Há alguns anos ando com receio das coisas que desejo. É que elas tendem a se realizar de qualquer jeito, às vezes com consequências brutais. Fiquei de saco cheio de ir ao estádio ver jogo de futebol? Veio uma pandemia e parou tudo. Andava meio sem paciência para conferir um Twitter completamente desfigurado e desvirtuado de sua ideia inicial e que virou o monstrengo X de Elon Musk? Pois o X foi judicialmente bloqueado no país e o dono fazedor de beicinho segue se recusando a cumprir a lei aqui, ainda que cumpra pedidos até de ditaduras em outras partes do globo terrestre.
Aliás, a saída do X do Brasil trouxe duas alternativas para os antigos tweeteiros de plantão: BlueSky e Threads. Entre uma e outra, eu fiquei mesmo com o que já tinha e não me afeiçoa muito, como Instagram e Facebook. Nesses dois que posto uma foto ou outra, um vídeo ou outro (não gosto de vídeos), e os links para meus textos aqui no blog. Como não frequento muito suas timelines, deixei de ser invadida diariamente por uma onda de ódio e retomei uma vida mais leve, em que as notícias de fato só chegam pela imprensa mesmo.
Sim, ainda existe o WhatsApp, que é a principal forma de comunicação atual. E aqui chega o X da questão: vivo sonhando com o dia em que deixarei de usá-lo. Tento não desejar isso, visto o que já aconteceu no mundo ante os meus desejos, mas é impossível. É um saco ser obrigada a conferir mil postagens em grupos, muitas conversas que poderiam se resolver numa ligação de no máximo 2 minutos, além de vídeos e links de vídeos que eu considero absolutamente insuportáveis de ver em tela pequena.
Como hoje o WhatsApp pertence à Meta, dona também de Instagram e Facebook, que seguem firmes, ao contrário do X e do finado e super legal Orkut, imagino que o meu desejo desta vez não vá interferir na vida dos outros milhões de brasileiras e brasileiros. Mas, caso ocorra, já deixo o meu pedido de desculpas, vez que não consigo controlar a vontade de viver em paz como antigamente.
Todavia, é preciso ressaltar que a paz de antigamente também não existe mais. Hoje todo mundo tem um telefone pessoal e as empresas acabaram com a graça de se receber uma ligação, já que são dezenas de chamadas por dia impulsionadas por robôs (robocalls) e mesmo outra carrada de golpes por quadrilhas que utilizam a internet para disfarçar números de telefone e acabar com a nossa paz. Não é a toa que o pessoal mais jovem simplesmente se recusa a atender ligações.
Talvez voltemos para as cartas. Teríamos notícias de gente querida escritas à mão. Também teríamos aquela sensação boa de nos dirigirmos à caixa de correio e encontrarmos lá algo além de faturas, contas a pagar e propagandas as mais variadas. "Olha, carta de fulaninha!" e todo mundo ia querer ver as novidades em tom pessoal.
Acho que esse futuro com cara de passado é logo ali. Vejam que evoluímos das cartas para o telefone que separava o fone de ouvido do microfone, dele para o telefone simultâneo, depois para o email, depois para as mensagens curtas de texto, de áudio (voltando a separar o falar do ouvir), de vídeo, chamadas de vídeo e saímos da conversa privada para a conversa pública. A volta da conversa privada é só uma questão de tempo. É o que a saúde mental mundial pede. E, confesso de novo, gostaria muito de ver... Peço desculpas novamente pelo desejo e por não saber que milacria virá para concretizá-lo. É que esse mundo extremamente digital e virtual já encheu a paciência.
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