De 1996 para cá, já vi muita coisa no América: títulos, acessos, rebaixamentos. Já vi grandes gerações de jogadores, muitos enganadores, pernas de pau, esforçados, raçudos, sangues de barata e alguns de péssimo caráter. E posso garantir que há rebaixamentos e rebaixamentos. O mesmo pode ser dito dos jogadores.
Há rebaixamentos anunciados, como o da Série A de 2007. Às vésperas da estreia contra o Vasco nem goleiro o América tinha.
Há os quase rebaixamentos, como o de 2008, ou mesmo o de 2013. Sofrimentos garantidos até a última rodada, embora com merecido alívio.
E há o atual - o do tipo revoltante. Como um elenco que chegou às semifinais da Copa do Nordeste (o time titular era praticamente reserva do atual), foi campeão estadual de forma incontestável, chegou pioneiramente às quartas de finais da Copa do Brasil (com o incrível feito de eliminar duas equipes da Série A - uma delas o badalado Fluminense em pleno Maracanã) e se preparava para entrar no G4 passa por um papelão desses?
Uma boa base, um bom elenco, um bom conjunto, um estádio de Copa do Mundo pertinho de tudo, bons patrocínios, visibilidade e... tudo desandou do fim de julho para cá. A diretoria do América deu a maior sopa para o azar com o afastamento (de fato, não de direito) do presidente Gustavo Carvalho. Jogador de futebol é uma raça melindrosa. O vácuo no poder é percebido rapidamente e dá azo a mil coisas perversas num ambiente mesquinho como esse.
Contusões, falta de comando de diretoria e, principalmente, de Oliveira Canindé (o episódio dos vestiários de América x Paraná foi a gota d'água), contratações e dispensas mal avaliadas... As coisas vão se acumulando e cobram a conta de clubes sem força política.
Admito enorme chateação com o rebaixamento às vésperas do centenário, na volta para Natal, depois de todo o osso roído em Goianinha e Ceará-Mirim. Mas não posso deixar de classificar esse mesmo rebaixamento como justo. Aliás, justíssimo. Onde já se viu uma equipe ficar 10 rodadas sem vencer e nem se incomodar? Oliveira Canindé acumulou 5 jogos seguidos sem vitória (fora os não seguidos) e foi demitido a muito custo. Até aí compreensível, já que ele tinha resultados anteriores a lhe sustentar. Mas como explicar: 1) a contratação de Marcelo Martelotte, com um perfil oposto ao necessário; 2) a manutenção de Marcelo Martelotte por 8 rodadas da Série B tendo uma única vitória (acidental, diga-se de passagem, ante a falha do goleiro Ivan do Joinville)?
No fim das contas, foram os 5 pontos perdidos contra os então já virtuais rebaixados Portuguesa e Vila Nova em plena Arena das Dunas que selaram o destino do América.
Pelo menos uma boa (ótima!) notícia: em entrevista à Rádio Globo Natal, o presidente Gustavo Carvalho garantiu que o clube está com as finanças em dia. Um alento e tanto ante a queda de receita do próximo ano e pelo menos um indicativo de que o ano não será mais duro do que já será.
Agora vamos aos jogadores, maiores responsáveis por este papelão, embora com ajuda da diretoria. É preciso passar um pente fino para que não se repitam as internações sem fim no DM, os supostos motins ou brigas internas que culminaram na queda de Oliveira Canindé e a queda de rendimento. Sugiro inicialmente um relatório de Dr. Maeterlinck Rego para possíveis renovações, seguido de observações sobre possíveis laranjas podres.
Entendo que os têm contrato em 2015 devem continuar. Rescindir seria criar uma folha salarial extra, o que não interessa agora. Mas não vou me furtar a dar meus pitacos com os jogadores que lembro de cabeça.
Vamos às minhas observações:
Goleiros - o primeiro erro foi tirar Dida da titularidade e em boa fase para ceder lugar a um Fernando Henrique há muito parado e um Andrey sem condições físicas. Pior foi a saída de Dida para a chegada de Pantera contudido. O América liberou o goleiro que tinha boa condição física para ficar com 3 frequentadores de DM. Andrey nunca mais foi o mesmo e ainda se revelou mais um rebelde de banco. 2015 pede uma borracha neste setor e muita reza para que as contratações sejam do agrado dos "especialistas".
Laterais - Wálber e Wanderson já mostraram que têm condição. Mas o ano de Wanderson foi terrível. Wálber se mostrou melhor na Série B. Não sei se Marcelinho seria uma boa pós-cirurgia. O resto é tchau e bênção.
Zagueiros - tecnicamente, Cléber, Lázaro, Roberto Dias e Edson Rocha são de grande valia. No quesito DM, chegou a hora de dar tchau a Edson Rocha.
Volantes - Judson e Fabinho ainda têm o que mostrar. Neto nunca fica. Não acredito mais em Márcio Passos por causa do DM. Os outros não deixam saudade.
Meias - Daniel Costa é jogador importante em qualquer elenco, especialmente numa dura Série C. Arthur Maia tem habilidade, mas o DM... Andrezinho nunca convenceu.
Atacantes - Rodrigo Pimpão, Max e Isac têm seus talentos. Não sei se os dois primeiros seriam boas escolhas pelos fatos do jogo América 2x3 Paraná.
Roberto Fernandes - deixá-lo indicar jogadores pode ser um suicídio maior do que a queda para a Série C. Melhor dar umas férias a ele e já entregar um elenco pronto na volta.
Ou seja, por mim, ficariam (exceto se ervas daninhas): Cléber, Lázaro, Roberto Dias, Wálber, Wanderson, Judson, Fabinho, Neto, Daniel Costa, Arthur Maia, Rodrigo Pimpão, Max, Isac e Roberto Fernandes (nas condições expostas). 13 jogadores, embora eu aposte que, dos citados, muitos sairão. Seria uma boa base.
De resto, é apostar em velocidade e juventude. Nada de medalhões ou gente em vias de se aposentar. É preciso formar elenco com gente que quer (e pode) mostrar serviço.
Da atual situação fica a necessidade de aprender com os erros. Fiquemos com os versos de Noite Ilustrada:
Reconhece a queda
E não desanima
Levanta, sacode a poeira
E dá a volta por cima
Campeonato estadual, Copa do Nordeste, Copa do Brasil e Série C. Que o América volte a orgulhar o RN em seu centenário. Que venha 2015!