quem apenas torce pelo Brasil e até para quem gosta de aparecer na TV. Hoje começa a Copa Caixa Internacional de Futebol Feminino com transmissão da Band e do Bandsports em HD para todo o Brasil.

Às 18h15 tem jogo de Copa do Mundo, já que ambas as seleções estiveram na Copa 2015, disputada no Canadá: México x Canadá. 

Às 20h45, Marta, Formiga & Cia entram em campo: Brasil x Trinidad e Tobago. Formiga volta a Natal após ter defendido as cores do América em 2012, quando foi campeã invicta do estadual. E Marta está a dois gols de se igualar a Pelé, maior artilheiro de todos os tempos da Seleção Brasileira. Ou seja, a Arena das Dunas pode acolher mais um feito histórico.

Ingressos à venda no site Arena das Dunas (estavam com 10% de desconto quando eu comprei; por isso comprei logo às quatro rodadas) e lá na bilheteria. O setor mais barato, mas nem por isso menos empolgante, é o setor leste, com ingressos a R$ 40 e R$ 20 (meia).

Não fique de fora e nem deixe para a última hora!

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

De Temer para Dilma, com amor

Eis a íntegra da carta que o vice presidente Michel Temer enviou para a presidente Dilma Roussef:

São Paulo, 07 de Dezembro de 2.015.
Senhora Presidente,
"Verba volant, scripta manent" (As palavras voam, os escritos permanecem)
Por isso lhe escrevo. Muito a propósito do intenso noticiário destes últimos dias e de tudo que me chega aos ouvidos das conversas no Palácio.
Esta é uma carta pessoal. É um desabafo que já deveria ter feito há muito tempo.
Desde logo lhe digo que não é preciso alardear publicamente a necessidade da minha lealdade. Tenho-a revelado ao longo destes cinco anos.
Lealdade institucional pautada pelo art. 79 da Constituição Federal. Sei quais são as funções do Vice. À minha natural discrição conectei aquela derivada daquele dispositivo constitucional.
Entretanto, sempre tive ciência da absoluta desconfiança da senhora e do seu entorno em relação a mim e ao PMDB. Desconfiança incompatível com o que fizemos para manter o apoio pessoal e partidário ao seu governo.
Basta ressaltar que na última convenção apenas 59,9% votaram pela aliança. E só o fizeram, ouso registrar, por que era eu o candidato à reeleição à Vice.
Tenho mantido a unidade do PMDB apoiando seu governo usando o prestígio político que tenho advindo da credibilidade e do respeito que granjeei no partido. Isso tudo não gerou confiança em mim, Gera desconfiança e menosprezo do governo.
Vamos aos fatos. Exemplifico alguns deles.
1. Passei os quatro primeiros anos de governo como vice decorativo. A Senhora sabe disso. Perdi todo protagonismo político que tivera no passado e que poderia ter sido usado pelo governo. Só era chamado para resolver as votações do PMDB e as crises políticas.
2. Jamais eu ou o PMDB fomos chamados para discutir formulações econômicas ou políticas do país; éramos meros acessórios, secundários, subsidiários.
3. A senhora, no segundo mandato, à última hora, não renovou o Ministério da Aviação Civil onde o Moreira Franco fez belíssimo trabalho elogiado durante a Copa do Mundo. Sabia que ele era uma indicação minha. Quis, portanto, desvalorizar-me. Cheguei a registrar este fato no dia seguinte, ao telefone.
4. No episódio Eliseu Padilha, mais recente, ele deixou o Ministério em razão de muitas "desfeitas", culminando com o que o governo fez a ele, Ministro, retirando sem nenhum aviso prévio, nome com perfil técnico que ele, Ministro da área, indicara para a ANAC. Alardeou-se a) que fora retaliação a mim; b) que ele saiu porque faz parte de uma suposta "conspiração".
5. Quando a senhora fez um apelo para que eu assumisse a coordenação política, no momento em que o governo estava muito desprestigiado, atendi e fizemos, eu e o Padilha, aprovar o ajuste fiscal. Tema difícil porque dizia respeito aos trabalhadores e aos empresários. Não titubeamos. Estava em jogo o país. Quando se aprovou o ajuste, nada mais do que fazíamos tinha sequência no governo. Os acordos assumidos no Parlamento não foram cumpridos. Realizamos mais de 60 reuniões de lideres e bancadas ao longo do tempo solicitando apoio com a nossa credibilidade. Fomos obrigados a deixar aquela coordenação.
6. De qualquer forma, sou Presidente do PMDB e a senhora resolveu ignorar-me chamando o líder Picciani e seu pai para fazer um acordo sem nenhuma comunicação ao seu Vice e Presidente do Partido. Os dois ministros, sabe a senhora, foram nomeados por ele. E a senhora não teve a menor preocupação em eliminar do governo o Deputado Edinho Araújo, deputado de São Paulo e a mim ligado.
7. Democrata que sou, converso, sim, senhora Presidente, com a oposição. Sempre o fiz, pelos 24 anos que passei no Parlamento. Aliás, a primeira medida provisória do ajuste foi aprovada graças aos 8 (oito) votos do DEM, 6 (seis) do PSB e 3 do PV, recordando que foi aprovado por apenas 22 votos. Sou criticado por isso, numa visão equivocada do nosso sistema. E não foi sem razão que em duas oportunidades ressaltei que deveríamos reunificar o país. O Palácio resolveu difundir e criticar.
8. Recordo, ainda, que a senhora, na posse, manteve reunião de duas horas com o Vice Presidente Joe Biden - com quem construí boa amizade - sem convidar-me o que gerou em seus assessores a pergunta: o que é que houve que numa reunião com o Vice Presidente dos Estados Unidos, o do Brasil não se faz presente? Antes, no episódio da "espionagem" americana, quando as conversar começaram a ser retomadas, a senhora mandava o Ministro da Justiça, para conversar com o Vice Presidente dos Estados Unidos. Tudo isso tem significado absoluta falta de confiança;
9. Mais recentemente, conversa nossa (das duas maiores autoridades do país) foi divulgada e de maneira inverídica sem nenhuma conexão com o teor da conversa.
10. Até o programa "Uma Ponte para o Futuro", aplaudido pela sociedade, cujas propostas poderiam ser utilizadas para recuperar a economia e resgatar a confiança foi tido como manobra desleal.
11. PMDB tem ciência de que o governo busca promover a sua divisão, o que já tentou no passado, sem sucesso. A senhora sabe que, como Presidente do PMDB, devo manter cauteloso silencio com o objetivo de procurar o que sempre fiz: a unidade partidária.
Passados estes momentos críticos, tenho certeza de que o País terá tranquilidade para crescer e consolidar as conquistas sociais.
Finalmente, sei que a senhora não tem confiança em mim e no PMDB, hoje, e não terá amanhã. Lamento, mas esta é a minha convicção.
Respeitosamente,
\ L TEMER
A Sua Excelência a Senhora
Doutora DILMA ROUSSEFF
DO. Presidente da República do Brasil
Palácio do Planalto