Tive a sorte de estar trabalhando no horário. Logo, não precisei acompanhar in loco ou pela tv ou pelo rádio o show de horrores que foi o último clássico de 2012 entre Abc e América. Relato então pelo que li e ouvi de pessoas tidas como fontes fidedignas.
O clima de animosidade já começa entre os dirigentes. Tão profissionais que nem se importam em garantir a segurança de seus clientes, os torcedores. E tome acirrar os ânimos entre os torcedores, como se não vivéssemos sob o fio da navalha de uma violência animalesca, contida sabe Deus como, movida por um ódio mortal de um semelhante que apenas tem o péssimo destino de torcer por um time rival.
Aí o time visitante chega ao estádio e o local para estacionamento do ônibus está ocupado por veículos particulares. Show de profissionalismo.
Aí o árbitro local começa a adotar critérios diferentes para cartão amarelos. Isac sobe o alambrado para comemorar e recebe um. Ederson e outro sobem com o mesmo intuito e... ninguém sabe, ninguém viu. Show de imparcialidade.
Aí o juiz não deu um toque claro de mão do Abc, que na sequência marcou o 1.º gol de empate. Show de competência.
Aí sobram expulsões para todos os lados, especialmente o do América. Show de profissionalismo.
Aí Roberto Fernandes quer sair pelo vestiário, mas a porta foi trancada pelo administrador do estádio. Show de profissionalismo.
Aí Vinícius insiste em pegar uma bola dentro do gol de Dida. O pau quebra: Cléber dá uma cabeçada em Vinícius, Edson Rocha dá um chega pra lá no mesmo jogador, Bileu dá uma voadora em Edson Rocha, um segurança do Abc agride um jogador do América... Show de alto nível para quem pagou o ingresso.
Aí a torcida do Abc transforma o gramado em local adequado para arremesso de objetos que tinham como alvo os jogadores do América. Show de alto nível para quem assistia ao jogo de casa.
Aí Lúcio tira a camisa ainda em campo ao ser anunciada sua substituição e o árbitro, mais perdido que cego em tiroteio e doido para se livrar de tudo o que já havia plantado, resolve expulsar o jogador e terminar o jogo em virtude do número insuficiente de atletas do América em campo. Show de bom senso.
O que se viu no estádio Frasqueirão foi um verdadeiro show de baixaria e de desrespeito, como bem classificou um torcedor do Abc entrevistado por Mara Martins na 96 FM. Um jogo que não valia mais nada conseguiu envergonhar a todos do RN. O STJD deveria pegar pesado com todos.
Os comentários do PFC deram também o tom do que o Brasil pensa do futebol do RN. Um futebol em que dirigentes têm ódio mortal uns dos outros, em que os dirigentes do Abc insistem em transformar seu estádio em arapuca para o América, colocando em risco a vida de TODOS: imprensa, torcedores de ambos os clubes, jogadores e comissões técnicas.
Se as confusões de sábado tivessem ocorrido no pequeno Nazarenão, quantas vozes já não teriam se levantado em favor da interdição do estádio?
Mas não é preciso que o Maria Lamas Farache seja interditado. É preciso que seus dirigentes se lembrem de que os adversários não são inimigos armados, prontos a matá-los na primeira oportunidade, mas sim pessoas como os próprios abecedistas, que têm família, um lar, um trabalho e que querem apenas acompanhar um jogo de futebol em paz.
Será que isso é pedir muito?
É preciso que abecedistas e americanos parem com esse ódio mortal mútuo. Somos todos seres humanos e merecemos respeito. Pagar para ver um espetáculo como o de sábado, muito mais apropriado para a era em que Roma colocava gladiadores para lutarem até a morte em sua arena, é deprimente, perturbador e degradante.
Ou se caminha para o profissionalismo, pensando no conforto e na segurança do torcedor, ou o futebol não mais se recuperará.
Quem quer ser o próximo alvo?
Aos jovens, fica o conselho: vão viver! Coisa alguma na vida, especialmente um clube de futebol, vale o risco de nunca mais voltar ao convívio de seus familiares.
E que esse show de baixaria e de desrespeito consiga envergonhar seus causadores como um todo e seja exemplo do que nunca mais deve ser repetido por aqui.