Fui agraciada com cortesias para acompanhar ontem o Luau com Anavitória no Beach Club.
Conheço pouco da dupla, como escrevi em
Ode à leseira, sobre um filme que as duas estrelam.
De cara, fiquei me perguntando em que outro lugar do mundo um luau é marcado sem haver lua cheia...
No convite, esclarecia-se que os portões do local estariam abertos às 18h e que o show começaria às 19h.
Saí de casa às 18h10 e peguei um trânsito infernal da Av. Engenheiro Roberto Freire até o Beach Club, na Via Costeira.
Sem conseguir me aproximar do local, estacionei o carro na Via Costeira mesmo, ainda antes do Hotel Vila do Mar, só para uma ideia do caos instalado.
Ao descer do carro, fui cumprimentada por um flanelinha me avisando que eu teria que pagar R$ 20 na hora para estacionar no meio da rua. Esse talvez seja o melhor retrato do Brasil: flanelinhas que cobram pelo nada.
Olhei para ele e disse que, naquele preço, eu ia voltar para casa para pegar um Uber. Ganhei o direito de pagar R$ 10 na hora e o resto na volta. Eu já sabia que ele não estaria ali na volta, mas fingi cair no conto e ainda perguntei se ele estaria mesmo ali.
Como nunca havia ido ao local para o show, imaginava encontrar o pequeno estacionamento do local disponível. Não estava. E ainda que estivesse não haveria a menor condição de eu chegar de carro até lá a tempo. Depois descobri que o Vila do Mar ofertava seu estacionamento por R$ 20. Pelo menos há quem processar em caso de dano/furto...
Cheguei a uma enorme fila para entrar às 19h02. Só entrei no local às 19h47. Nunca, absolutamente nunca passei por isso num show por absoluta incompetência de quem controlava a entrada. Nem Madonna, seja no Morumbi em São Paulo, seja na American Airlines Arena em Miami, só para citar dois públicos trocentas vezes maiores que o de ontem. Parecia haver um certo prazer da (des)organização em criar uma fila na frente. Há uma ilusão aqui em Natal de que isso atrai público. E a chateação aumentando para todos que ali estavam.
Para piorar para quem teve a mais incrível coragem de pagar preço de Teatro Riachuelo por um show ao ar livre e sem estacionamento disponível, cambistas passavam vendendo ingressos com preços bem mais em conta. E quanto mais a fila demorava, mais o preço caía. Começou em R$ 40/meia. Quando cheguei perto do acesso, a oferta já ia em R$ 20. Imagino a raiva de quem desembolsara mais de R$ 120.
É uma pena que natalenses se sujeitem a esse tipo descarado de exploração. Cobrar preço de Teatro Riachuelo para que as pessoas vejam um show que dá para acompanhar até do meio da rua e com sério risco de chuva sem que haja abrigo suficiente para todos é uma piada de muito mau gosto de quem entendeu que o Beach Club seria uma espécie de hot spot de Natal. E o inferno a que todo mundo foi submetido para entrar era típico de espetáculos gratuitos, não de um que tinha ingresso por mais de R$ 120!
Quando finalmente entrei, o calor fez o resto do serviço para uma enxaqueca que me atacava desde a saída de casa.
Pelo menos a dupla foi pontual. Elas haviam deixado escapar num vídeo que o show seria às 20h e exatamente às 20h ele começou. Ponto para elas.
Gostei muito do show, mesmo com tantos percalços. Ana e Vitória me mostraram ainda mais talento ao vivo. Não conhecia quase nenhuma das canções, mas gostei de todas.
O público reflete muito a realidade atual: muitos celulares para cima gravando vídeos. Uma pessoa à minha frente, quando não estava filmando, conferia mil mensagens em aplicativos. Ela chegou até a colocar Anavitória para tocar no Spotify?! Não entendi a necessidade do mundo virtual se o real estava ali, tão pertinho.
1h30, aproximadamente, de um show certinho, agradável, com um público que cantava todas as músicas. E outro ponto para a dupla: nada de frescura de guardar músicas para o bis. Que bis? Acabou, acabou. Tchau e bênção. Amei!
Certamente verei um show de Anavitória outras vezes. Porém, definitivamente onde o custo seja diretamente proporcional ao que é oferecido ao consumidor. Ou seja, o Beach Club suba e desça e de mim esqueça.
P.S.: quando voltei para o carro nem sinal mais de qualquer flanelinha que fosse. Ah, se tivéssemos uma cidade bem guardada pela polícia...