O técnico Dado Cavalcanti concedeu entrevista logo após a derrota no Sul sobre o momento do América no Campeonato Brasileiro.
Figueirense 3x0 América
O jogo nos traz um golpe muito duro, muito forte. O placar, ao meu modo de ver, acaba sendo mais elástico do que foi a partida. Acho que o Figueirense foi melhor, mas não era jogo para 3. Dos 3 gols que nós tomamos, nós estávamos com a posse da bola nos 3 gols, nós demos a bola para o adversário nos 3 gols. Primeiro de tudo é ter essa lucidez de interpretar o que aconteceu porque nós temos agora um jogo em casa importantíssimo, um confronto com um adversário que hoje está atrás da gente. Então é ter essa tranquilidade de fazer o nosso melhor, de assimilar o que aconteceu aqui, de encarar os fatos mesmo, de ter essa hombridade de encarar a nossa necessidade da vitória, eu já tinha falado isso. Se nós vencêssemos aqui, nós tínhamos a obrigação de ganhar em casa. Então a obrigação de ganhar em casa não vai mudar. Nós temos que ter essa lucidez de entender e assimilar o que aconteceu. Não interpretar isso com normalidade, precisa ter um pouquinho de raiva mesmo, eu acho que o sentimento é esse, precisa ter um pouquinho mais de raiva em campo e transferir tudo isso para o jogo de casa no próximo final de semana.
Derrota num confronto de 6 pontos
Era essa a nossa estratégia, o nosso pensamento de usar muitas das vezes o momento adverso, de pressão da torcida contra o nosso adversário. Houve alguns momentos do jogo em que nós tivemos essa capacidade. Tivemos um pouquinho mais de tranquilidade. Mas acho que nós pecamos muito na hora da construção, na hora do jogo. Nos 3 gols do adversário a bola estava com a gente, estava no nosso pé. Tomamos decisões equivocadas, tomamos decisões erradas que culminaram no resultado. E o resultado nos machuca mais ainda. Uma coisa é você vir aqui perder de 1x0 - não estou dizendo que a gente veio para perder -, mas uma coisa é você perder de 1 e perder de 3. É muito diferente. Quem vive no futebol sabe que não tem essa de perder por 1, perder por 10. Não é assim. É impactante, mas, de novo, é ter a tranquilidade, ter a hombridade de encarar essa dificuldade que nós vamos ter nos próximos jogos. Temos um jogo em casa, então é concentrar as forças para voltar a vencer neste jogo de casa.
Comportamento do time
Eu acho que o jogo tem uma narrativa do zero aos 90. Acho que a nossa equipe foi muito bem em 80% do jogo. Nossa equipe foi equilibrada, foi combativa, foi aguerrida. Acho que ofensivamente nós fomos mal hoje, criamos pouco. Mas não dá para colocar o jogo inteiro num pacote. Então eu lamento muito após o gol tomado. Depois que nós tomamos o gol, nós saímos do jogo, a verdade é essa. Nós saímos um pouco do jogo. Nossa confiança além de estar abalada, nós perdemos o jogo no gol tomado, a verdade é essa. Os outros dois vieram de forma esdrúxula, por uma consequência também da nossa ineficiência em assimilar esse golpe e continuar lutando. Esse foi o recado... Não é recado nem é discurso, foi a palavra que eu já citei no vestiário hoje: nós temos que nos manter de pé, nós temos que estar neste momento mais fortes do que nunca. Precisamos estar de pé para assumir a responsabilidade, para assumir a nossa responsabilidade de fazer esse jogo em casa porque a gente sabe que esse resultado naturalmente será carregado conosco para Natal. Então é ter esse "punch", essa caixa de estarmos fortalecidos. Os caras mais experientes precisam também estar mais fortes neste momento, precisam pegar os mais jovens, precisam fazer essa mobilização interna para chegar esse jogo em casa, seja lá qual for a dificuldade que o jogo em casa vai nos dar, a gente precisa ser mais eficiente, mais competitivo, mais qualificado, precisa chegar com mais gente à frente, precisa agredir um pouco mais o adversário para construir um resultado totalmente diferente.
Rafinha x Gustavo Ramos
Rafinha é um jogador mais terminal, jogador que finaliza muito. Ele tem um chute muito bom, tem uma condição de limpar para dentro e buscar as finalizações. Hoje ele finalizou uma vez apenas no 1.º tempo. Teve uma chance de buscar uma finalização no 2.º tempo ali na cara do gol, mas o adversário acabou antecipando e acabou que Rafinha nem conseguiu dominar a jogada. Então a minha expectativa obviamente pela qualidade da finalização dele é essa, que ele esteja um pouco mais próximo do gol. Gustavo é um jogador mais de arrasto, que corre nos espaços, que agride os espaços. São jogadores bem diferentes. Rafinha perdeu performance no 2.º tempo, acabou desgastado também pela entrega, entrega tática defensiva acaba machucando um pouquinho mais. E a entrada de Gustavo trouxe para mim talvez essa condição de agredir o adversário com força, com mais velocidade, que é a característica dele. Essa era a ideia desde o começo. Eu sabia que Rafinha não terminaria o jogo. É normal no futebol de hoje, os extremos geralmente não terminam o jogo. Eles se desgastam mais por funções e são os caras que desequilibram o adversário. Então eu já estava prevendo que essa troca iria acontecer mais cedo ou mais tarde. E obviamente tentar extrair o máximo de cada um nas suas funções. Hoje não só creditando aos dois, muito pelo contrário, jamais eu farei isso, mas a equipe como um todo deixou a desejar na construção ofensiva. A gente colocou pouco Rafinha no 1x1 contra o adversário, isso é um problema da construção, não de Rafinha. A gente colocou pouco Gustavo no espaço, um problema da bola que não chega. Então entendo que no futebol sistêmico a gente deixou a desejar principalmente na alimentação desses atletas. Marcamos muito bem, nos defendemos bem, mas não jogamos. Não tivemos a capacidade de colocar os nossos atacantes em condição de gol e isso foi fundamental talvez para o resultado final.