Futebol e política têm tantas semelhanças que chegam a assustar. Os dois deveriam estar intimamente ligados à razão, principalmente a política, mas ficam relegados ao sabor das paixões.
Gosta-se de uma agremiação. Assim, sem maiores explicações. Podem ser as cores. Ou o símbolo. Ou as pessoas que fazem parte dela. Pode nem ser isso. Pode ser só aversão a uma outra agremiação pelos mesmos motivos. Ou sem motivo.
"Meu clube é melhor do que o seu", "Meu partido é partido de verdade". E acumulam-se as opiniões tidas como verdades absolutas. Nem se percebe que a opinião do adversário também tem o mesmo peso. Afinal, são opiniões, não verdades.
Em ambas, a paixão e o ódio afloram fácil, fácil. Queima-se uma bandeira aqui, uma camisa ali. Surge um xingamento aqui, outro ali. E o mundo fica entre nós e eles, sendo sempre nós o bem e eles, o mal.
Mas isto fica para as tietes. Os que ditam os rumos da política e do futebol não guardam os mesmos arroubos da massa. Se dizem algo extremista, fruto da paixão, mais à frente voltam à racionalidade quando a ocasião assim pede. E assim beijos viram tapas, tapas viram abraços, abraços viram empurrões, num eterno ir e vir.
Na política, melhor exemplo do que Lula e Collor não há. Ferrenhos adversários na eleição de 89 e no impeachment de 92, ambos andam de mãos dadas desde 2003, inclusive no impeachment do ano passado.
No futebol, nem preciso exemplificar. O discurso ou o gesto de ontem é a ressaca de hoje e o arrependimento de amanhã.
E o que aprendemos com tudo isso? Que a massa poderia ser mais racional. Não há bem e mal. Há a verdade de hoje. E não vale a pena dar a vida por uma "verdade" fluida como o vento.
E a políticos e futebolistas em geral eu recomendo o clássico aforismo de Aristóteles: "a virtude está no meio". Essa máxima é condição sine qua non para uma vida com o mínimo de constrangimentos.
Na verdade, acho que a recomendação fica mesmo para os futebolistas. Políticos já vêm com um tipo de material no rosto que impede a aderência de qualquer tipo de vergonha.