A memória é boa, mas às vezes trai. Tinha certeza de que Péricles Chamusca havia treinado o América em 1997, mas sabia que Ferdinando Teixeira tinha comandado o clube durante todo o estadual, disputado no terrível Juvenal Lamartine em virtude de obras no finado Machadão para receber a Série A.
Também sabia que o América havia sido comandado desde o início daquela 1.a Divisão pelo carioca Júlio César Leal, ex-Fluminense, que manteve o Mecão na elite nacional (17.° dentre 26 clubes, tendo disputado uma vaga entre os oito classificados para o mata-mata - sim, a Série A tinha finais - até umas 3 rodadas para o final). Naquele ano, só o São Paulo venceu o América no Machadão - uma campanha inesquecível!
Nos sites de estatística, o América aparecia no currículo de Péricles em 1998. Não batia com minha memória. Em 1998, o América foi campeão da Copa do Nordeste num jogo inesquecível no Machadão contra o Vitória de Fábio Costa, Agnaldo e Petkovic, todos no auge da carreira. E viveu uma Conmebol (atual Sul-Americana) e uma 1.a Divisão cheias de percalços. Mas eu não lembrava de Chamusca num jogo.
Aí achei a nota abaixo. É da
Folha de São Paulo. O caderno de esportes da Folha de 05 de junho noticiou a contratação em cima da hora do novo integrante da elite do futebol brasileiro. Então entendi tudo. Péricles foi contratado para a Série A de 1997, como eu lembrava, mas nunca estreou. Foi demitido antes nas circunstâncias que relatei na postagem anterior.
Percebam que a nota foi redigida em 03/06/97, a quase um mês do Bradileirão, mas antes da virada de mesa daquele ano, que manteve Fluminense e Atlético-PR na 1.a Divisão, aumentando o número de participantes para 26.
Mas como adoro história, segue a reprodução completa da nota a respeito desse momento quase apagado da memória coletiva:
América-RN quer supresa no Brasileiro
Fábio Victor
Da reportagem local
Catorze anos depois de disputar o seu útimo Campeonato Brasileiro da primeira divisão, o time do América, de Natal (RN), desponta com a grande incógnita do torneio deste ano -programado para começar em 5 de julho.
O América volta à divisão de elite do futebol nacional por ter sido vice-campeão da Série B (segunda divisão) do ano passado. O campeão foi o União São João (SP).
Mas, seguindo uma prática comum no futebol nacional, deixou para aprontar o time às vésperas da competição, optando por contratar jogadores de outros Estados só para disputar o torneio.
A primeira providência da diretoria foi trocar o técnico. Ferdinando Teixeira, que levou ao time ao vice da Série B, foi substituído por Péricles Chamusca, contratado junto ao Mirassol (SP).
Chamusca fez uma lista com cerca de 15 jogadores -a maioria do interior paulista-, que o clube ainda está tentando negociar.
"Está em cima, mas vamos correr atrás do prejuízo. É o jeito", afirma o presidente do América, Eduardo Rocha.
Moura, um veterano de 32 anos que se destacou no Sport, transferindo-se depois para o Cerezo Osaka (Japão) vê com naturalidade a contratação tardia de reforços, mas admite que a preparação poderia ter sido melhor planejada.
"O ideal era que todo mundo estivesse treinando junto desde o início do ano", diz.
Com pretensões assumidamente modestas, o América aposta no desdém dos adversários para alcançar sua meta: ficar entre os 15 primeiros colocados do Brasileiro (24 clubes disputam a primeira divisão do torneio).
A expectativa de ser visto como "saco de pancadas" não desencoraja os jogadores do América -pelo contrário.
"Sabemos que isso vai existir, mas temos que ver o lado positivo da coisa. Correndo por fora, podemos surpreender a cada rodada", diz o goleador Vanderlei.