segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Marina me representa

Nessa tarde, Marina Silva, candidata à presidência pela Rede Sustentabilidade, publicou no Facebook seu posicionamento neste 2.º turno das eleições presidenciais, que segue abaixo. Há tempos não via uma opinião para expressar quase 100% do meu pensamento.

Por isso, já alerto: Marina Silva me representa.

POSICIONAMENTO NO SEGUNDO TURNO

Neste segundo turno a Rede Sustentabilidade já recomendou a seus filiados e simpatizantes que não votem em Bolsonaro, pelo perigo que sua campanha anuncia contra a democracia, o meio-ambiente, os direitos civis e o respeito à diversidade existente em nossa sociedade.

Do outro lado, a frente política autointitulada democrática e progressista não se mostra capaz de inspirar uma aliança ou mesmo uma composição. Mantém o jogo do faz-de-conta do desespero eleitoral, segue firme no universo do marketing, sem que o candidato inspire-se na gravidade do momento para virar a própria mesa, fazer uma autocrítica corajosa e tentar ser o eixo de uma alternativa democrática verdadeira. Alianças vêm de propósitos comuns, de valores políticos e éticos, de programas e projetos compartilhados, que só são possíveis em um ambiente de confiança em que, diante de inaceitáveis e inegáveis erros, a crítica é livre e a autocrítica é sincera.

Cada um de nós tem, em sua consciência, os valores que definem seu voto. Sei que, com apenas 1% de votação no primeiro turno, a importância de minha manifestação, numa lógica eleitoral restrita, é puramente simbólica. Mas é meu dever ético e político fazê-la.

Importa destacar que, como já afirmei ao final do primeiro turno, serei oposição, independentemente de quem seja o próximo presidente do Brasil, e continuarei minha luta histórica por um país politicamente democrático, economicamente próspero, socialmente justo, culturalmente diverso, ambientalmente sustentável, livre da corrupção, e empenhado em se preparar para um futuro no qual os grandes equívocos do modelo de desenvolvimento sejam superados por uma nova concepção de qualidade de vida, de justiça, de objetivos pessoais e coletivos. O meu apoio à Operação Lava-Jato, desde o início, faz parte dessa concepção, na qual o Estado não é um bunker de poder de grupos, mas um instrumento de procura do bem público. 

Vejo no projeto político defendido pelo candidato Bolsonaro, risco imediato para três princípios fundamentais da minha prática política: primeiro, promete desmontar a estrutura de proteção ambiental conquistada ao longo de décadas, por gerações de ambientalistas, fazendo uso de argumentos grotescos, tecnicamente insustentáveis e desinformados. Chega ao absurdo de anunciar a incorporação do Ministério do Meio Ambiente ao Ministério da Agricultura. Com isso, atenta contra o interesse da sociedade e o futuro do país. Ademais, desconsidera os direitos das comunidades indígenas e quilombolas, anunciando que não será demarcado mais um centímetro de suas terras, repetindo discursos que já estão desmoralizados e cabalmente rebatidos desde o início da segunda metade do século passado.

Segundo, é um projeto que minimiza a importância de direitos e da diversidade existente na sociedade, promovendo a incitação sistemática ao ódio, à violência, à discriminação. Por fim, em terceiro lugar, é um projeto que mostra pouco apreço às regras democráticas, acumula manifestações irresponsáveis e levianas a respeito das instituições públicas e põe em cheque as conquistas históricas desde a Constituinte de 1988.

Por sua vez, a campanha de Haddad, embora afirmando no discurso a democracia e os direitos sociais, evocando inclusive algumas boas ações e políticas públicas que, de fato, realizaram na área social em seus governos, escondem e não assumem os graves prejuízos causados pela sua prática política predatória, sustentada pela falta de ética e pela corrupção que a Operação Lava-Jato revelou, além de uma visão da economia que está na origem dessa grave crise econômica e social que o país enfrenta. Os dirigentes petistas construíram um projeto de poder pelo poder, pouco afeito à alternância democrática e sempre autocomplacente: as realizações são infladas, não há erros, não há o que mudar.

Ao qualificar ambos os candidatos desta forma, não tenho a intenção de ofender seus eleitores, milhões de pessoas que acreditam sinceramente em um deles ou que recusam o outro, com muitas e justificadas razões. E creio que os xingamentos e acusações trocados nas redes sociais e nas ruas só trazem prejuízos à democracia, mas é visível que, na maioria das vezes, essas atitudes são estimuladas pelos discursos dos candidatos e de seus apoiadores. A política democrática deve estar fortemente aliançada no respeito à Constituição e às instituições, exercida em um ambiente de cultura de paz e não-violência.

Outro motivo importante para a definição e declaração de meu voto é a minha consciência cristã, valor central em minha vida. Muitos parecem esquecer, mas Jesus foi severo em palavras e duro em atitudes com os que têm dificuldade de entender o mandamento máximo do amor.

É um engano pensar que a invocação ao nome de Deus pela campanha de Bolsonaro tem o objetivo de fazer o sistema político retornar aos fundamentos éticos orientados pela fé cristã que são tão presentes em toda a cultura ocidental. A pregação de ódio contra as minorias frágeis, a opção por um sistema econômico que nega direitos e um sistema social que premia a injustiça, faz da campanha de Bolsonaro um passo adiante na degradação da natureza, da coesão social e da civilização. Não é um retorno genuíno ao mandamento do amor, é uma indefensável regressão e, portanto, uma forma de utilizar o nome de Deus em vão.

É melhor prevenir. Crimes de lesa humanidade não têm como se possa reparar. E nem adianta contar com o alívio do esquecimento trazido pelo tempo se algo irreparável acontecer. Crimes de lesa humanidade o tempo não apaga, permanecem como lição amarga, embora nem todos a aprendam.

Todas essas reflexões me inquietam, mas mostram o caminho da firmeza, do equilíbrio na análise e a necessidade de pagar o preço da coerência, seja ele qual for.

E assim chegamos, neste segundo turno, ao ponto extremo de uma narrativa antiga na política brasileira, a do "rouba, mas faz" e depois, do "rouba, mas faz reformas", mas ajuda os pobres, mas é de direita, mas é de esquerda etc.. De reducionismo em reducionismo, inauguramos agora o triste tempo do "pelo menos".

Diante do pior risco iminente, de ações que, como diz Hannah Arendt, "destroem sempre que surgem", "banalizando o mal", propugnadas pela campanha do candidato Bolsonaro, darei um voto crítico e farei oposição democrática a uma pessoa que, "pelo menos" e ainda bem, não prega a extinção dos direitos dos índios, a discriminação das minorias, a repressão aos movimentos, o aviltamento ainda maior das mulheres, negros e pobres, o fim da base legal e das estruturas de proteção ambiental, que é o professor Fernando Haddad.

Melhoramos

Se é certo que ainda há muito a fazer, também não podemos fechar os olhos para o avanço brasileiro em termos de educação, habitação e mesmo em relação ao progresso material de todas as classes sociais entre 1995 e 2015 - em 20 anos, portanto - como apontaram dados do Plano CDE e o IBGE utilizados pelos autores do livro O Brasil Mudou Mais do que Você Pensa, pesquisadores que são da Fundação Getúlio Vargas.

A revista Veja de 03/10/18 (páginas 74 e 75) trouxe alguns dados em gráfico para ilustrar esse avanço, que passo a listar aqui.

O número de brasileiros no ensino superior aumentou 2,6 vezes nas classes A e B (de 1,7 milhão para 4,4 milhões) e impressionantes 24 vezes nas classes C, D e E (de parcos 87 mil para 2,1 milhões).

A escolaridade média também subiu. Saiu de 3,9 anos para 8,4 anos nas classes D e E, de 5,4 anos para 9,7 anos na classe C e de 8,2 anos para 11,6 anos nas classes A e B.

O perfil das moradias brasileiras também foi bastante modificado. Eram 1,6 milhão de domicílios com um ou dois cômodos (dentre sala, quarto e cozinha) apenas. Esse foi o único número que caiu - 1,1 milhão em 2015.

Já os domicílios com seis a dez cômodos saltaram de 9,5 milhões para 21 milhões. E com três a cinco cômodos saíram de 14,3 milhões para 27,3 milhões.

Em relação ao progresso material, a reportagem mostrou a porcentagem de domicílios com máquina de lavar roupa. Nas classes D e E, eram 5% e passaram a 35%. Na classe C, os 10% de domicílios com o eletrodoméstico passaram a 53%. E nas classes A e B, o salto foi de 42% para 79%.

Se falássemos em aparelhos de celular, aí seria assustador. 

Não custa nada lembrar que esse avanço se deu dentro do mais longo período de democracia que este Brasilzão já viu - estes 30 anos da Constituição Cidadã. Tem como não ser fã da democracia?

Explicando o liberalismo

Mario Vargas Llosa, 82 anos, escritor peruano ganhador do Nobel de Literatura e defensor do liberalismo, explicou o conceito deste numa entrevista a Veja de 03/10/18 (páginas amarelas). Vale relembrar.

Houve dois movimentos que deturparam o conceito liberal: um à esquerda e o outro à direita. Ele foi usado de forma muito arbitrária por partidos reacionários e conservadores, e também por aqueles que patrocinaram ditadores, como foi o caso do Somoza, na Nicarágua, que se dizia um liberal. Ocorre que há uma grande diferença entre um governo liberal e um governo que empreende algumas medidas de abertura econômica. A liberdade é inseparável do liberalismo. E a liberdade não pode ser só liberdade econômica: deve avançar ao mesmo tempo nos campos econômico, político, social e cultural. Por mais que um regime autoritário empreenda certas políticas de mercado, não pode ser chamado de liberal. Nem Pinochet, nem os militares argentinos, tampouco os generais desenvolvimentistas brasileiros foram liberais.

Manchetes do dia (22/10)

A manchete do bem: Fala de Eduardo Bolsonaro é golpista, diz Celso de Mello.

As outras: Dona de direitos do Brasileiro tem sede em paraíso fiscal, Governo Trump quer excluir existência de pessoas transgênero da lei federal e Faculdades privadas querem que o novo governo aumente Fies em 10 vezes.

Bom dia a todos!

Fonte: Folha de S.Paulo

Today's headlines (10/22)

The headline for good: The week in tech: Executives pull out of Saudi conference.

The others: 'Transgender' could be defined out of existence under Trump administration, Turkey's president vows to detail Khashoggi's death 'in full nakedness' and Miscarrying at work: The physical toll of pregnancy discrimination.

Good morning, everyone!

Source: The New York Times

domingo, 21 de outubro de 2018

Parece brincadeira

Aparentemente, a Copa 2018 já está muito distante da memória da imprensa esportiva. Pelo menos é o que se depreende de reportagem da Tribuna do Norte deste domingo.

A reportagem exalta uma tal solidez defensiva do time de Tite, que não toma gols há 4 partidas. Pelo jeito, a memória falhou sobre o time brasileiro. É que o Brasil chegou à Copa como adversário irresistível dos seus pares das Américas, especialmente da parte sul. 

Agora exaltam uma tal solidez defensiva porque o Brasil não tomou gols contra Estados Unidos, El Salvador, Arábia Saudita e Argentina. 

O sofrimento brasileiro na Copa se deu contra adversários europeus. Portanto, qual (quais) dos adversários dos últimos amistosos é (são) europeu(s)?

É muita boa vontade para se iludir...

Boa experiência

A expectativa era grande, mas a divulgação não foi adequada. Para se ter uma ideia, eu só adquiri ingresso para o show do Balão Mágico na véspera. Muita gente deixou de ir por nem saber que o evento ocorreria.

Mas ele aconteceu. Mike, Toby e Simony, da formação original que encantou com músicas como Galinha Magricela, Ursinho Pimpão, Oh, Suzana, Você e Eu e por aí vai fizeram trintões e quarentões cantar e dançar com o mesmo entusiasmo de 33 anos atrás quando estiveram no finado Castelão em Natal.

Dos três, Toby é o que ainda mantém a inocência de criança. Sua voz é a que mais lembra o tom original das músicas, embora obviamente tenha amadurecido. 

Mike parece bem à vontade com várias funções no palco - também ataca de percussionista.

E Simony... Bem, Simony sempre foi Simony. É a estrela principal. Troca de roupa algumas vezes e domina a cena, inclusive com humor.

O trio esbanjou simpatia o tempo inteiro. Simony deixou logo bem claro que tiraria fotos com todo mundo que ali estava no pós-show. 

Eu só não gostei de uma certa falta de profissionalismo. Apostaram muito na emoção e deixaram detalhes técnicos importantes de fora, como um roteiro para o show. Havia momentos em que não se sabia quem dos três iria falar com o público. Num determinado instante me pareceu bem claro que Mike enchia linguiça - pela repetição das palavras - para dar tempo da troca de figurino de Simony.

O próprio início do show teve que parar e começar de novo por falha. 

Fora as inúmeras vezes em que um dos três errou a letra. Numa, Simony mesmo deixou claro o erro. Noutras, ouvimos palavras desencontradas com os três cantando ao mesmo tempo. E ainda houve aqueles erros de não saber até onde iria a repetição do refrão ou de uma parte dele.

Se o trio pretende encarar mesmo um retorno à carreira - merecido, afinal as letras são de extremo bom gosto -, levar a coisa a sério principalmente em shows em lugares como o Teatro Riachuelo, que não tem pena do bolso alheio, é vital para o devido sucesso.

Como sempre faço, compartilho alguns momentos abaixo. Muita gente voltando a ser criança.
































































Gostei e não gostei

Fiquei devendo uma análise sobre a estreia do América na Copa do Nordeste Sub-20 na última sexta-feira. Antecipei algumas coisas no Podcast de hoje sobre o futebol e vamos a mais detalhes por aqui.

Primeiro, o América me pareceu organizado no jogo. Até tomar o gol, foi o senhor das ações do jogo. No segundo tempo, também, embora já não mais com tanta organização como no primeiro tempo.

Gostei desses 20 minutos iniciais dentro da nova realidade do futebol, cada vez mais parecido com handebol. O Fortaleza passou poucas vezes da linha divisória do gramado. E ainda tinha torcedor do América gritando para o treinador tirar a equipe de trás...

Não gostei da atuação de 2 jogadores especificamente: o zagueiro Matheus Machado e o volante Rennan. Este último demonstrou enorme dificuldade para dominar bolas e matou vários ataques de sua equipe. O zagueiro parecia estar no mundo da lua e tomar sempre a decisão errada.

Também não sou fã do esquema com 3 zagueiros, especialmente se os alas são frágeis na subida ao ataque. Murici e Diego não funcionaram como pontas como esperado, embora tenham atuado bem quando apareceram ofensivamente. Só que o buraco defensivo principalmente com Murici foi maior do que qualquer benefício alcançado, tanto que o gol adversário começou pelo lado direito americano.

Sobre Ewerton, Anthony e Thyago. Ewerton é um goleiro pronto e está naquele momento ideal para que a experiência confirme e até aumente seu potencial. Neste jogo, demonstrou os efeitos da falta de ritmo e nem assim comprometeu. Muito pelo contrário, salvou a equipe com intervenções primorosas inúmeras vezes. O América precisa considerar seriamente sua escalação como titular da equipe principal sob pena de desperdiçar de vez o momento propício do jogador. É o mais sábio ensinamento da Imperatriz Leopoldina a D. Pedro I: "O pomo está maduro. Colhei-o já, senão apodrece".

Anthony e Thyago poderiam ter brilhado bem mais. Mas aqui também entra uma observação sobre o esquema do time. Anthony passou a atuar enfiado, como um atacante, e não foi assim que rendeu no ano passado no sub-19, quando foi responsável por muitas assistências da equipe, tendo feito de Marcelinho artilheiro. E Thyago, também enfiado, sofreu com poucos avanços pelas laterais da equipe. Quando o time decidiu cruzar mais pelas laterais com Garcia, Thyago já havia sido substituído por Ronald, que não tem a mesma característica. Daí eu não entender mais a escalação dos velhos camisas 9 se ninguém pretende deixá-lo na cara do gol. Isso vale para Thyago e para Max, este no time profissional.

Judson esteve muito bem no jogo, como esperado, especialmente na segunda etapa, quando livrou a equipe de muitos contra-ataques. Quem também entrou muito bem foi o zagueiro Álvaro, que mostrou segurança de titular na maioria esmagadora dos lances. Aliás, bem que Jocian poderia ter sacado Matheus para colocar Álvaro e deixado o esquema de 3 zagueiros para uma outra oportunidade, afinal, a derrota se avizinhava.

Em resumo, não gostei da escalação de Matheus e Rennan e não gostei de nenhuma mexida ter passado por esses dois jogadores que estavam bem abaixo no desempenho técnico. A ida de Murici para o meio também se revelou infrutífera durante a partida, mas foi corrigida. Achei prematura a saída de Leandro, que bem ou mal, aparecia muito pela esquerda, e de Anthony e Thyago. Também espero um pouco mais de efetividade em transformar o domínio de bola em chutes a gol. Agora é esperar que Jocian corrija essas falhas de avaliação e de desempenho e que o América conquiste um bom resultado já na segunda rodada para que uma sequência de resultados ruins não ameace a evolução da equipe. 

Potiguar 2019 na TV União

A Tribuna do Norte deste domingo trouxe reportagem de capa no caderno de esportes abordando a proposta feita pela TV União para transmitir o Campeonato Potiguar 2019 e eu resumo aqui o que a emissora pretende e o que acho sobre o assunto.

De acordo com o que li, a TV União pretende uma parceria com os clubes. 28 partidas do estadual seriam transmitidas em pay-per-view disponível apenas para assinantes da Cabo Telecom. Dos valores arrecadados mensalmente com os assinantes do pacote, uma porcentagem seria direcionada aos clubes por meio de conta da Federação Norte-rio-grandense de Futebol. Os clubes poderiam negociar livremente as placas dos estádios e, obviamente, a exposição de marcas em seus uniformes. E os assinantes da Cabo Telecom também não teriam qualquer fidelidade, podendo cancelar o pacote a qualquer tempo,

A emissora também pretende disponibilizar jogos pela internet (inclusive em aplicativos de smartphones e Smart TVs) para sócios torcedores dos clubes de uma modalidade específica, que dará direito de ver os jogos do seu clube fora da cidade de mando de campo. Também teriam direito de acesso à programação da Oldflix, que pertence à emissora.

Todo o custo de transmissão seria da TV União e os horários seriam os determinados pelos clubes em conjunto com a FNF. Segundo Manoel Ramalho, superintendente do canal, "a TV União não irá pedir para modificar o horário de nenhuma partida."

Apenas acredito que os clubes devem observar bem os dois lados dessa moeda. Primeiro, sem canal aberto, não há tanta exposição da marca para atrair patrocinadores. 

Segundo, a base de assinantes do sinal de TV da Cabo Telecom já não é a mesma de outras épocas. Não imagino que o pacote possa ser ofertado a quem assina apenas a internet, por exemplo. Logo, haveria o custo de assinar a TV e o custo de assinar o pay-per-view, isso para um campeonato que acaba num espirro.

Terceiro, e até pelo exposto no segundo ponto, o grande boom de assinaturas ficaria com bares, o que de novo tiraria público e dinheiro dos clubes.

Acredito firmemente que esta é a hora dos clubes investirem em suas próprias plataformas de transmissão, como o América tem feito com a TV Mecão. A menos que uma emissora de sinal aberto queira realizar uma transmissão que aumente a captação de patrocinadores, esse deve ser o caminho. Acreditar em boom de pay-per-view de um estadual que caminha para a falência pode se revelar mais um belo tiro no pé.

Quando vamos superar?

A pergunta, além de pertinente, é preocupante. A angústia de não ter uma resposta traz um agravante - vamos superar?

Refiro-me a essa onda louca que transformou jornalistas e órgãos de imprensa em mentirosos contumazes e aquela mensagem escrita ou em vídeo encaminhada por números mil no WhatsApp em verdade absoluta, inabalável. 

Os Estados Unidos ainda não se encontraram a esse respeito. Desde a campanha que elegeu Donald Trump, que, sem o menor dos escrúpulos, defenestra os profissionais da imprensa que ousam publicar qualquer verdade que lhe cause desgosto, os americanos não sabem mais o que é paz. A divisão estimulada pelo chefe da nação já ameaça aquela que é tida como a maior democracia do mundo.

O roteiro segue aplicação exata no Brasil. A única exceção é que lá, Donald Trump não se recusou a comparecer a debates para se escorar apenas numa rede clandestina de ataques virulentos ao gosto de Steve Bannon e Cambridge Analytica. Aqui, Jair Bolsonaro segue confortavelmente subvertendo a democracia. As urnas são uma fraude, a eleição é uma fraude, debates são uma fraude. Dinheiro de caixa 2 (aquele que não é declarado à Justiça Eleitoral) para financiar impulsionamentos de mensagens pode. Fazer campanha em prédio público também pode. Negar o que disse, depois dizer de novo, e negar novamente também. 

No Brasil, impera o silêncio do candidato que lidera a campanha para a presidência a respeito de propostas concretas. Tanto dele como de seu vice e de seu guru econômico. A regra é evitar qualquer declaração sobre o que virá a partir de 2019 e que cause polêmica. Para que arriscar votos se o povo prefere a ilusão do salvador da pátria? Se o que basta é apenas aquele ser mitológico receber a faixa presidencial e tudo estará resolvido? (Isso lembra alguém?)

Vejo gente dizer, com alegria, que a programação de TV, especialmente da Globo, não será mais como tem sido. Outros propagam o fechamento de jornais, como a Folha de S.Paulo. Ou seja, defendem com entusiasmo a censura. Acham que há espaço no Século XXI para uma volta a 1964.

Outros defendem que uma religião determine o modo de viver de todos os cidadãos, sejam eles adeptos ou não daquela seita. 

Há também os que sonham com um país em que cada cidadão tenha uma arma pronta a ser disparada sempre que seu detentor entenda estar em perigo, o que pode acontecer no trânsito, no meio da rua, numa festa, dentro de casa. Talvez até no meio do sono.

Não consigo entender o que leva uma pessoa a acreditar que ter uma arma é proteção. Um fuzileiro naval da reserva tinha duas e foi morto nessa semana dentro de casa no RN. Levaram as armas. O próprio Bolsonaro estava arrodeado de gente armada e ainda assim foi esfaqueado.

Não temos mais discussões. A qualquer argumento contrário, basta disparar "fake news". "Mas foi o seu candidato que falou isso em entrevista ao vivo!". "Montagem, truncagem, mentira, mídia vendida, gente que vive do dinheiro desviado da Lei Rouanet.

E assim, a desfaçatez do discurso dito e negado. A clareza do jogo sujo. A verdade da mentira ou a mentira da verdade. 

Como ou quando superaremos isso? Superaremos? Queremos superar?

Livros, jornais, revistas, canais de TV, estações de rádio, todos fadados a uma insana fogueira inquisitorial.

Ah, mas isso não começou agora. Não mesmo. Essas coisas começam devagarinho. Às vezes até achamos engraçadinhas quando vêm do lado que apoiamos. O problema é que tais coisas crescem sem anteparos e terminam por nos engolir a todos.

Como voltaremos a ser uma democracia plena em que a liberdade de expressão seja respeitada, e também respeite a dignidade da pessoa humana, e seja defendida até por quem não concorda com o que está sendo dito, como tão sabiamente Voltaire pregava?

Quando olharemos para os nossos próximos sem receio, mas com compaixão pela dor alheia?

Quando entendermos que esse mundo virtual não nos dá licença para a selvageria desmedida e que faz com que sejam ditas, ou escritas, coisas que jamais seriam faladas cara a cara?

Libertar-nos-emos desse hipnótico mundo virtual que nos afasta da realidade e nos joga em bolhas intransponíveis?

Temo dizer aqui que não vislumbro resposta a tais perguntas. E sei que muitos como eu vivem uma angústia que não passa pelos rumos que estamos tomando como civilização.

O que nos resta é tentar manter o mínimo de lucidez, de sanidade mental, para não sermos tragados de vez para dentro dessa bolha. 

A humanidade tem que superar esse apocalipse da consciência. Se assim não for, abriremos mão de toda a evolução iluminista em nome de conhecimento raso, rápido e absolutamente enganador. Será o fim, não de uma geração, ou de uma nação, mas da humanidade como projeto em constante evolução. E o famoso livre arbítrio nos fará abrir mão da racionalidade e escolhermos voluntariamente a irracionalidade, irmanando-nos com os animais tidos como menos evoluídos. Que triste fim!