Penso que a moda começou com o Teatro Riachuelo. Para quem não lembra, o show de Roberto Carlos poderia ser assistido por quem pagasse R$ 20-40 no Machadinho. Agora com o Teatro Riachuelo, pode assistir quem pagou a bagatela de R$ 400,00, no mínimo. Agora, Maria Rita tem preço mínimo de R$ 140,00.
Não. Não quero dizer que os artistas não valem o dinheiro solicitado. Mas é preciso ver a realidade do público alvo. Eu assisti a Amy Winehouse em Recife por R$ 110,00 mais o valor do sedex. Amy Winehouse. Sabem quantos vezes ela já veio ao Brasil? Nenhuma. Sabem quantas vezes ela ainda pode vir? É impossível definir, até porque gênios com uma voz como a dela e temperamento difícil como o dela costumam ser recrutados cedo para apresentações no céu.
Em outubro fui a The Black Eyed Peas em Recife também. R$ 160,00. Nunca vieram ao Brasil. Talvez voltem. Mega estrutura. Nunca mais assistirei a shows com a mesma perspectiva de antes.
Roberto Carlos está na telinha da Globo todo ano. Maria Rita sim talvez esteja em outra categoria. Não é figurinha fácil. Mas...
Agora, o estadual do RN. O Abc, cujos torcedores valorizam as conquistas em tal nível, cobra ingresso de R$ 30,00 pela arquibancada. Foi esse o preço para ver Abc x Potiguar. O América cobra R$ 20,00. Quem pagou esse valor assistiu a Alecrim x Corintians e América x Centenário.
Mais uma vez, não quero desvalorizar os artistas - neste caso, os clubes, cujos torcedores são sempre apaixonados. Porém é preciso considerar a realidade tanto do nível dos espetáculos quanto a realidade dos pagantes.
Nossos clubes vivem chorando a falta de dinheiro para a contratação de craques. Não há patrocínio ou renda suficiente. Contam apenas com a paixão do torcedor para comparecimento aos jogos. Não há promoção para compra antecipada. Não há ineditismo, já que os jogos ocorrem duas vezes por semana. Há trasmissão televisiva, mesmo que paga, mas basta ir ao bar da esquina para assistir ao jogo de graça. O transporte público é ineficiente e sem o mínimo de conforto. O transporte próprio encontra a segurança do estacionamento de qualquer jeito ao sabor dos flanelinhas. A entrada no estádio é feita após a transposição de muita areia no caminho. Sentar no estádio é se entregar ao conforto do cimento armado e exposto ao sol durante o dia inteiro ou de cadeiras (ingresso mais caro) que há muito não sabem o que é limpeza. Sem falar na chuva, mas isto é um detalhe na cidade do sol.
O RN é um estado pobre, como o são a maioria dos estados nordestinos. Salário mínimo é realidade para quem consegue a proeza de ter um trabalho remunerado e formalizado. Imaginem ter de pagar o deslocamento até o estádio ou se submeter aos flanelinhas, superar o areal para adentrar o campo de jogo, sentar em cimento duro ou cadeira suja (de novo, ingresso mais caro), ficar exposto ao sol ou a chuva e ver um futebol de entendiar o mais apaixonado torcedor. Tudo isso 4 vezes no mês e pagando R$ 20,00 (no caso do América) ou R$ 30,00 (no caso do Abc) por jogo.
Não quero nem citar o caso da violência tanto das torcidas organizadas como da polícia que deveria atuar preventivamente, mas prefere esperar o circo pegar fogo para agir com a truculência resquício dos tempos de ferro da ditadura militar.
E o sócio torcedor? A mensalidade é alta e só compensa para quem compra à vista, o que é impensável para o assalariado. Até porque os clubes não jogam todos os meses, mas a mensalidade lá está, impiedosa.
Enfim, não entendo e não aceito que Abc e América explorem seus torcedores desta forma. Potiguar e Baraúnas, que só se exibem para seus torcedores durante o estadual, cobram R$ 12 por jogo. R$ 20 - R$ 30 por jogo, sem qualquer promoção para quem compra atencipado, é um convite para que o torcedor selecione apenas clássicos para comparecer.
Com a palavra, os departamentos de marketing e os presidentes.