domingo, 4 de novembro de 2018

O que esperar

O texto a seguir é de autoria do padre João Medeiros Filho e foi publicado na Tribuna do Norte de 30/10/18 na página 2.

"Alea iacta est"

As eleições marcaram o início de uma nova etapa na história do país. Foram precedidas por um período de polêmicas e polarizações. O Brasil pede mudanças urgentes e união. Uma vitória nas urnas não significa solução automática e imediata dos problemas. Para vencer os incontáveis desafios e desacertos passados, os que irão governar necessitam buscar respostas alicerçadas no humanismo, em princípios éticos e democráticos.

É ilusória a possibilidade de conquistar o bem comum, fora do ideal da democracia, adotando-se postura opressora. A autêntica cidadania - além de possibilitar a escolha dos representantes do povo nas eleições - deve assegurar aos governados a prerrogativa de acompanhar e fiscalizar a atuação dos governantes. O poder do Estado não deve ser apropriado e usado para interesses particulares ou conveniências de partidos. Os eleitos são dirigentes de todo um povo e não de siglas partidárias. A eleição não outorga o direito de propriedade do país e dos estados a quem quer que seja, mesmo a aqueles que tiveram excelente desempenho nas urnas. Talvez tenha sido esse o maior erro dos últimos anos.

Terminado o pleito, necessita-se renovar a compreensão de que a democracia requer um Estado regido pelo Direito e não meramente por interesses ideológicos. Os futuros governantes têm o dever de defender, antes de tudo, a liberdade e a justiça social e não a sua ideologia. Essa defesa vai além do respeito formal a determinadas regras constitucionais. É preciso zelar pelos direitos, pela dignidade humana, a busca do bem comum e de uma sociedade mais justa.

Sem o consenso sobre a importância de tais postulados, a pátria corre o risco de perder a sua estabilidade e harmonia. Por isso, é perigoso, quando os representantes do povo navegam pelo leito de um rio do relativismo ético, jurídico e administrativo. Isso conduz necessariamente à manipulação de valores, que passam a ser negociados, em vez de vividos, a partir de critérios dignos de respeito. Consequentemente, o exercício de representatividade deixa de ser eficaz, pois os poderes tornam-se trampolim para alcançar objetivos pouco nobres. Não raro confunde-se partido com nação ou estado. Uma democracia sem princípios humanistas converte-se em totalitarismo, aberto ou dissimulado. A história tem comprovado isto, aqui e alhures.

Para preservar a democracia é preciso agir em conformidade com a lei moral, soberana e capaz de sustentar o indispensável equilíbrio entre os cidadãos. O Papa Paulo VI dizia que "a moral é antes de tudo exigência e expressão externa do ser humano". Nesse horizonte, esperam-se humanismo e ética daqueles que exercerão o poder. Assim legitimar-se-á a autoridade perante o povo e conquistar-se-á a credibilidade. Deve ser compromisso inarredável dos próximos dirigentes a promoção da convivência pacífica e a sensibilidade perante os sofrimentos do povo (não apenas antes das eleições), privado de saúde e trabalho dignos, valorização profissional, segurança, educação e transporte de qualidade. Os eleitos podem subestimar a dimensão moral no exercício do mandato político. Foram escolhidos para o povo e não para os partidos. Seus votos vieram da população e esta deverá ser retribuída com serviços de qualidade. Lamentavelmente, são muitas as deformações do "sistema político brasileiro": corrupção, traição aos princípios morais e inaceitável negociação da justiça social. Exige-se qualificado desempenho dos que ocupam cargos públicos, mas também é indispensável a colaboração de cada cidadão, ao nortear os rumos do país. O brasileiro é desafiado a conquistar novos modos de agir. A primeira etapa foi o despertar da população para as ameaças graves e deletérias que afligem o Brasil. Houve também uma percepção de que o voto consciente inclui a certeza de que as eleições em si não têm força mágica com o poder imediato de mudar tudo. No entanto, constituem um passo importante na tarefa de percorrer um longo caminho. É preciso também estar consciente de que surgirão obstáculos inesperados, além dos inúmeros e graves problemas já existentes.

Expressou Augusto Cury, em carta aberta aos eleitores: "O próximo governante não será um herói e muito menos um deus, mas um líder imperfeito, um simples mortal". E afirma a Carta aos Hebreus: "A lei, às vezes, constitui pessoas sujeitas a fraquezas, mas Deus pode conceder a retidão" (Hb 7, 28).

Exemplos históricos

O texto a seguir é de autoria de Ney Lopes, advogado, jornalista e ex-deputado federal, e foi publicado pela Tribuna do Norte de 31/10/18, na página 2.

Presidente Bolsonaro e Governadora Fátima

Em editorial na última segunda, o "Estado" afirmou: "Se há um ano alguém dissesse que Jair Bolsonaro tinha alguma chance de se eleger presidente da República, provavelmente seria ridicularizado". No início do processo eleitoral, o autor deste artigo opinou que seria inadmissível, em razão da convivência com ele no Congresso Nacional e saber das suas posições históricas como político militante há 30 anos. Entretanto, diante da degradação da classe política em geral, o Capitão encantou o eleitor e ganhou, como antítese do lulopetismo. Ponto final! Não há o que discutir.

No Rio Grande do Norte, a senadora Fátima Bezerra chega ao Palácio Potengi para governar estado falido. Não será fácil vencer o desafio. Com vivência adquirida ao longo de vários mandatos legislativos, terá que demonstrar competência, imparcialidade e criatividade como gestora pública.

De agora por diante, só resta torcer para que o vencedor seja o Estado Democrático. Nunca é demais recordar a advertência de Montesquieu, de que para evitar o abuso do poder é necessário que o poder seja freado, assegurando o equilíbrio. São os chamados "freios e contra pesos", traduzidos na independência e harmonia do Executivo, Legislativo e Judiciário, poderes que terão de estar acima de todos os outros segmentos da sociedade, sem restrições e tutelas, com absoluto respeito às suas decisões. Desacreditar nessa regra é adotar a selvageria dos regimes de exceção, de direita ou de esquerda.

Na Alemanha em 1933, os nazistas queimaram mais de 20 mil livros, revistas, fotografias e publicações de filósofos, cientistas, poetas, de escritores judeus, de homossexuais, pacifistas, antimilitaristas, sobre sexualidade e outros assuntos considerados não éticos. Como sempre acontece, tal barbárie consumou-se, a pretexto da defesa da pátria, moral, família e o combate à degeneração dos costumes. No local desse crime existe hoje monumento com o nome dos autores das obras queimadas, para que aquele sinistro acontecimento não se repita. Numa lápide lê-se a frase do poeta Henrich Heine: "Onde se queimam livros, no final também se queimam pessoas".

Outro exemplo histórico é de Winston Churchill. Como líder britânico da Segunda Guerra, ergueu a resistência ao ditador alemão Adolf Hitler e recebeu consagrações populares, porém conheceu como poucos os dois lados da moeda: popularidade e o desprezo posterior. Em 1945, no fim da II Guerra Mundial, a sua reeleição para primeiro-ministro era indubitável. Abertas as urnas, perdeu. Por quê? Pelo fato do povo temer o seu estilo, ao perceber que ele só acreditava em métodos violentos, de guerra e uso da força militar. Churchill não tinha projeto para a paz, visando à união da Grã-Bretanha e reconstrução social do país.

A democracia não é um sistema desprovido de mecanismos eficazes de combate à corrupção e a violência, como alega a ultra direita. Ela pode ser forte, com base na lei, quando aplicada. Punitiva, sem negar o direito de defesa.

No período "pós-eleição" que se inicia no Brasil, a "busca da união nacional", sem adesismos, coloca-se como única alternativa capaz de evitar os graves riscos das ameaças da intolerância e da força. Torna-se impossível governar país dividido. Receita para união nacional seria o estímulo à formação de coalizão, com moderados de lado a lado, capazes de fazer concessões, desencorajar as lutas radicais, as disputas, a violência e fortalecer a convivência, tolerância, direitos humanos, respeito à crítica, legalidade, eleições livres e alternância de poder.

Com situação política muito mais grave do que o Brasil, a Colômbia deu exemplo recente e pacificou uma guerra interna de 52 anos. O líder da Força Alternativa Revolucionária, Timochenko, resumiu o pacto colombiano ao dizer que "paz não significa o capitalismo e o socialismo vão soluçar abraçados um nos braços do outro. Mas que a disputa ideológica agora poderá ser feita sem armas, através da política e da democracia plenas". No México, o extremista Andrés Manuel López já apela à conciliação nacional.

Lembrando César diante do Rubicão, os brasileiros exclamam: "Alia jact est" (A sorte está lançada). Ao mesmo tempo é repetida com fé a oração do teólogo Reinhold Niehbuhr, desejando ao Presidente Jair Bolsonaro e à Governadora Fátima Bezerra que "Deus lhes dê serenidade para aceitar as coisas que não possam mudar, coragem para mudar as que possam mudar e sabedoria para saber a diferença".

Boa leitura

Sei que não é mais hábito - se é que um dia de fato foi - dos brasileiros ler jornal diariamente. Ou revistas. Ou livros. Por isso, quando encontro algum artigo precioso, faço questão de compartilhar por aqui. Se não compartilho mais é apenas por absoluta falta de tempo.

A Tribuna do Norte tem, por exemplo, uma boa safra de articulistas em sua página 2, especialmente no topo da página, como Ney Lopes e o padre João Medeiros Filho, mas não apenas estes. Há também bons textos do reitor da UNI Daladier Cunha Lima, da reitora da UnP Sâmela Gomes, do advogado Ivan Maciel. Não cito todos por questão de espaço mesmo, mas leio todos com absoluta atenção, ainda que discordando do escrito algumas vezes.

Nessa mesma página também está exposto o talento de Brum, com suas charges premiadas Brasil afora, e que de vez em quando eu compartilho nas redes sociais por meio de foto.

Separei dois textos dessa semana para transcrever aqui. Entretanto, já deixo o apelo para aqueles que desejam expandir seus conhecimentos para que não desprezem a página 2 do jornal físico, mesmo com os equívocos que de vez em quando aparecem na seção Cartas. O deleite compensa.

Pode não dar certo

Não gosto muito de entrar no terreno da especulação, mas recebi de uma pessoa próxima ao zagueiro Alison que a negociação entre ele e América, que estava praticamente certa, pode não dar certo mais uma vez.

Segundo a fonte, o vazamento da informação, a exemplo do que ocorreu ainda na gestão Beto Santos, quando havia também uma negociação com o jogador, teria jogado areia no acerto.

Aguardemos.


Podcast: 15 dias

O ritmo de definições na contagem regressiva para início da pré-temporada oficial do futebol norte-rio-grandense.




Podcast às 10h no horário padrão

Com tantos celulares automaticamente mudando adiantando uma hora em virtude do horário de verão - que não vigora em no Nordeste - reforço o horário do Podcast sobre futebol neste domingo: 10h, no horário padrão de Brasília, nada de horário de verão.

Muita coisa para falar do nosso futebol. Até lá.

Manchetes do dia (4/11)

A manchete do bem: No Brasil, Black Friday deve movimentar R$ 20 bilhões.

As outras: Forte dos Reis Magos estará fechado na alta estação turística, Presidência da OAB/RN está sendo disputada por três candidatos e Vindo da Bélgica para ser missionário, Padre Thiago Theisen completa cinco décadas de atuação marcante em Natal, principalmente na Zona Norte.

Bom domingo, minha gente!

Fonte: Tribuna do Norte

Today's headlines (11/4)

The headline for good: The faces of change in the midterm elections.

The others: A nation in turmoil prepares to deliver a verdict on Trump, Gunman in yoga studio shooting recorded misogynistic videos and faced battery charges, and Anguished by 'spiral of hate', Charleston pastor and Pittsburgh rabbi grieve as one.

Good morning, everyone!

Source: The New York Times

sábado, 3 de novembro de 2018

Podcast: Populismo na rede e a nova corrupção

O relatório da ONU contra xenofobia e racismo, a proposta chilena para evitar o uso de fake news nas eleições e as dicas para não cair no conto de fake news na internet.


Podcast às 17h30

O Podcast que normalmente vai ao ar nas sextas ficou para hoje às 17h30.

Até lá.