Crescemos ouvindo que o Brasil é o país do futebol. Os melhores jogadores do mundo estavam aqui. Inexplicavelmente, levamos 24 anos para chegar ao 4.º título mundial. Mais 8 anos para o 5.º título, numa copa que jamais se repetirá por suas exceções (datas, clima, jogadores estourados...).
Quem se arriscava a explicar sempre jogava a culpa nos treinadores. Tolhem o talento dos jogadores com esquemas táticos. São retranqueiros. Só escalam os seus preferidos. E por aí vai.
Mas como não reconhecer que a realidade não é bem esta? Quem são os nossos melhores jogadores? Os firulentos, os marrentos, os artilheiros. Quem é o melhor goleiro? O que melhor sabe o usar os pés. E o zagueiro? O que faz gols. E o lateral/ala, como queiram? O que faz gols. O melhor meio campista? O que faz gols. Nem preciso dizer dos atacantes. Se bem que, neste caso, também entram os que mais se assemelham a focas amestradas.
Gostamos de quem joga para a plateia. Dancinhas provocativas, moicanos, munhequeiras, brincos, notícias de brigas, porres homéricos, etc. Discutir com o treinador então eleva o jogador ao Olimpo do futebol.
Enquanto isso, os jogadores da Europa e até da Ásia iam aprendendo que o futebol é um jogo coletivo. Um por todos e todos por um. Nenhum talento sobrenatural consegue brilhar num time cheio de gente que não sabe para onde vai ou que decide sozinho o que deve fazer. Exemplos aos montes. Messi é um deles, apesar de que o futebol espanhol não é muito chegado numa marcação tradicional, mas...
Falemos da Espanha. Ontem eu vi o 2.º tempo de Real Madri x Barcelona pela Supercopa e o boa parte de Brasil x Espanha pela Copa do Mundo Sub 20. É interessante como a seleção reproduz o esquema catalão, mesmo sem os brilhantes jogadores do Barcelona e sem o seu treinador (Guardiola, belo ex-zagueiro). A movimentação é a mesma: toques de primeira, com infiltrações em diagonal quase sempre mortais ao time adversário. Marcação também tem agora. Ela começa bem recuada, mas à medida que o time adversário começa a recuar a bola, os espanhois avançam em bloco com muita velocidade em direção à posse de bola, desorientando os jogadores do outro time.
Enquanto isso, o futebol brasileiro ainda vive de esperar que o outro time desista da posse de bola. E que algum iluminado resolva o jogo. Da seleção brasileira ao último colocado nos campeonatos de várzea, o futebol nacional tornou-se um purgante aos espectadores. Só aguenta quem torce por algum dos times. E olhe lá!
As discussões táticas acerca de se o 3-5-2, o 4-4-2 ou o 3-6-1 é o melhor na verdade referem-se apenas a quantos zagueiros e volantes serão escalados. Não há esquema algum. Ou há um que pode ser resumido assim: sem a bola, todo mundo marca; com a bola, Deus nos ajude. Ou Neymar, ou Ganso, ou Robinho e seus correspondentes em cada time. Entenda por marcar ficar lá trás esperando que o adversário perca a posse de bola.
Vivemos então de safra de jogadores. Quando temos verdadeiros excepcionais, somos destaques. Quando ninguém ultrapassa a regularidade mundial, nada nos resta a não ser lamentar.
E assim vamos vivendo de jogos chatos, sem emoção, e ficando para trás nos campeonatos mundiais de todas as categorias. O vôlei acordou muito cedo para a realidade de que treinador é peça chave para qualquer modalidade. Sem ele, não há time que resista à troca de jogadores. Quando o esporte brasileiro como um todo vai compreender isso? Quando os treinadores brasileiros entenderão?
Sem dúvida o futebol brasileiro é mais oba boa, se compararmos com o futebol denominado arte, de antigamente.
ResponderExcluirHoje lamento ter que ver uma partida de futebol com inúmeras faltas, de todo tipo, até golpes de UFC já vi. Pior é a falta de orientação dos árbitros, uns deixam passar outros dão cartões amarelos e ficam "impedidos" de apliar vermelho.
Comecei a ver jogos na Europa, os melhores, e assim terminei por achar chato os jogos das equipes de Natal.
Para terminar, descobri agora seu blog, certamente voltarei outras vezes, pois admiro suas escritas.
Abraços
Paulo Trigueiro
Muito obrigada pela gentileza, Paulo.
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