Ballack, grande destaque alemão das últimas copas, falou em entrevista ao FIFA.com, dentre outras coisas, sobre a expectativa para a Copa 2014. Ele revelou que virá para o Brasil para trabalhar como comentarista da ESPN durante o mundial. Confira trechos dessa entrevista:
"Em poucos meses será realizada a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. Quais são as suas expectativas para um Mundial em um país tão entusiasmado pelo futebol?
As expectativas são de um ótimo futebol, de um país-sede fantástico que transporte para todo o mundo a sua animação e a sua forma de viver o futebol. Os brasileiros são um povo muito apaixonado, para o qual o futebol tem uma importância extrema. Por isso, podemos esperar uma Copa do Mundo fantástica. Quem vive o futebol mais do que os brasileiros? Sendo assim, acredito que podemos aguardar o torneio com bastante euforia.
Em 2006 você foi o capitão da seleção alemã. O que significa para um jogador disputar uma Copa do Mundo em casa?
É algo que depende da pessoa. É difícil preparar a equipe minuciosamente, porque quando chega a hora não é possível simular previamente uma situação assim. Muitos jogadores estão acostumados a jogar em alto nível. A seleção brasileira também conta com alguns dos melhores jogadores do mundo. Mas ainda assim nenhum deles jogou uma Copa do Mundo no seu próprio país. E justamente lá as expectativas são incrivelmente grandes. Eles precisam se preparar. Eles vão compreender.
Quanto mais a Copa do Mundo se aproxima, mais eles ficarão em foco, e então nem sempre será fácil continuar concentrado no futebol e ter o melhor desempenho possível nos jogos. Acredito que os responsáveis protegerão os jogadores para que eles possam se concentrar em jogar bola. Mas depende da pessoa para saber como os brasileiros vão lidar com isso. Se a questão for abordada de forma positiva, a Copa do Mundo se espalhará por todo o país. A euforia é muito positiva, pelo menos para nós foi assim. Quando estávamos nas ruas e sempre sentíamos essa atmosfera, isso nos impulsionava de forma incrível, nos despertava e provocava uma melhora adicional no nosso rendimento.
Você acredita que o Brasil conquistará o título?
Sim. A seleção brasileira deixou para trás alguns anos difíceis, mas sempre se espera muito dos brasileiros. A equipe mostrou na Copa das Confederações o que ela tem condições de realizar jogando em casa. Por isso, o Brasil está entre os principais favoritos ao título.
A Alemanha também sempre é mencionada entre os favoritos. Até onde você acha que a seleção alemã tem condições de chegar?
Geralmente, é difícil ganhar um título na América do Sul. Isso nunca aconteceu, o que não facilita as coisas para os europeus. Mas vamos ver se eles conseguem mudar isso. O talento continua existindo. A Alemanha tem uma seleção que passou por uma enorme evolução técnica e, devido aos seus talentos, também merece estar no círculo de favoritos. Mas precisamos mostrar que também temos essa dose de sorte necessária nos jogos decisivos, em uma semifinal ou uma final, quando as coisas realmente são para valer. Tenho confiança na seleção alemã, que conta com jogadores extraordinários. Gosto igualmente de muitas outras seleções, mas a Alemanha obviamente é uma das favoritas.
O que foi que faltou nos últimos torneios para que a Alemanha conquistasse o título?
Muitos pequenos fatores contribuíram para isso: a vontade incondicional, a mentalidade da equipe e dos jogadores. Uma dose de sorte sempre faz parte, é preciso que a sorte esteja ao seu lado no momento certo. A experiência também é um fator. Vemos isso na Espanha, que sempre chega ao torneio seguinte com uma certa experiência, sempre com a mesma vontade e, além disso, com uma mistura de jogadores novos e experientes. Estando de fora, podemos discutir muito sobre o que faltou. Mas como jogador você está 100% convencido e procura sempre fazer o seu melhor. Se os nós se desamarrassem e o título finalmente viesse, então os jogadores também teriam essa experiência. Alguns atletas ganharam a Liga dos Campeões pelo Bayern, o Borussia Dortmund também chegou à final. Isso dá autoconfiança, e eles também a trazem para a seleção.
Como você avalia o grupo da Alemanha, ao lado de Gana, EUA e Portugal?
Certamente é um grupo difícil, no qual a Alemanha é a favorita. É uma chave equilibrada, com uma seleção europeia muito forte, que é Portugal, além de Gana, uma das mais fortes seleções africanas, e os EUA, que evoluíram muito sob o comando de Jürgen Klinsmann, sempre estão bem preparados fisicamente e são capazes até de conseguirem uma vitória contra um dos principais favoritos. Mas a minha avaliação é de que a Alemanha deverá superar esse desafio.
Quais seleções você acredita que estão entre as principais candidatas ao título?
Precisamos mencionar as seleções que ditaram o ritmo nos últimos anos: a Espanha, por ser a última campeã, e também a Itália, contra quem sempre tivemos problemas. Seria preciso também ver como os franceses se desenvolveram. Eles tiveram dificuldades nas eliminatórias. Mas as seleções sul-americanas, como Argentina ou Chile, também podem surpreender porque se sentirão bem lá e estarão em casa.
Na Copa do Mundo da FIFA 2002, você precisou se sacrificar, por assim dizer, ao fazer uma falta tática que lhe rendeu o segundo cartão amarelo e por isso não pôde jogar a final. O que você sentiu naquele momento?
No momento em que aconteceu, foi como se estivesse em um túnel, sem perceber direito o que ocorreu. É claro que fiquei decepcionado, mas continuei a torcer para que a equipe ganhasse a final. Foi só depois de semanas, meses ou até anos que me dei conta de como é difícil chegar a uma final de Copa do Mundo. Quando ficamos de fora, percebemos o que estamos perdendo. Certamente foi um azar para mim na época, mas assim é o futebol. Somos profissionais o suficiente para saber aceitar, mas na hora com certeza foi uma situação difícil."