domingo, 19 de julho de 2020

"Eu não sei como isso é bom"

Ernesto Teixeira também falou sobre um dos temas do podcast de hoje e eu faço questão de reproduzir aqui.

Eu escutei o episódio do podcast de hoje do blog. Você tratou um pouco da questão dos direitos de transmissão, da MP 984, e eu queria dizer que eu concordo com você e compartilhar também um pouco do que eu venho pensando sobre isso. Eu não consigo enxergar nisso um fator que impulsione a união dos clubes como os clubes estão falando. Porque, se você olhar direitinho, hoje em dia, pela nova MP, as TVs não precisam, para transmitir um campeonato, negociar com todos os clubes. Se ela pegar um pool de clubes, por exemplo, os clubes grandes do Brasil, o antigo Clube dos 13, a formação inicial do Clube dos 13, contando que o Cruzeiro volte à 1.ª Divisão, ela vai ter mais de 200 jogos para a grade dela. E só jogos interessantes. Toda rodada vai ter um jogo bacana de um time de grande torcida para transmitir, seja para as praças de RJ e SP... Então, eu não vejo como um clube médio do Brasil, de divisões inferiores, pode se dar bem com isso. Eu não consigo entender. Porque ele vai negociar seus direitos, sei lá, por mais que o Sport vá receber o Flamengo eventualmente num jogo no campeonato todo, a tendência é a TV negociar por um preço menor do que o clube ganha hoje. E o clube vender esses direitos de transmissão contra os clubes de maior torcida pontualmente. Você deixa de ter uma receita fixa, uma receita certa no ano, para ter uma receita variável. Eu não sei como isso é bom.

Ele ainda lembrou que isso é mais ou menos o que acontecia nos anos 90, quando a Globo comprava apenas o direito do clubes que faziam parte do Clube dos 13. Em 1997, quando o América disputou a Série A pela primeira vez, quem não era do Clube dos 13 fechou com a ESPN. Quando Corinthians ou Vasco, por exemplo, vinham jogar em Natal, a Globo pagava um valor por aquele jogo unicamente. Ernesto então acredita que isso vai se repetir agora. 

E ele fez até as contas exatas sobre as partidas que uma emissora teria com 13 clubes fechados com ela: 247. 

Eu já intimei Ernesto a escrever texto com mais detalhes para publicação aqui no blog. Ele topou. Se o assunto não é discutido onde deveria ser, pelo menos nós, torcedores, faremos a nossa parte.

Concorrência

Complementando o que trouxe no Podcast de hoje, que terminou ficando curto para tudo o que havia para ser abordado, trago um detalhe importante da discussão sobre a transmissão do futebol brasileiro que foi muito bem apontado por José Colagrossi, diretor-executivo do Ibope/Repucom em entrevista na página 2 do cadernos de esportes da Tribuna do Norte deste domingo:

O fato é que os clubes hoje dividem audiência com outros esportes que estão chegando forte no Brasil, como o futebol americano, e também tem os campeonatos europeus. Além disso, boa parte dos torcedores olha o futebol como uma forma de entretenimento e o coloca em disputa com outras formas de distração. Vamos ver como será a partir de 2024. Os valores dos direitos de transmissão devem cair. Antes, existia um monopólio de uma emissora, mas também dos clubes. Agora, vários canais e mídias vão competir.

Podcast: Volta e TV

A volta oficial do futebol para América e ABC e a transmissão dos jogos.




Listen to "Volta e TV - Só Futebol? Não! com Raissa" on Spreaker.

Manchetes do dia (19/7)

A manchete do bem: Disney adere a boicote de grandes marcas e suspende anúncios no Facebook.

As outras: Pesquisas econômicas avançam e apontam como racismo perpetua fosso social, Pandemia deve transformar de vez setor da alimentação e 'Índios sofrem projeto de genocídio étnico absurdo', diz Alice Braga.

Bom dia.

Fonte: Folha de S.Paulo

Today's headlines (7/19)

The headline for good: 'They didn't just love him. They knew him.' Young Atlanta activists mourn John Lewis.

The others: Inside Trump's failure: The rush to abandon leadership role on the virus, Nicaragua's ruling sandinistas fall victim to Covid-19, highlighting the disease's spread, and Older children spread the coronavirus just as much as adults, large study finds.

Good morning.

Source: NY Times

sábado, 18 de julho de 2020

Preparação necessária

Enfim a Confederação Brasileira de Futebol anunciou que vai bancar os testes de Covid-19 realizados a 3 dias de cada rodada do Campeonato Brasileiro masculino e feminino, da Copa do Brasil, do Sub-20 e da Copa do Nordeste. 

A expectativa é de que o resultado saia sempre até a véspera da partida, o que deve provocar muitos desfalques de última hora nos times e vai exigir que técnicos se preparem para alternativas plausíveis de reposição. Ou seja, nada de morrer abraçado com um time titular "imexível" nos treinamentos, pelo menos não em 100% do tempo, porque o desfalque pode surgir de onde menos se espera e em quantidade surpreendente.

Pertinente

Já na Cena Urbana na TN de hoje, o jornalista Vicente Serejo, depois de listar as incongruências do PSDB local, que, em suas palavras, "aprovou e desaprovou a proposta do deputado Kelps Lima", teceu críticas pertinentes no fim do texto de abertura ao governo estadual:

Por sobre tudo isto, e mais insustentável ainda, é um governo petista optar por reduzir a faixa de isentos - antes de um a seis salários mínimos - em favor do limite de 16% de contribuição para os grandes salários pagos a ativos e inativos, e que muitas vezes vão bem além dos R$ 50 mil. Se a reforma cobrasse mais dos que ganham mais de trinta, quarenta e até cinquenta milhares de reais, teria evitado o vexame de precisar fugir do debate aberto, o que é lamentável.

Fim dos pequenos

A Tribuna do Norte de ontem trouxe logo na capa dados de uma pesquisa do IBGE que alertam para o impacto econômico da pandemia de Covid-19 no Brasil. 

De 1,3 milhão de empresas que suspenderam suas operações neste período, 39,4%, ou 522,7 mil empresas, encerraram de vez seus negócios. Pior: dessas que encerraram, 99,2%, ou 518,4 mil empresas, eram de pequeno porte, com até 49 funcionários.

O raio-x do encerramento aponta que 49,5% das que encerraram, o que perfaz 258,5 mil empresas, eram do setor de serviços, 36,7%, ou 192 mil empresas, eram do comércio, 7,4%, ou 38,4 mil empresas, eram da construção e 6,4%, ou 33,7 mil, eram da indústria.

Ou seja, a pancada foi maior para pequenas empresas e no setor de serviços, o que demanda atenção dos governos, especialmente do federal, para políticas de apoio para a retomada econômica no Brasil.

Podcast: Do lado mais fraco

Parece que vai sobrar mesmo para o consumidor.



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Mais de 4 meses

Nunca duvide da capacidade de adaptação do ser humano.  Nunca! Se lá em março nos dissessem que a vida mudaria e ficaríamos mais de 4 meses quase 100% do tempo confinados em casa, ninguém acharia possível. Ficamos. Já são mais de 4 meses desde que o RN apresentou a primeira recomendação de recolhimento domiciliar, fechando escolas e boa parte do comércio e do serviço público.

Como a vida mudou! Deixamos de abraçar e beijar todo mundo. Deixamos de visitar, de passear, de comer fora, de trabalhar em muitos casos... E fomos descobrindo o que de fato é essencial em nossas vidas.

De repente, descobrimos os afazeres domésticos de uma outra forma. A programação da TV. O uso das redes sociais. A necessidade de cuidar da mente, não apenas do corpo. Ler passou a exigir um esforço maior de concentração pela ansiedade das notícias. Aliás, cumprir obrigações em geral passou a demandar mais tempo de concentração. 

Mas a adaptação do ser humano é incrível! De repente, a máscara já não incomoda tanto assim. A concentração volta a acontecer naturalmente. As saídas necessárias já não causam tanto estresse como antes. Descobrimos que dá para viver e sobreviver a uma conversa, por exemplo, mantendo uma distância de 2 metros e usando máscara. A higiene também nos salva.

Neste período tive contato certo com pessoas  diagnosticadas com Covid-19 em pelo menos 2 ou 3 ocasiões. Quando não havia ainda as máscaras, foi o distanciamento e até o acaso que me salvou. Nas outras, veio a segurança dos procedimentos indicados pela OMS como única vacina disponível. Também nessas ocasiões um fator importante, quase aleatório na maioria das vezes, cumpriu seu papel como hoje observo: encontros ao ar livre. 

Já até me arrisquei a cantar parabéns na calçada/janela de familiares. Em outra oportunidade, uma "lavagem" de álcool gel pré e outra pós permitiram um aperto de mão em parentes isolados. É que a pele humana transmite uma sensação disparada por hormônios que acalma, acalenta. Daí o instinto que temos de segurar um bebê que chora no colo para que o conforto extermine o estresse. 

Caminho arrodeando a casa na hora do sol mais forte da manhã, numa tentativa de melhorar a saúde e manter bons níveis de vitamina D. Nem sempre as chuvas de inverno deixam. Confesso que a praticidade de caminhar do jeito que estou em casa, sem qualquer emperiquitamento, trouxe um comodismo que me fez até aumentar a frequência dessas caminhadas, agora religiosamente diárias, sem livrar nem o sábado, nem o domingo.

Outro comodismo - discutível, é verdade - é o (não) uso de sutiã. Neste caso, acho que homens nunca entenderão o que ocorreu com as mulheres em 2020. 

Passei também pela dor de perder Ursula, que foi a primeira a me fazer enfrentar a angústia do contato mais próximo com estranhos em ambientes fechados devido à sua internação. Foi há mais de um mês, mas na contagem atual, parece até mais tempo. Afinal, tudo é muito intenso no confinamento. A dor da perda, então...

Assusta um pouco pensar que isso tudo vai continuar assim até o próximo ano, pelo menos. Mas olhar para trás e saber que já se passaram 4 meses é algo que fortalece a certeza de que vamos superar sim isso tudo e que certamente encontraremos formas de driblar esse confinamento sem comprometermos a saúde e a própria vida. Já vi até o desenvolvimento de técnicas para que possamos voltar a nos abraçar e, vejam só, beijar (não bocas nem rostos, mas nucas) com risco mínimo, o que só corrobora a nossa incrível capacidade de adaptação. Sigamos, então!