É bem verdade que toda mulher já passou por algum aperto em situação delicada, como um fio puxado de uma meia-calça em plena festa. Claro que já passei por isso, mas multiplicado por 10: uma meia-calça que enganchou num sapato (ou seria o contrário?) em plena festa.
Acho que tenho um ímã para esse tipo de situação. Uma calça jeans, por exemplo, achou de rasgar no momento em que cheguei ao Machadão para acompanhar um jogo do América num domingo qualquer. Risada geral de Janaina, Fabrício e Mariza, que, aliás, malha de mim até hoje por isso. Menos mal que moro perto e ninguém achou ruim voltar para que eu me trocasse.
Mas há algo de estranho mesmo é na relação dos meus sapatos com o meu ofício jurídico. Começa pelo desafio de me manter em pé nos arredores do Fórum, com seus paralelepípedos irregulares, ou do Tribunal de Justiça, com as malditas pedras portuguesas do Palácio da Cultura, e passa pelo desespero de escorregar quando o pé começa a suar muito. Não, não caí... ainda.
Certa vez, estava naquele corre-corre (com hífen ou sem? Help!) no Fórum Miguel Seabra Fagundes. Audiência numa vara no fim do corredor. Outra em seguida na outra ponta. Lá existe uma borrachinha entre os mosaicos do piso - um verdadeiro terror dos saltos altos femininos. Pois bem. Estou eu para lá e para cá quando sinto uma fisgada. Meu salto ficara preso na tal borrachinha. Um leve mexer no pé resolveu o problema. Pé solto sem maiores constrangimentos, já que poucas pessoas tinham visto. Apenas uma funcionária que vinha ao meu lado comentou, talvez para diminuir a minha vergonha: "isso sempre acontece comigo".
Mal sabia eu o que estava por vir. Na volta, o salto enganchou de vez na borrachinha. Corredor cheio. Meus braços ocupadíssimos com bolsa, pasta e processos. Tento o mesmo movimento para soltar o pé. Nada. Repito. Nada. Todo mundo já olhando e eu sem saber onde me enfiar e nada do diabo do salto sair daquela maldita armadilha. Só me restara fazer uma coisa. Calmamente, mas já passada de vergonha, eu me abaixo, coloco bolsa, pasta e processos no chão - no meio do corredor lotado, viu? À essa altura, eu já virara atração global de um corredor pra lá de entediante - tiro meu pé do sapato e agarro o bicho com as duas mãos para soltá-lo da tal borracha. Ele ainda relutou, mas saiu. Alívio geral! Calcei o desgraçado, peguei toda a parafernália e me dirigi à audiência com a cara mais deslavada do mundo, mas com uma vergonha que nem me deixava segurar o riso. Um pastel perdia para minha expressão facial...
Pois é que hoje sofri algo do gênero. Não no Fórum. Deste escapei incólume. Mas no Tribunal de Justiça. Não bastasse da vez que quase tirei a roupa toda porque o segurança não conseguia entender que o ferro acusado pela porta fazia parte do design da minha bolsa, hoje tinha que acontecer algo com o meu sapato! Desço do carro, entro no TJ, paro na recepção para me identificar e, de repente, começo a sentir um alívio no pé esquerdo. "Uau!", pensei, "o calor está tão grande que meu pé está suando em bicas e já está escorregando no sapato." Mas rapidamente raciocinei que isso deveria acontecer nos DOIS pés, não apenas em um. Começo a andar novamente, já dentro do TJ e percebo de onde vem o tal conforto: o solado resolveu descolar! Imaginem mesmo eu andando de forma que não arrastasse a ponta do solado do chão para não tropeçar e cair. Uma cena maravilhosa, especialmente quando voltei à rua. Graças a Deus o carro não estava tão longe. Cheguei sã e salva em casa. Mas já estava imaginando ter que ficar com o sapato na mão em pleno TJ... Olhem aí como ficou o dito!