Incrível como o envolvimento com o futebol faz com que as pessoas defendam coisas que, analisadas mais detalhadamente, causam até uma certa repulsa. Vou explicar.
Ontem o futebol brasileiro viveu uma bonita festa em Recife por ocasião do sorteio dos grupos da Copa do Nordeste 2015. Foram distribuídos prêmios aos melhores da competição deste ano, que incluiu o reserva americano Daniel Costa, e feitos muitos discursos a respeito do engradecimento do torneio e, por conseguinte, do futebol da região.
O clima foi de tamanho prestígio que o presidente da CBF José Maria Marín resolveu anunciar que, afora os prêmios normalmente previstos ao campeão (R$ 2 milhões e uma vaga na Copa Sul-Americana), a entidade garantiria mais R$ 1 milhão ao vencedor da edição 2015.
Sabem o que me impressiona? O desprezo da imprensa do RN ao torneio. Não, não é por falta de representantes não, já que os atuais campeão e vice do Potiguar 2014 estarão na Copa do Nordeste 2015 - respectivamente América e Globo (Ceará-Mirim). Que me desculpem os que agora menosprezam um torneio que é a salvação do futebol nordestino, sucesso de público e que foi capaz até de gerar a criação de um canal esportivo dedicado apenas ao futebol da região (o Esporte Interativo Nordeste, com transmissão em HD), mas esse menosprezo me cheira a uma tremenda dor de cotovelo. Dor essa gerada pelo fato de, pelo 2.º ano seguido, o Abc não conseguir figurar entre os participantes do torneio por não se classificar entre os 2 primeiros do campeonato estadual.
Como minimizar um torneio que distribui prêmios em dinheiro a TODOS os participantes, seja ele o recém surgido e modesto Globo de Ceará-Mirim ou os super badalados Bahia e Vitória e que garante bom calendário no início do ano? Como afirmar que esta competição é um mero detalhe no ano esportivo se seu campeão se classifica para outra competição de cofres abertos (Copa Sul-Americana) e que dá vaga ao campeão na maior competição do continente - a Libertadores? Como menosprezar um torneio que é a maior competição nacional do primeiro semestre, ofuscando até campeonatos poderosos financeiramente como os de Rio e São Paulo? Como ter coragem de apequenar um torneio que resgatou o interesse dos torcedores nordestinos pelos times de sua região e projetou todos os times nordestinos que dela participaram em outros torneios nacionais, como o Brasileirão séries A, B, C e D e a Copa do Brasil?
Não aceito como racional o que vem ocorrendo no RN, estado que teve o principal lutador pela volta da competição, Eduardo Rocha, que também teve seu trabalho menosprezado em outros anos aqui mesmo no RN. Ontem, o atual mandatário da Liga, Alex Portela, fez questão de destacar esta luta do ilustre potiguar pela volta do torneio. Justíssimo. Mas agora tudo isso não passa de um mero detalhe porque a Copa do Nordeste é um mero adendo no calendário nacional.
Desculpem, não tenho sangue de barata. Basta pegar qualquer tabela do campeonato nacional para ver uma outra realidade. São 3 clubes do Nordeste na Série A, 7 clubes do Nordeste na Série B, fora as grandes campanhas na séries C e D dos nordestinos. Temos representante na Copa Sul-Americana, e na Copa do Brasil em suas fases atuais. Quantos tínhamos no ano passado? E há dois anos?
Aqui mesmo no RN vemos o América manter uma boa base há alguns anos em virtude majoritariamente de sua participação na Copa do Nordeste. Dizer que isso é uma coisa menor a ser buscada a cada ano é o mesmo que aprovar que nossas equipes sejam times de verão, montando-se e desmontando-se a cada campeonato.
Todo nordestino que gosta de futebol ou que trabalha com ele tem obrigação de dar à Copa do Nordeste o destaque que ela merece como redentora dos clubes da região. O resto, me desculpem de novo, não passa de dor de cotovelo.