sábado, 12 de março de 2022

Das quatro uma

Campanha eleitoral é uma coisa visceral, alucinante, capaz de transformar qualquer pessoa num zumbi. Agora imaginem 4 mulheres americanas desafiando a indicação do Partido Democrata contra candidatos para lá de estabelecidos na cena partidária.


Uma boa parte disso é vista em Virando a Mesa do Poder, feito em 2019 sobre a luta para eleições primárias entre Democratas em 2018. A grande estrela obviamente é Alexandria Ocasio-Cortez, de NY, que derrotou um deputado que dominava a cena desde 1999.

Mesmo quem não compartilha das ideias progressistas das candidaturas pode utilizar o documentário para entender um pouco melhor essa onda que encerrou a vida no poder público de candidatos mundo afora. Eu só não entendo como aqui no Brasil isso terminou com a eleição para presidente de um deputado do baixo clero com 30 anos de poder público nas costas, mas isso fica para as pessoas que se especializam em estudar tal assunto.

O documentário tem ritmo agradável em sua duração de pouco mais de 1h20 e ajuda a entender um pouco mais a complicada política americana.

Os dois lados

O filme é de 2019 e somente agora pude conferir. Provavelmente o fato de ser baseado numa peça de teatro tenha me feito demorar mais, com medo da realidade de que peças não são facilmente adaptadas para as telas, sejam grandes (cinema) ou pequenas (TVs/streaming).

Eu me refiro a American Son, disponível na Netflix. 1h30 da terrível ansiedade de uma mãe numa sala de espera de uma delegacia de polícia para ter notícias de seu filho adolescente que saiu de carro e não voltou para casa. Tudo o que lhe informam é que ocorrera um incidente 

Primeiro, é preciso ressaltar o talento de Kerry Washington, em cena o tempo todo. É de sua veracidade que o filme depende. Não posso contar muita coisa para não estragar as viradas da estória, mas é um mistura de racismo, machismo e autoritarismo servida sem floreios, quase esfregada na nossa cara.

Se não viu ainda, corra para conferir. 

Luta para existir

Assisti a Valentina sem grandes expectativas, mais como uma oportunidade para filmes brasileiros que não sejam comédias. 


De início mais difícil e com a velha dificuldade de som que o cinema nacional enfrenta, a estória da adolescente trans que se muda com a mãe para uma cidadezinha no interior de Minas Gerais vai cativando por honestidade.

Valentina sofre apenas porque quer existir. E há pessoas que se incomodam apenas com a sua existência sem que ela tenha lhes feito qualquer mal . 

Há vários outros pequenos grandes conflitos que passam como pano de fundo da estória, mas nem por isso menos interessantes de se observar. 

Com 1h35 de uma caminhada muito arrastada inicialmente, a sensação ao fim, especialmente após os dados apresentados antes dos créditos, é de que ainda temos uma longa jornada pela frente para aceitarmos que as pessoas sejam quem elas são, mas não podemos desistir da beleza da individualidade.

Manchetes do dia (12/3)

A manchete do bem: 
  • Anvisa recebe pedido para uso da Coronavac em crianças de 3 a 5 anos
As outras: 
  • PM leva donos de postos de gasolina à delegacia no Paraná
  • Motorista de app reclama de 'assalto' triplo: pela janela, pelo posto e pelo aplicativo
  • Justiça militar aceita recurso inédito e voltará a julgar PMs acusados de estupro em viatura
Bom dia.

Fonte: Folha de S.Paulo

Today's headlines (3/12)

The headline for good: 
  • Texas court halts abuse inquiries into parents of transgender children
The others: 
  • U.S. officials say superyacht could be Putin's
  • At 101, and after 36 years as Mayor, 'Hurricane Hazel' is still a force in Canada
  • Facebook's parent company will make employees do their own laundry
Good morning.

Source: The New York Times

sexta-feira, 11 de março de 2022

"Sena é um treinador muito inteligente"

Ontem no América, o assessor de imprensa Canindé Pereira entrevistou o goleiro Bruno Pianissola.

Bom momento da defesa
Eu acho que é essencial para uma equipe que se defende bem a cooperação de todos. Eu acho que a gente começa a marcação desde lá do ataque até o sistema defensivo. A gente costuma enaltecer os zagueiros e o goleiro, mas eu gosto de gosto de enfatizar a dedicação de todos nessa função, desde os volantes, os meias até os atacantes, que já propõem uma marcação forte desde o início, por isso que a bola muitas das vezes chega já um pouco quebrada lá atrás para a gente. E isso sem falar que a gente trabalha muito diariamente para que a gente consiga sair dos jogos sem tomar gols, falando agora do setor defensivo, e lá na frente o pessoal consiga fazer. A gente fica feliz com esses números. Para a gente, é uma responsabilidade boa, que faz com que a gente trabalhe mais para que a gente possa melhorar a cada dia.

Globo
A gente já teve provas no campeonato do tanto que é difícil esse campeonato. Todo jogo é uma batalha. A gente sabe que vai ser um jogo extremamente difícil. Iniciamos a semana já pensando neste jogo, sabendo que vai ser uma batalha. Então a gente está encarando com muita seriedade. Estamos disputando a liderança do campeonato. É difícil, é duro chegar à 1.ª colocação, então vamos a esse jogo com a maior responsabilidade, dedicação para buscar os 3 pontos. 

Pés no chão
Este é o fator que a gente vem pregando muito - os pés no chão - para que a gente consiga chegar lá e fazer um grande trabalho, buscar os 3 pontos e sair de lá com a liderança mantida.

Arena das Dunas e Leandro Sena
Acho que a mudança foi muito boa para uma equipe que é técnica, que toca a bola. Sem dúvida, a gente melhorou no quesito gols e isso vale muito pela mudança para a Arena porque a gente tem um campo melhor, chega melhor no ataque, o atacante consegue concluir melhor em gol e, consequentemente, isso aumenta o número de gols. E a gente fica feliz por ter um estádio de qualidade para jogar, ter a condição de jogar num estádio de qualidade e poder fazer bons jogos no nosso campo. Sena é um treinador muito inteligente que fica diariamente cobrando muito da gente, tanto o setor defensivo como o ofensivo, com ideias novas de treinamento, de quebra de linha, então a gente fica muito feliz em contar com Sena e estar junto com ele nessa batalha e pode ter certeza de que tem todo o apoio do grupo. Só estamos evoluindo e pretendemos evoluir cada dia mais entendendo a metodologia do que Sena vem colocando todos os dias nos treinamentos e nos jogos. "Sena 

"Todos os atletas estão focados"

O volante Araújo foi entrevistado nesta semana no América.

(Imagem: Canindé Pereira)

América 3x0 ABC
Em relação ao clássico, foi de arrepiar. A gente nunca tinha jogado com a nossa torcida dentro de casa o clássico, eu particularmente não. A maneira como foi, foi bela demais. Para nós, atletas, no momento que a gente sobe o túnel e olha para a torcida, todos nós nos arrepiamos e aquilo foi um gás muito forte para a gente poder fazer a bela atuação que a gente teve contra o ABC.

Allef e Juninho
Para mim é muito gratificante poder compartilhar essas posições com eles. Allef é um cara fantástico. A gente se dá muito bem. Juninho também. O América só tem a ganhar com isso. Todos os atletas estão focados, empenhados ao máximo, para poder executar qualquer posição que o professor Sena pedir. 

Globo
Com certeza, o mais importante do ano porque nós vacilamos lá atrás contra o Força e Luz e a gente pagou muito caro naquele clássico, que foi perder o titulo, no caso, o título do 1.º turno, que nos daria uma condição muito boa agora na reta final. Só que, como a gente vem conversando entre nós, o principal objetivo nosso é ganhar diante do Globo. O que vai acontecer depois a gente não pode prever, mas com certeza a gente vai com força máxima para fazer uma bela partida diante do Globo, que é um forte adversário. Vale ressaltar que eles eliminaram recentemente um campeão mundial, então com certeza eles vão ter uma condição difícil pela frente, que somos nós.  

Manchetes do dia (11/3)

A manchete do bem: 
  • Lixo hospitalar vira adubo, bolsa, papel higiênico e até cápsula de energia
As outras: 
  • Violência e assédio são a principal preocupação de brasileiras, diz pesquisa
  • Quase 40% das famílias conseguem autonomia após sair de abrigos em São Paulo
  • Mulheres negras e indígenas vão receber R$ 2 milhões para alavancar negócios
Bom dia.

Fonte: Folha de S.Paulo

Today's headlines (3/11)

The headline for good: 
  • A potential rarity in American politics: a fair congressional map
The others: 
  • How medical care for transgender youth became 'child abuse' in Texas
  • 2020 census undercounted Hispanic, black and native American residents
  • Britain freezes assets of Roman Abramovich, creating crisis at Chelsea
Good morning.

Source: The New York Times

quinta-feira, 10 de março de 2022

Fim da contagem

Durante quase dois anos, fiz minha contagem a respeito da pandemia. Talvez menosprezando a força reacionária que resolveu se instalar entre nós, ou mesmo exacerbando uma veia otimista, preferi chamar aquilo tudo de "recomendação de recolhimento domiciliar". Na verdade, era o que era. Nunca tivemos lockdown. E eu acreditava que todo mundo seguiria as recomendações direitinho e passaríamos rápido por tudo aquilo, no máximo em um mês.

Mas não foi bem essa a história da pandemia por aqui. Como professora, em uma semana eu estava de férias, logo após, demitida. Como advogada, um novo mundo de comunicação por WhatsApp e de muita incerteza de procedimentos e financeiramente se abriu. 

Passei a ser a única a me arriscar nas saídas ao supermercado. Escolha própria. Eu me enchia de tristeza com as ruas quase que vazias. Perdi as contas de quantas vezes chorei no carro na ida e na volta. Depois de um tempo, comecei a temer pela saúde mental de quem nem esse risco de ir ao supermercado enfrentava. Eu, Janaina e mamãe começamos a fazer caminhada arrodeando o quintal e atravessando a casa.

Para quem sempre adorou sair para comer, essa opção estava absolutamente descartada, inclusive quanto a pedidos para entrega em domicílio. Não recebíamos ninguém, nem o entregador da água mineral. 

Com poucas semanas, percebi que não daria para comprar ($$$) apenas no maior supermercado (escolha baseada na maior capacidade de circular o ar e pelos procedimentos de higienização). Passei a frequentar 3 semanalmente, sendo um deles apertado demais para os padrões da pandemia. Sufoco.

Sentia uma raiva absurda de quem não usava a máscara direito, de quem não respeitava a distância de 1 metro, de quem saía de casa sem motivo (segundo a minha própria análise), de quem pregava contra as medidas recomendadas pelos epidemiologistas.  Essas pessoas prolongavam o sofrimento de todo mundo. Depois passei a compreender que viver/morrer também é uma escolha e se essas pessoas preferiam a ilusão de que não havia vírus, de que remédio para verme resolvia e de que as medidas para conter a transmissão eram as causadoras da crise econômica, não o vírus, eu não podia resolver as coisas para elas, e sim me proteger (inclusive mentalmente), respeitar a ilusão alheia e deixar que a realidade as acordasse eventualmente ou não, mas nós aqui sabíamos exatamente o que queríamos: escapar da dor de uma contaminação e suas possíveis consequências permanentes.

O desarranjo do estresse nos trouxe todo tipo de alergia surgida do nada. Num dia meus lábios inchavam. Noutro, era um dedo da mão. Noutro, o do pé. Noutro, uma crise de asma acometia Janaina, que se descobriu alérgica e asmática num dia desses, passando a fazer parte do clube a que pertenço desde os 14 anos. As crises de cefaléia tensional se sucediam. 

A dieta ficou desorganizada para que a cabeça não pirasse. 

Janaina foi minha psicóloga em inúmeras ocasiões, acalmando meu coração, que vivia com medo do que o futuro poderia trazer e até do que ele poderia não mais trazer. Sempre admirei sua resiliência. 

O sonho da vacina parecia muito distante, ainda mais com um presidente descaradamente negacionista e com traços de admirador inconteste da morte, tenha ela a origem que tiver. 

Por aqui, víamos com alegria e também com inveja os países avançando rapidamente na vacinação e derrubando momentaneamente a obrigação de usar máscara.

Quase um ano depois do início oficial da pandemia no Brasil, a vacina chegou para a população brasileira. Parecia que somente idosos acima de 80 anos seriam imunizados. Os outros, somente se fossem idosos com comorbidades. Ninguém apontava um planejamento, uma organização. Ficamos ao "Deus dará".  Lembro de ter ido ao cardiologista em março do ano passado e ter pedido um laudo apenas da condição de mamãe porque não havia qualquer indicação de que a vacinação avançaria para quem não era idoso, mesmo com comorbidade. 2 meses depois, a surpresa de ver a vacinação chegar para as outras pessoas, desde que com comorbidade. A luta por um laudo esdrúxulo quebrou a continuidade da vacinação. Caiu a exigência. Seguimos a passos lentos vacinando todo mundo por idade.

Nunca imaginei chegarmos ao fim de 2021 completamente vacinadas e até tendo recebido a 3.ª dose (dose de reforço). Escapamos umas 2 ou 3 vezes de contaminação mesmo tendo estado em contato com pessoas com teste positivo, inclusive em ambiente sem qualquer ventilação natural (nossa seriedade em relação ao uso da máscara sempre nos salvou). 

Completar o esquema vacinal de mamãe, a levou de volta à fisioterapia tão necessária. Para mim e Janaina, esse fechamento chegou mais tarde, mas já nos permitiu enfim receber e abraçar família e amigas(os) em casa para termos o mínino de entretenimento de volta. Também passamos a frequentar locais com ventilação abundante até para fazermos refeição.

Mas essa caminhada lenta da vacinação impediu que interrompêssemos de vez a transmissão no Brasil. O vírus seguiu fazendo a festa. No mundo, então, o descompasso da vacinação entre os países promovia/promove o espetáculo de surgimento de variantes. O alfabeto grego quase foi esgotado e isso porque somente as variantes que se destacavam/destacam recebiam/recebem nomes. 

A última, ômicron, não respeitou nem quem estava vacinado, embora a vacina tenha evitado mortes e manifestações graves da doença trazida por essa variante altamente transmissível. 

Até por falta de pessoas para contaminar, a Covid nos deu paz como nunca antes havia feito agora em março de 2022, e assim o uso obrigatório de máscaras em locais fechados caiu em Natal, o que me fez encerrar a minha contagem. Enfim, entramos mamãe, Janaina e eu num shopping sem máscara para almoçar, algo que parecia muito distante mesmo no fim de 2021, e um misto de emoções nos dominou: alegria, medo, sensação de estarmos nuas sem as máscaras.

Pelo menos 2-3 meses de relativa tranquilidade nós teremos a partir de agora. E se não surgir uma variante ainda mais transmissível do que a ômicron (o que depende muito da vacinação e das pessoas seguirem as restrições quando elas forem impostas), estaremos muito mais perto do fim dessa agonia no mundo do que podíamos imaginar há 2-3 meses.

Ressalto que não mudei no acompanhamento da pandemia mundo afora. Aprendi a observar os números de novos casos e de internação para decidir sobre reuniões (realizadas com ventilação natural) e até sobre o uso da máscara em qualquer local. Mas vou me permitir experimentar esse alívio que começa a nos trazer para uma outra realidade, em que a vida vai seguindo um pouco mais próxima do que era antes, embora nunca mais sejamos como já fomos. A máscara, por exemplo, veio para ficar para nos proteger de surtos de vírus respiratórios, não tenho dúvidas. 

De tudo, e até agora, o que me resta é um grande alívio. Também me sinto grata por tudo, sem exceção. Superamos as dificuldades aqui em casa sem grandes perdas (vida, saúde), confirmamos a força dos nossos vínculos afetivos e aprendemos a separar o que é realmente essencial no nosso dia-a-dia. De nenhuma medida tomada eu me arrependo, afinal, chegamos até aqui sem contaminação. Espero que sigamos assim neste novo tempo.