segunda-feira, 10 de novembro de 2014

O Enem e a falta de bom senso

O Enem é um exame bem melhor do que o vestibular, já que possibilita que os alunos se candidatem a universidades de todo país através de uma única prova.

No entanto, a impressão que o Ministério da Educação passa é a de que quer ferrar os alunos da forma mais completa possível.

Primeiro, com a escolha dos locais. Será assim tão difícil priorizar locais num raio de 2 km da residência do candidato? Houve gente de Parnamirim fazendo prova no bairro de Lagoa Nova em Natal. Claro que não haverá escolas em todos os bairros, mas se a Escola Floriano Cavalcanti no Mirassol é local de prova, os alunos ali alocados têm que ser prioritariamente os que moram no Mirassol. Restando vagas, a prioridade passaria para outros de bairros próximos, como Cidade Jardim. Isso evitaria os transtornos vistos em toda a cidade (no caso, Natal) para descolamentos que, se dada a prioridade citada, seriam feitos a pé. Nem me venham com a estupidez de que é feita uma divisão alfabética. Essa ficaria como segundo critério, depois da aplicação da prioridade de proximidade da residência. Com esse critério louco do MEC, quem mais sofre é quem não tem carro, preso que fica no percurso obrigatório do ônibus, sempre engarrafado.

Segundo, e não menos importante, o tempo para a prova. São 4 horas e 30 minutos para a resolução de 90 questões de História, Geografia, Filosofia, Sociologia, Biologia, Química e Física e preenchimento de gabarito. Ok. No 2.° dia, são mais 90 questões de Português, Literatura, Inglês/Espanhol, Matemática. Pelo critério do MEC, o aluno tem 4 horas e 30 minutos para resolvê-las e preencher o gabarito. Beleza. Só que ainda há uma redação e o MEC cismou de dar apenas uma hora a mais para que os alunos a elaborem e preencham o gabarito. Gente, uma redação desse porte, com máximo de linhas, requer 2 horas para uma adequada elaboração. O que acontece? Sobra para a prova de Matemática, que todos os anos tem o menor número de acertos entre as provas. E por quê? Porque não há tempo suficiente para elaborar uma redação, ler e resolver todas as questões de línguas (todas elas com texto grandinhos em seus enunciados), e ler e resolver os cálculos das questões de Matemática. Resultado: grande parte da prova de Matemática é feita aleatoriamente pela tortura imposta pelo MEC.

E por que as escolas, que são ouvidas pelo MEC, não protestam pela diminuição de questões da prova de Português, por exemplo, uma vez que a redação já é grande prova do domínio da língua pátria? Porque a indústria de cursinhos preparatórios não poderia ficar a ver navios com o fim do vestibular. E assim danem-se os coitados que fazem Enem. 

Alguém precisa provocar o MEC a diminuir o número total de questões do último dia para 60, por exemplo, ou assinalar mais um dia (com duas horas) exclusivamente para a redação.

Não vou nem falar nessa desgraça de horário de verão, que prioriza o almoço dos alunos de Sudeste, Sul e Centro-Oeste, e joga os coitados de Norte e Nordeste num limbo entre café da manhã e almoço.

O que vemos hoje é apenas um jeito cruel de acabar com sonhos de quem já se vê sob enorme pressão para dar o primeiro passo do resto de sua vida. Os dados alarmantes desta edição, como a morte de uma candidata em Pernambuco assim que passou do portão, precisam apontar para esses melhoramentos. A pressão para entrar numa universidade pública já é suficientemente grande para que o MEC se empenhe em não aumentar essa tortura. É o mínino a ser feito. Urgentemente.

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