Acho que meu prazo de validade como torcedora que se mete a comentar futebol, especialmente no que se refere ao América, está se esgotando. Não sei se são os muitos anos acompanhando os mesmos vícios de sempre, ou se a idade tem um peso maior na falta de paciência, mas o fato é que tem sido agoniante ver o samba de uma nota só que envolve o futebol do América nas últimas temporadas.
2021 tem sido de arrebentar a boca do balão. 4 técnicos já passaram por aqui. Paulinho Kobayashi, encerrando a temporada infindável de 2020, Evaristo Piza, vindo do Botafogo-PB, Daniel Neri, vindo do Sampaio Corrêa, Renatinho Potiguar, vindo do Santa Cruz-RN. Nem lembro se Leandro Sena, da casa, atuou em alguma partida.
Em todos os nomes, as mesmas reclamações. Time não evolui, os outros times, que são muito inferiores tecnicamente, dão nó tático, jogadores não saem/entram no tempo adequado. Se puxarmos a memória, essa reclamação vai chegar a qualquer um dos nomes anteriores aos deste ano por pelo menos 5 anos, para não ser injusta com os demais por esquecimento.
Todos também chegaram com pompa e circunstância. Aplausos muitos para os primeiros resultados. "Não disse que era o treinador o problema?" Até que o encanto passa. Começa com uma reclamaçãozinha aqui sobre um jogador mal escalado, outra ali sobre um jogador que não deveria estar no banco e, de repente, ninguém mais sabe como o incompetente e burro que responde pelo time chegou ali se não sabe montar, escalar e nem mexer na equipe.
Outra coisa curiosa é que todos esses nomes eram objeto de desejo quando técnicos de outras equipes. Grandes nomes, todos com grandes trabalhos dentro de campo que cairiam como uma luva no Orgulho do RN, segundo imprensa, dirigentes e torcida.
A mágica acontece quando os desejados recebem o cargo no América. Se o América acertou com X, perdeu a chance de ter Y, que arrebentou no ABC, no Globo, no Botafogo, no Sampaio ou até onde Judas perdeu as botas.
A escolha, então, vira piada de mau gosto, com ninguém entendendo como o clube foi em busca de um técnico tão despreparado como aquele, um verdadeiro entregador de camisas.
Melhor ainda é ninguém conseguir enxergar como os adversários podem jogar mais do que o América. Há uma soberba generalizada dentre dirigentes, imprensa e torcida. Ninguém enxerga o tempo de trabalho dos outros técnicos e até de seus elencos. Ninguém enxerga que o América vive de trocar técnicos a cada 5-6 rodadas, uma roda viva, diga-se de passagem, aplaudida e muito incentivada por sua torcida, que atua como aquela pessoa drogada/alcoolista que anseia pela próxima dose, que anima, mas é devastadora e apenas precipita sua derrocada.
E assim o América começou a atual competição com um técnico que durou 3 rodadas e a torcida já pede a cabeça do treinador que ousa durar 10 partidas, mesmo que ele tenha apenas 1 derrota. E aqui faço questão de deixar claro que nunca achei Renatinho Potiguar o nome adequado para a situação, ao contrário de dirigentes, imprensa e torcida em geral, o que me deixa ainda mais à vontade para este texto.
Os outros clubes seguem com seus técnicos. Sou capaz de apostar que Juazeirense, Imperatriz, Jacuipense e Floresta tinham técnicos com mais tempo de casa do que os do América em cada época. Nem precisa ter tanto tempo assim, já que a batata esquenta por aqui com 5-6 rodadas.
No caso do jogo de hoje, também acredito que Ranielle Ribeiro tem mais tempo à frente do Campinense do que Renatinho tem à frente do América. Melhor esquecer isso e pensar que o América não evolui e que os outros também não têm esse direito.
Vejam que estou puxando apenas o fio do trabalho técnico. Se for falar de contratações (estilo colcha de retalhos ou não) ou da verdadeira panela em que muitos mexem que é o América fora de campo (com reflexos inclusive na atuação dos atletas), aí é capaz de não ter mais nem paciência para terminar este texto.
Eu não consigo compreender que não se enxergue uma realidade tão na cara como a que produz o declínio sofrido do Orgulho do RN e se jogue tudo na conta de um técnico que nunca monta uma equipe e, quando participa de alguma forma da montagem do elenco, é descartado no meio de uma competição, até se ela for um torneio fajuto como o estadual. Ainda assim, há quem jure que a prioridade seja o acesso.
Na verdade, eu nem sei se quero entender a motivação para tanto. Corro o risco de enlouquecer de vez. Não vale a pena.