quarta-feira, 23 de outubro de 2019

De olho na História


Não resisti a uma série de documentários chamada Guerras do Brasil.doc e que todo dia parecia me chamar no catálogo da Netflix.

Adoro História e a do Brasil eu sempre acho um tanto quanto não destacada adequadamente até nas escolas.

Com depoimentos de historiadores, ilustrações que lembram quadros feitos a lápis de cor ou hidrocor e fotografias de época, vários episódios de guerras em que o Brasil esteve envolvido são destrinchados. Destaco particularmente o episódio sobre a Guerra do Paraguai e o sobre a guerra do tráfico de drogas.

Didáticos, interessantes e curtinhos (menos de 30 minutos cada), a série é um bom mergulho em parte da História do Brasil.

Angústia persistente

Quando adolescente, eu tinha a solução para tudo. Queria tudo urgente, para ontem. Achava os adultos acomodados demais, tolos demais em alguns casos, cegos demais em tantos outros. Enfim, posso dizer que eu sabia de tudo.

Hoje aos 40 anos penso que a Raissa daquela época tomaria um choque com a visão do futuro/presente. Ainda me reconheço em alguns desses pensamentos, mas aprendi a valorizar pequenos passos. Aprendi também que dinheiro nenhum no mundo compra a tranquilidade, essa sim a chave para a felicidade.

Não perdi a capacidade de me angustiar com as injustiças. Escolhi o Direito por essa inquietação, que persiste. Ou seja, o Direito não me trouxe a solução para tudo, urgente, para ontem, que a adolescente imaginava. Talvez tenha me ensinado que a gente imagina fechar uma porta para a angústia, mas termina abrindo outras diariamente. Lidar bem com isso é fundamental dia após dia.

Quanto ao envelhecimento, a angústia é não saber até que ponto a vida atual influencia nos sintomas presenciados. A cada médica(o), um pequeno detalhe surge a merecer atenção. A memória falha mais do que antes, especialmente a de curto prazo. Seria o uso intensivo do celular ou a máquina humana mostrando desgaste natural? O braço empurra cada vez mais para mais longe as coisas em busca de foco. Reflexo da velha hipermetropia junto com a realidade dos 40 anos ou coisas independentes? A pré-diabetes é mesmo genética ou fruto de uma vida de excessos, em especial de guloseimas?

Numa coisa eu tive arrego. Há anos não podia mais caminhar por sofrer com intensas dores. Fui obrigada a correr porque o passo apressado da caminhada queimava e imobilizava as pernas. Até ter uma fratura por estresse no pé, que me acompanha sem o devido tratamento, que também interrompeu as corridas. Depois de muito sedentarismo involuntário, eis que voltei a caminhar como se nunca tivesse tido problema algum. As pernas parecem novinhas em folha. O pé não reclama mais. Não tenho mais do que reclamar nesse aspecto.

Caminhar, lavar louça (sim!), limpar a piscina são atividades que encaro como verdadeiras meditações, especialmente as duas primeiras. Pensando bem, caminhar é minha sessão de terapia. É o momento em que organizo as ideias, discuto meus planos, disseco meus problemas. Nunca perguntei se mamãe e Janaina, esta principalmente, aguentam meu blá, blá, blá, embora a conversa seja de mão dupla. O sol me dá uma senhora injeção de ânimo, mesmo com a fotofobia. O vento gostoso de Natal leva tudo de ruim embora.

Lavar a louça é que é pura meditação. Há um certo ritual para que tudo saia limpinho exatamente como gosto. Isso liberta a mente das outras coisas, ou a organiza de vez.

No caso da piscina, talvez eu seja a única pessoa que entra nela por escolha própria para fazer sua manutenção, se bem que Janaina também faz isso quando reveza comigo. Só isso já relaxa qualquer mente porque serve também de exercício. Neste caso, aproveito o momento para ouvir palestras jurídicas que não pude acompanhar in loco. O conhecimento também alimenta a alma, ainda que eu prefira disparadamente a leitura para tanto.

Por falar em leitura, esta também sofre, não pelo foco visual, e sim pelo mental. Concentro-me ainda que no tumulto, mas hoje não tanto mais como na adolescência. De novo, a angústia: reflexo do uso intensivo do celular ou da idade mesmo? Cheguei ao ponto de ler dois livros ao mesmo tempo. Agora intercalo páginas de literatura (o atual é Les Miserábles, de Victor Hugo, versão em inglês que ganhei de presente alguns anos atrás) com páginas mais científicas/técnicas (o atual é Filosofia do Direito, de Miguel Reale). Ambos clássicos, nada novo. Seria um desejo inconsciente de voltar ao passado ou só reverência a grandes obras?

Como não imaginava nem chegar aos 40 anos, nem menos ainda mudar no que mudei, carrego mais dúvidas. Como estarei daqui a 20, 30, 40 anos? Chegarei mesmo lá? Vou me sentir melhor ou pior do que hoje? Terei a solução para tudo, urgente, para ontem, ou descobrirei que o tempo não importa? Envelhecerei normalmente ou o uso intensivo do celular vai me roubar mais algumas funções?

Aos 40 anos, a angústia de não ter essas respostas é minha companheira. Meu refúgio é saber que não são as respostas que movem o mundo, mas as perguntas. Menos mal.

CD convocado


Manchetes do dia (23/10)

A manchete do bem: Novos hambúrgueres vegetais já são 30% das vendas no Pão de Açúcar.

As outras: Livro sobre Raul Seixas cita suspeita de que ele entregou Paulo Coelho à ditadura, Homem é agredido e leva quatro tiros após beijar companheiro e Senado finaliza nesta quarta reforma da Previdência que pode afetar 72 milhões.

Bom dia, minha gente!

Fonte: Folha de S.Paulo

Today's headlines (10/23)

The headline for good: Fossil fuels on trial: New York's lawsuit against Exxon begins.

The others: Ukraine envoy testifies Trump linked military aid to investigations, Boris Johnson loses a critical Brexit vote, throwing the process into disarray, and Trudeau re-election reveals intensified divisions in Canada.

Good morning, everyone!

Source: The New York Times

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Informação livre

Um primor o artigo de hoje de Vicente Serejo em sua Cena Urbana, na Tribuna do Norte. 

H(h)istória
O presidente Jair Bolsonaro, por sua formação castrense, que o faz acreditar no conflito como única forma de sobrevivência, parece que não aprendeu as lições e experiências deixadas como sequelas pela ditadura militar. Lembra, pelo visto, da força e opressão como instrumentos de controle, mas esquece que, por isso mesmo, brotou a resistência nas ruas, no silêncio ou no grito, nos gestos, nos livros e canções, até explodir de forma incontrolável.

Os relatos históricos que formam a trajetória da luta contra a opressão - Não importa se escrevendo a História, com maiúscula, ou a história, com minúscula - conta de outro jeito como tudo aconteceu. Quando o regime militar caiu, os líderes proscritos pelas baionetas e o bico dos borzeguins voltaram - os vivos em nome dos mortos - nos braços do povo. E arrastaram suas multidões, governaram estados e cidades, ocuparam o Senado e a Câmara.

Agora mesmo,dois episódios públicos revelam de forma material a reação que vem à tona: a homenagem no Teatro Municipal de São Paulo a Fernanda Montenegro, agredida por um executivo da Fundação Nacional de Artes - Funarte, com mil e  quinhentas pessoas de punho cerrado; e o festival que o governo e a prefeitura paulistas anunciam reunindo todas as peças teatrais que, em nome do pudor, sofreram censura por órgãos e entidades federais.

São jejunos intelectuais de toda espécie os que defendem censura e falsamente posta em nome dos bons costumes, como se todos os filtros de uma sociedade não tivessem que nascer dela mesma e não do arbítrio. Nunca de quem queira arvorar-se de dono do que a sociedade quer mostrar e assistir. A monstruosidade da censura começa sempre com uma tentativa diluída de regular e regulamentar a liberdade para só depois cair no uso da força.

Da mesma maneira que no regime democrático não cabe proibir manifestações que alguém considere de direita ou de esquerda. É intolerância na mesma intensidade, que, em nome de qualquer ideologia, se proteste de forma clara ou velada contra posturas individualmente ou manifestações artísticas. É do jogo democrático não aceitar, sob nenhum pretexto, substituir argumentos por desaforos, ainda que pareçam de arroubos ou valentias.

As tarefas estão divididas. Aos veículos formais - jornal, rádio e tevê - a resistência; às redes sociais, manter a sociedade civil agilmente informada e mobilizada. As redes foram postas nas mãos, olhos e ouvidos pela tecnologia, e são uma conquista. Nem os exércitos mais bem armados do mundo conseguirão derrotar. Todos sabem de tudo ao mesmo tempo na aldeia global. O que parecia uma elucubração teórica, hoje é uma realidade absoluta. E basta.

O peso do passado

O presidente aclamado do América Leonardo Bezerra acabou de postar no Twitter mensagem dando conta das negociações no clube. Vale conferir.


Manchetes do dia (22/10)

A manchete do bem: Gal Gadot é uma das convidadas da Comic Con Brasil 2019.

As outras: Michelle Pfeiffer afirma ter sofrido abuso de 'homem poderoso do cinema' no passado, Jornais australianos censuram suas capas em protesto por liberdade de imprensa e Alta de tarifas se firma como estopim de insatisfação no Chile.

Bom dia, minha gente!

Fonte: Folha de S.Paulo

Today's headlines (10/22)

The headline for good: Democrats slow impeachment timeline to sharpen their public case.

The others: The return of the 'blob': Hawaii's reefs threatened by marine heat wave, As homelessness surges in California, so does a backlash, and Boeing's crisis grows: Tense meetings, falling stock, angry lawmakers.

Good morning, everyone!

Source: The New York Times

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Risadas verdadeiras


Recebi ingressos para conferir Minha Vida em Marte, cujo texto é de autoria de Mônica Martelli, que também o interpreta. 

Eu vi o filme anteriormente. Tem cenas engraçadas, mas não faz muito o meu tipo. Não sou de gastar meu sofrido dinheirinho com comédias, nem no cinema, nem no teatro. Em ambos os casos, em geral, falta talento para deixar tudo bem amarrado, na minha opinião. É questão de gosto.

No caso de Minha Vida em Marte, não há a menor comparação: a peça é infinitamente melhor do que o filme. O talento de Mônica está em transpor para a comédia situações tão comuns a tantas mulheres e tantos casamentos - oficiais ou não - Brasil afora.

Sempre que as pessoas riam no teatro eu me perguntava se a risada era por identificação própria ou de alguém próximo. Por exemplo, com o desespero de que viaja para a Flórida e não consegue se controlar ao entrar num outlet ou no Walmart e encontrar roupas/produtos a $5. Ou com a rotina que mata casamentos que já não tinham amor mesmo (Desculpem. Sofro da visão romântica - se há amor, ele não morre nunca). Ou com a angústia das mulheres que veem casamentos desfeitos no meio da vida e não têm a menor ideia de como recomeçar. Ou - e aqui eu me identifico totalmente - com a falta de foco visual das pessoas (e coisas!) que chegam perto demais, o que nos obriga a dar um ou dois passos para trás para enfim enxergamos.

Enfim, dramas reais e diários viraram boa comédia. Durante pouco mais de 1 hora de espetáculo ficamos todos lá rindo das nossas próprias desgraças, de um jeito ou de outro. E parece que o natalense gosta mesmo disso, posto que há tempos eu não via o Teatro Riachuelo lotado como ontem.

Se um livro é sempre melhor do que o filme que o adapta, Mônica Martelli me provou ontem que a peça também sempre supera (e muito!) a adaptação para as telas. E rir de si próprio é uma forma de não levar a vida tão a sério, dando-lhe providencial leveza. Recomendo.