Sempre achei o árbitro paranaense, mas ligado à Federação Catarinense de Futebol, Heber Roberto Lopes um tanto quanto folclórico. Tem épocas que é meio caseiro, tem épocas em que lasca o time da casa, mas é um bom árbitro. Ele tem superado, pelo menos na minha opinião, um certo ar de arrogância para se tornar carismático e passou também a ser um bom motivo para acompanhar jogos.
Numa longa entrevista nesta semana ao Globoesporte.com - recomendo a leitura - Héber trouxe muita coisa interessante de sua vida e de sua visão da arbitragem e do futebol. Vejamos alguns trechos:
O começo
"Comecei muito cedo, na Vila Recreio, em 1985, com apenas 13 anos. O início foi por acaso, nunca imaginei ser um árbitro de futebol. Eu apitava os jogos da Revisora, uma equipe de uma empresa que joga até hoje aos sábados. O seu José Prestes, que é até hoje proprietário dessa empresa, foi a pessoa que me deu o apito. Num sábado, a pessoa que apitava faltou. Eu estava na beira do campo e o seu José me entregou o apito. No início fiquei receoso, mas me saí bem e no outro sábado a pessoa que apitava foi, aí falaram: 'Não, põe o Héber para apitar'. Minha mãe tinha um pouco de receio na época. Porque eram campeonatos amadores. E eu já fui agredido. Os campos não tinham alambrados, e de vez em quando nós tínhamos coisas graves como agressões."
"Comecei muito cedo, na Vila Recreio, em 1985, com apenas 13 anos. O início foi por acaso, nunca imaginei ser um árbitro de futebol. Eu apitava os jogos da Revisora, uma equipe de uma empresa que joga até hoje aos sábados. O seu José Prestes, que é até hoje proprietário dessa empresa, foi a pessoa que me deu o apito. Num sábado, a pessoa que apitava faltou. Eu estava na beira do campo e o seu José me entregou o apito. No início fiquei receoso, mas me saí bem e no outro sábado a pessoa que apitava foi, aí falaram: 'Não, põe o Héber para apitar'. Minha mãe tinha um pouco de receio na época. Porque eram campeonatos amadores. E eu já fui agredido. Os campos não tinham alambrados, e de vez em quando nós tínhamos coisas graves como agressões."
A mãe
"A minha mãe era totalmente contra porque ela achava que aquilo era muito para mim. Mas meu irmão que era do karatê deu apoio, falou que o Esporte era um bom caminho. E graças a Deus minha mãe pôde me ver apitando jogos importantes antes de falecer, em 2012. Ela me levou a muitos jogos quando não dirigia. Ficava no alambrado. E o estranho era quando um torcedor mais exaltado me xingava. Depois fui para o futebol de salão e em seguida para o campo, quando consegui começar a ajudar a minha família."
O time do coração
"São quarenta anos em Londrina. Antes de me tornar árbitro da CBF, acompanhei muitos jogos do clube. Tenho um respeito muito grande pelo clube. Profissionalmente eu poderia apitar, sim. Mas eu procuro evitar. Peço para o Sérgio Corrêa, não só jogos do Londrina, mas jogos de alguma equipe que esteja disputando uma classificação junto com o Londrina. Eu sempre alerto o Sérgio para não me colocar, por ser morador da cidade e por ter amigos dirigentes, presidente, jogadores, ex-jogadores. Porque Londrina, apesar de ser uma cidade com mais de 600 mil habitantes, é pequena. Todo mundo se encontra, não tem como. Mas já fiz jogos do clube, já fiz decisão da Copa Paraná contra o J. Malucelli. Valia vaga na Copa do Brasil e o Londrina perdeu. Eu prefiro evitar e acho que é melhor assim."
Agressão
"Nosso futebol de salão daqui é muito forte, agora não está tanto, mas já foi. Na época era um campeonato de 25 a 30 clubes. Era um jogo em Arapongas, eu estava de assistente. O árbitro era Valter Luis, o popular Black, aqui de Londrina. Um jogador deu um chute por baixo e o outro uma cotovelada. Eu presenciei o fato. Eu levantei, chamei o Valter, e relatei a agressão. O Black poderia ter expulsado primeiro o jogador visitante e depois o local. Ele cumpriu a regra, mas faltou um pouquinho de procedimento. Ele expulsou o jogador local, e a torcida entendeu que só o jogador da casa seria expulso. Para expulsar o jogador visitante, ele foi lá para o outro lado da quadra. Mas aí a torcida já tinha invadido. E eu dei um azar danado porque depois eu fui correr e entrei num túnel sem saída. Tomei chute pelas costas, chute na região das nádegas. Foi uma lição."
A rotina
"Assistir a jogo é obrigação, até para ter o perfil dos atletas, o esquema tático, saber como uma equipe joga. A preparação tem que ser uma coisa diferenciada porque eu completei recentemente 44 anos. Com 25 é uma coisa, com 35 é outra. Agradeço a Deus por nunca ter tido lesões graves, apenas musculares. Quando a escala sai, eu procuro saber a temperatura que vou enfrentar, estudar estádio e horário. A alimentação é regrada. Se você sai na segunda-feira para tomar um vinho com os amigos, sabe que na terça e na quarta tem que recuperar o que perdeu. Comer carboidrato e salada no dia antes dos jogos, ter uma noite bem dormida. Já fui mais rebelde nesse aspecto, hoje não dá mais para desrespeitar isso. É quase o que o atleta vive, só que nós somos amadores. Cada árbitro tem seu procedimento. Eu, por exemplo, tenho fisioterapeuta, nutricionista. A federação catarinense, através do presidente, doutor Delfim, me abre as portas com isso. Mas 90% dos meus companheiros não tem esse apoio. Sem dúvida com a profissionalização o rendimento seria bem melhor."
A profissionalização
"Nós últimos cinco anos, tive o prazer de fechar um contrato com a federação catarinense, que me dá um apoio importante dentro do seguimento financeiro e social. Mas a maioria, não. A maioria tem que ter outro emprego. E a FIFA e a CBF são contra a pessoa depender só do futebol. Mas eu tive o prazer de ter muitas coisas graças ao futebol porque tive muitas escalas. Entro jovem no quadro internacional e assim ficamos com um leque maior de escalas. Então eu tenho escalasbda FIFA, da Conmebol, da CBF e da federação catarinense. Mas como um árbitro pode trabalhar numa empresa se muitas vezes ele viaja terça para um jogo quarta, volta quintabe na sexta já tem que sair de novo para o jogo de quarta? Por isso seria importante a profissionalização, para que os árbitros tivessem todos os pilares, mental, físico, de alimentação. Sem dúvida teríamos melhor treinamento e mais qualidade no campo de jogo.
O estilo careca e a superstição
"(...) no réveillon de 2001 para 2002, na casa de minha sogra. Eu falei: vou fazer uma surpresa, vou raspar a cabeça. Peguei a maquininha lá e no meio do caminho ela pifou. Eu falei: e agora, o que faço? Aí peguei uma lâmina e fui para a zero. Demorei quase uma hora. Hoje faço em cinco minutos. Eu mesmo faço. Na hora que eu cheguei para o réveillon eu quase perdi a família toda. Falaram 'você tá maluco', 'vamos internar'. Porque meu cabelo era aqui (aponta o ombro). (...) Eu sempre faço no dia do jogo, corto como se fosse fazer a barba, com a lâmina."
Árbitro caseiro
"Eu gostaria que se fizesse uma pesquisa, não só em meu nome, para ver o percentual de cada clube em casa. O mais importante são as decisões que tomei no campo. Não é um percentual que você avalia a carreira de um profissional. O mais importante é pegar jogo a jogo, lance a lance."
Exemplo de jogador brasileiro
Romário sempre foi um jogador educado, por exemplo. Nunca esqueço, tinha um jogador que havia subido da base do Vasco, acho que era um Vasco e Cruzeiro. Deixei o jogo seguir porque considerei um contato normal, e onjogador questionou. Na hora o Romário deu uma dura no jogador. Você vê, um cara renomado, um líder, sabia a maneira certa de te abordar."