segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Um show de baixaria e desrespeito

Tive a sorte de estar trabalhando no horário. Logo, não precisei acompanhar in loco ou pela tv ou pelo rádio o show de horrores que foi o último clássico de 2012 entre Abc e América. Relato então pelo que li e ouvi de pessoas tidas como fontes fidedignas.

O clima de animosidade já começa entre os dirigentes. Tão profissionais que nem se importam em garantir a segurança de seus clientes, os torcedores. E tome acirrar os ânimos entre os torcedores, como se não vivéssemos sob o fio da navalha de uma violência animalesca, contida sabe Deus como, movida por um ódio mortal de um semelhante que apenas tem o péssimo destino de torcer por um time rival.

Aí o time visitante chega ao estádio e o local para estacionamento do ônibus está ocupado por veículos particulares. Show de profissionalismo.

Aí o árbitro local começa a adotar critérios diferentes para cartão amarelos. Isac sobe o alambrado para comemorar e recebe um. Ederson e outro sobem com o mesmo intuito e... ninguém sabe, ninguém viu. Show de imparcialidade.

Aí o juiz não deu um toque claro de mão do Abc, que na sequência marcou o 1.º gol de empate. Show de competência.

Aí sobram expulsões para todos os lados, especialmente o do América. Show de profissionalismo.

Aí Roberto Fernandes quer sair pelo vestiário, mas a porta foi trancada pelo administrador do estádio. Show de profissionalismo.

Aí Vinícius insiste em pegar uma bola dentro do gol de Dida. O pau quebra: Cléber dá uma cabeçada em Vinícius, Edson Rocha dá um chega pra lá no mesmo jogador, Bileu dá uma voadora em Edson Rocha, um segurança do Abc agride um jogador do América... Show de alto nível para quem pagou o ingresso.

Aí a torcida do Abc transforma o gramado em local adequado para arremesso de objetos que tinham como alvo os jogadores do América. Show de alto nível para quem assistia ao jogo de casa.

Aí Lúcio tira a camisa ainda em campo ao ser anunciada sua substituição e o árbitro, mais perdido que cego em tiroteio e doido para se livrar de tudo o que já havia plantado, resolve expulsar o jogador e terminar o jogo em virtude do número insuficiente de atletas do América em campo. Show de bom senso.

O que se viu no estádio Frasqueirão foi um verdadeiro show de baixaria e de desrespeito, como bem classificou um torcedor do Abc entrevistado por Mara Martins na 96 FM. Um jogo que não valia mais nada conseguiu envergonhar a todos do RN. O STJD deveria pegar pesado com todos.

Os comentários do PFC deram também o tom do que o Brasil pensa do futebol do RN. Um futebol em que dirigentes têm ódio mortal uns dos outros, em que os dirigentes do Abc insistem em transformar seu estádio em arapuca para o América, colocando em risco a vida de TODOS: imprensa, torcedores de ambos os clubes, jogadores e comissões técnicas. 

Se as confusões de sábado tivessem ocorrido no pequeno Nazarenão, quantas vozes já não teriam se levantado em favor da interdição do estádio?

Mas não é preciso que o Maria Lamas Farache seja interditado. É preciso que seus dirigentes se lembrem de que os adversários não são inimigos armados, prontos a matá-los na primeira oportunidade, mas sim pessoas como os próprios abecedistas, que têm família, um lar, um trabalho e que querem apenas acompanhar um jogo de futebol em paz.

Será que isso é pedir muito?

É preciso que abecedistas e americanos parem com esse ódio mortal mútuo. Somos todos seres humanos e merecemos respeito. Pagar para ver um espetáculo como o de sábado, muito mais apropriado para a era em que Roma colocava gladiadores para lutarem até a morte em sua arena, é deprimente, perturbador e degradante.

Ou se caminha para o profissionalismo, pensando no conforto e na segurança do torcedor, ou o futebol não mais se recuperará. 

Quem quer ser o próximo alvo?

Aos jovens, fica o conselho: vão viver! Coisa alguma na vida, especialmente um clube de futebol, vale o risco de nunca mais voltar ao convívio de seus familiares.

E que esse show de baixaria e de desrespeito consiga envergonhar seus causadores como um todo e seja exemplo do que nunca mais deve ser repetido por aqui.




sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Como as coisas mudam

Cresci no finzinho da ditadura. De memória privilegiada, como tanto exaltam familiares e amigos, lembro-me de coisas de quando tinha apenas um ano de idade. Lógico que, quanto mais próxima a lembrança, mais riqueza de detalhes.

Lembro das camisetas  e bandeiras da campanha de José Agripino em 82. Enfrentava Aluizio Alves. Muita gente na Rua Princesa Isabel para ver a carreata/passeata da vitória.

Lembro de Carlos Alberto em campanha na TV com as mãos acorrentadas e com o bordão "vamos quebrar as correntes".

Lembro de como as pessoas comentavam a respeito do Presidente João Figueiredo, tido como ruim por não gostar do povo.

Lembro da disputa Paulo Maluf x Tancredo Neves no Congresso Nacional, da vitória do primeiro civil depois de longos anos da ditadura.

Lembro da morte de Tancredo bem perto do meu aniversário, uma tristeza sem fim da população que enfim parecia se soltar das amarras da repressão imposta pelos militares.

Lembro do "sopro forte no Rio Grande do Norte" do "tamburete" Geraldo Melo.

Lembro do terror que as campanhas de Lula e Brizola causavam à população em geral, ante os boatos de que se um deles ganhasse, os militares reassumiriam o poder.

Lembro do debate Collor x Lula com jornalistas de vários canais (Boris Casoy é o mais vívido em minha lembrança), quando o caça-marajás afirmou em alto e bom tom: "eu nem sei se meu adversário sabe ler".

Lembro de Collor pedir que seus apoiadores saíssem às ruas vestidos de verde e amarelo para demonstrar que o povo estava do seu lado. Grandes hordas vestidas de preto pediram o seu impeachment.

Lembro de ter dado muitos votos a Lula e ao PT a partir dos meus 16 anos. Da alegria de ver a eleição de Lula pela primeira vez.

Lembro da decepção em ver o PT apoiar uma reforma da previdência pior do que a proposta por FHC e expulsar membros que se mantiveram fieis aos antigos ideais do partido.

Lembro da tristeza de constatar que quem critica, em se tratando de campanhas eleitorais, é porque gostaria de fazer igual ou pior se tivesse a chance.

Lembro deste ridículo caso do Mensalão e da desfaçatez do Presidente do Brasil ao dizer que tudo não passava de mero caixa 2 de campanha e que ele de nada sabia.

Como um presidente pode se prestar ao papel de ir para TV defender um crime? 

Agora em 2012, o STF analisa mais de 80.000 páginas que compõem o processo que tinha 40 réus (número sugestivo) e termina por condenar 25 deles por crimes como lavagem de dinheiro, corrupção ativa/passiva, formação de quadrilha... 

Sabem qual é a reação do PT, aquele partido que sempre esteve ao lado do povo na busca da democracia? Acusar o maior órgão da justiça brasileira, guardião de nossa constituição - tida como constituição-cidadã e uma das mais avançadas do mundo-, de realizar um julgamento político.

Nunca me senti tão enojada na vida. Já vi de tudo na política: inimigos viscerais abraçando-se como irmãos de sangue; opiniões sendo disfarçadas descaradamente; famílias desfeitas na busca pelo poder. Mas confesso que ver um partido político que se diz defensor da democracia, que lutou contra a ditadura, não ter o mínimo pudor de atacar o Poder Judiciário e a imprensa de um país somente porque membros seus foram julgados por corrupção é algo que me deixa seriamente perturbada.

Quer dizer que quando a imprensa denunciou os crimes de Collor, tudo era justo exercício da liberdade de imprensa e de expressão, mas quando os crimes denunciados foram perpetrados por membros do PT, agora tudo não passa de movimento de um imprensa golpista, a serviço de rancorosos conservadores?

Que o julgamento, dirigido pelo então presidente do STF, que afastou Collor da presidência da república era a mais fiel expressão das provas coletadas, e que o julgamento que determina a prisão por corrupção de José Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares, algumas figuras expressivas do PT que desviaram recursos públicos, não passa de distorção de fatos empreendida pelos mais renomados magistrados brasileiros (muitos nomeados por Lula e Dilma, diga-se de passagem) por mero sabor político?

Aí vem o Ministro da Justiça e, ante a iminência da prisão de José Dirceu, "descobre" que a situação do sistema penintenciário brasileiro é tão degradante que ele prefere morrer a ser mandado para a prisão.

Parem o mundo que eu quero descer! O PT simplesmente iniciou um movimento para tentar anistiar os bandidos de colarinho branco, somente porque oriundos de sua cúpula.

A sociedade brasileira não pode e nem vai admitir tamanho golpe às nossas instituições.

Todos são iguais perante a lei. Mas o PT agora defende que alguns são mais iguais que os outros. Uma vergonha!

Tenho certeza de que os militantes históricos devem estar boquiabertos com a desfaçatez desses dirigentes e que, mais cedo ou mais tarde, o verdadeiro PT recobrará a consciência e tentará remediar essa terrível mancha em sua história, sob pena de o PT caminhar a passos cada vez mais largos na direção de ser mais uma dessas legendas espúrias que rasgam os estatutos a cada possibilidade de ganho político.

Afinal, as figuras passam, masa história e a dignidade de um partido ficam. Ou não?

terça-feira, 13 de novembro de 2012

10 mandamentos da simplicidade

O texto original faz parte do livro 20 Regras de Sucesso do Pequeno Empreendedor, de Ricardo Veríssimo, e foi publicado na Tribuna do Norte de 13/11/12. Achei tão enriquecedor para todos os campos da vida, não só nas empresas, que resolvi compartilhar (adaptado) por aqui. Bom proveito!

1.º - O tempo vale ouro - o mundo é cada vez mais veloz e dinâmico, nunca lhe permitindo ter certeza dos problemas e oportunidades que virão. Você pode até ter uma noção, mas nunca certeza. Sendo assim, nunca adie resoluções.

2.º - Foco é tudo - nunca tente abraçar todas as oportunidades de uma só vez. Faça bem cada coisa sendo focado. A facilidade nasce da repetição de movimentos, mas simplicidade vem quando você age como se fosse um instinto, de tão treinado e capacitado.

3.º - Olhe à sua volta - veja sempre as coisas por todos os ângulos possíveis. Coloque-se no lugar dos outros. Tente simular todas as possibilidades. Isso é estratégia.

4.º - Entender é ter atenção - ouça todos os envolvidos até entender necessariamente o ocorrido. Entender não é concordar, contudo, mas tentar enxergar pelo mesmo ângulo que o outro. Atente para os detalhes. As respostas costumam estar nos detalhes.

5.º - Seja conciso - Elabore suas mensagens de forma simples e em poucas palavras. Escreva de forma que qualquer pessoa entenda. Rebuscar demais o português ou usar palavras técnicas em excesso não o fará objetivo.

6.º - Não deixe pontas soltas - Em seu trabalho, documente tudo para que qualquer pessoa que o substitua possa entender e replicar as soluções que você encontrou. Evite deixar perguntas pendentes. Antecipe-se.

7.º - Seja educado, gentil e acessível - trate todos com educação e gentileza. Mantenha a calma e a objetividade nas situações adversas. Seja acessível até para permitir que as pessoas o ajudem.

8.º - Seja melhor - acorde a cada dia pensando em ser melhor do que no dia anterior e em ajudar as pessoas que o cercam a serem também.

9.º - Olhe a previsão do tempo - sempre pense antes se este é o momento certo de colocar algo em prática. Avalie, pesquise e teste.

10.º - Coloque as coisas em seus lugares - se você ocupou um espaço ou usou algo de outrem, devolva ao lugar devido e agradeça. Dê os créditos dos trabalhos aos merecedores e coloque alguém para ocupar o espaço que um dia lhe foi ofertado.

Mantenha a simplicidade e viva melhor!


segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Abc x América amistoso?

É o que defende Roberto Fernandes. Como o América não disputa mais coisa alguma nesta Série B e só uma desgraça colocaria o Abc como tendo de vencer na última rodada para fugir do rebaixamento, o técnico americano nem quer mais ouvir falar em obrigação de vencer. Já até entrou em acordo com a diretoria para que os titulares tenham férias logo após o jogo contra o América-MG no próximo sábado.

Mas o diabo é que rivalidade é rivalidade. No ano, são 3 vitórias p/ o Abc e 5 vitórias seguidas p/ o América. Aliás, desde que Roberto Fernandes assumiu o comando do América, o time rubro só vence os clássicos. Seria mesmo possível encarar o último como mero amistoso?

Se qualquer torcedor for questionado, veremos que a conotação é bem outra. Ninguém quer perder para o adversário, amistoso ou não. E não se pode deixar de considerar que há um minúsculo risco, quase um sopro do demônio, a colocar o Abc x América da última rodada como definidor do destino do dono da casa. Seria mesmo possível encarar este jogo como amistoso?

Até os jogadores do América, dizem, andaram pedindo que suas férias só começassem após o clássico. Passar o Natal com a família seria a motivação. Seria?

Sei não, mas acho difícil acreditar na diretoria e na comissão técnica do América neste caso. Aguardemos.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Frases da Semana

"Valor do IPVA de usados terá queda em 2013."
Manchete da Tribuna do Norte, edição de 09/11, dando esperança a quem já tanto paga imposto neste país. Mas a Secretaria Estadual de Tributação ainda estuda se haverá queda mesmo.

"Tenha eu merecido seu voto ou não, ouvi sua voz."
Barack Obama, ao discursar após ser re-eleito Presidente dos Estados Unidos da América

"Infelizmente, o diabo me pegou nesse caso."
Max, ex-jogador do América-RN, ao depor sobre o porquê do uso de cocaína acusado no exame antidoping em 20/07/12 (pegou 2 anos de suspensão e multa de R$ 1.000,00 no STJD)

sábado, 3 de novembro de 2012

Declaração infeliz do Procurador Geral

É o mínimo que se pode dizer a respeito da declaração do Procurador Geral Manoel Onofre Neto. Instado a se manifestar sobre o afastamento judicial de Micarla de Souza da Prefeitura de Natal, o promotor defendeu que o afastamento era importante para garantir a traquilidade da fase de transição.

Apesar de entender que o processo tramita em segredo de justiça, o que impede a manifestação sobre o que consta nos autos, não poderia ter sido mais infeliz a declaração do promotor. Nunca ouvi falar que numa democracia fosse necessário retirar um prefeito do cargo só porque outro foi eleito e a data da posse só se dará em 60 dias.

O nobre membro do Ministério Público poderia ter se limitado a afirmar que o afastamento da prefeita era essencial ao bom andamento do processo judicial, ou até mesmo ter se recusado a fazer qualquer comentário ante a determinação para que esse processo tramite em segredo. Mas afirmar que uma medida tão severa contra uma prefeita eleita democraticamente se deve para garantir a tal transição para o novo governo é um escárnio à democracia brasileira, chegando mesmo a ser uma afronta à nossa constituição, que não prevê tal modalidade de afastamento do cargo.

Se politicamente o afastamento da prefeita já era defendido por grande parte da população de Natal, juridicamente não há a menor possibilidade de que tal afastamento tenha se dado para "garantir uma transição tranquila", como disse o procurador. Ou seja, o nobre membro do MP - que sempre prestou bons serviços à sociedade potiguar como guardião da lei - perdeu uma grande oportunidade de ficar calado.

Uma coisa é o arrependimento (já esperado) de grande parte dos eleitores de Micarla. Outra bem diferente é o império da lei sobre sua administração. Confundir justiça com política não costuma dar bons resultados a uma democracia. Ainda mais nesta terrível fase por que passa Natal.