Não vi o jogo Potiguar 0x2 América desde o início por motivos óbvios. Mas comecei a receber pequenas pistas de que a TV Mecão mostraria a partida e apostei que entraria mesmo no ar até 15 minutos do 1.° tempo e não deu outra: aos 12 minutos a partida se desenrolava diante dos meus olhos em mais um trabalho excepcional do competente Canindé Pereira, assessor de imprensa do América.
Ainda rolou um certo estresse por falta de comunicação entre os diretores do Potiguar, mas tudo foi contornado, graças a Deus.
Sobre o jogo, desde o rádio a impressão era de que o América entrara com a faca nos dentes. Sabia exatamente o que queria e do que precisava e pressionou o que pôde e o que não pôde o Potiguar para alcançar seu objetivo.
Quando as imagens foram ao ar, a impressão foi devidamente confirmada, com o acréscimo de que alguns jogadores não estavam nada bem em campo, como Roger Gaúcho e Hiltinho. Um ou outro normalmente matava qualquer grande jogada tentada pelo time de Moacir Júnior.
Sobre o técnico, caiu a ficha do erro de escalar um só volante na partida anterior, mas isso não impediu que Diego aparecesse na posição, mesmo ele tem jogado bem mais à frente, numa teimosia até compreensível num 2.° tempo, jamais para início de partida. Diego não tem o melhor do condicionamento físico e fica mais à vontade quando o adversário já está mais desgastado. Isto é, Diego é uma boa substituição, não escalação inicial por ali.
O Potiguar não pretendia sair para o jogo. A vantagem de jogar pelo empate lhe permitia esperar contra-ataques. Num deles, Jeffinho perdeu a melhor chance da partida e só Jesus sabe como ele chutou aquela bola para fora. Sorte de campeão dirão alguns.
Como o América martelou no 1.° tempo! O próprio Diego chutou uma de primeira, de esquerda, de fora da área, num passe de Roger Gaúcho, que obrigou o goleiro do mandante a uma grande intervenção para impedir o gol americano.
A galera ainda reclamou de um pênalti no 1.° tempo não marcado por Caio Max. Confesso que não vi o lance e não tenho como opinar.
Quando o 2.° tempo começou, o jogo já era outro. O América começou a morrer. Deu 110% na etapa inicial e a conta foi cobrada com juros na etapa final. Os primeiros 20 minutos mostravam claramente um Potiguar bem melhor e um América aparentemente sem forças para pressionar o adversário.
Junte-se a isso que Moacir preferiu tirar Max para colocar Jean Patrick. Jean é um jogador de velocidade, mas o jogo ainda não estava se apresentando nessa batida de velocidade para o América. E Max dava para o gasto num lance aéreo. O resultado foi mais domínio do Potiguar, especialmente porque Roger Gaúcho e Hiltinho não conseguiam armar nem ratoeira em campo e o time perdera a referência.
Moacir ainda tiraria Roger Gaúcho para colocar Gabriel Nunes, um acerto, apesar de de que o volante não entrou assim tão bem.
E a melhor mexida dos últimos tempos: sacou o inoperante Hiltinho para a entrada do cada vez mais pedindo passagem Luisinho.
O gol do América surgiu na característica mais forte que o então técnico Luizinho Lopes deixou para essa temporada: a cobrança de laterais e escanteios. Um desvio de Alisson Brand no meio do caminho deixou o artilheiro do time Adriano Pardal pronto para abrir o caminho para a Copa do Nordeste (ainda que na pré-Copa) e para a final do estadual. Rede estufada e americanos em polvorosa no estádio e no estado.
Mas antes disso Adriano Pardal havia sido derrubado na área do Potiguar num raro contra-ataque e Caio Max e seu bandeirinha assistente fizeram o mesmo que o MP/RN em relação aos abusivos preços cobrados pelo Potiguar num estádio que vive interditado: bancou a egípcia. Isso quase levou a torcida americana a um infarto.
Voltando à sequência, o Potiguar perdeu o rumo. Como o time passou o jogo numa nota só e o América parecia ainda mais preparado para essa nota só (levantamento em diagonal para a área) depois da última substituição empreendida por Moacir, o desespero chegou. Um jogador do mandante chutou um jogador do visitante que estava caído no chão. Fosse Caio Max mais ligeiro, toda a confusão teria sido evitada. Mas o árbitro gosta de conversa. O tumulto se formou, o pessoal do Potiguar se mandou para a área técnica do América, torcida do Potiguar começou a arremessar coisas da arquibancada em direção ao banco do América e tudo terminou em muito spray de pimenta (sem necessidade). Sobrou até para o coitado do Canindé Pereira lá na cabine de transmissão. Caio Max expulsou um jogador do Potiguar (se tivesse expulsado logo, nada teria acontecido) e o goleiro reserva do América (talvez pela invasão do pessoal do banco ao campo).
Aí sim sobraram os contra-ataques em velocidade para o América. Num deles o jogador Thiaguinho deu praticamente um golpe de caratê em Jean Patrick, levou o 2.° amarelo (eu teria dado o vermelho direto) e também foi expulso.
Ufa! América com 2 a mais, o domínio seria tranquilo, né? Que nada! O América simplesmente não tocava a bola. A sorte é que o Potiguar não tinha mais qualquer força para pelo menos acertar passes e numa bobeiraça da zaga, Luisinho foi presenteado, avançou, não tocou para ninguém (e eu quase arrancando os meus curtos cabelos), driblou todo mundo e marcou um belo gol, o gol do alívio e que colocou de vez o melhor time do estadual na final. Sim, o melhor time. Único que esteve nas duas finais de turno, dono da melhor campanha, do melhor ataque, do melhor saldo de gols - impressionantes 15 gols.
Sobre os lamentáveis arremessos de coisas em campo por parte da torcida do Potiguar, isso é resultado das inúmeras passadas de pano de FNF e, principalmente, TJD para as coisas absurdas que acontecem no Nogueirão ao longo dos anos. Acho que esperam acontecer uma morte em campo para enfim levarem uma punição a sério.
A torcida do América, por exemplo, era chegada nessas coisas, até o STJD punir o clube com perda de mando em sequência na Série B. Aparentemente aprendeu a lição. Quem vai ter coragem de dar à torcida mossoroense a devida lição? Só Deus sabe... Talvez nem Ele.
Enfim, o América está na final como há tempos não chegava. Mas a conquista foi fiel ao tempo de sofrimento - quase leva a torcida inteira para o cemitério de tanto estresse. O presidente Eduardo Rocha representou bem todos os americanos ontem à noite: segundo Mallyk Nagib, ele passou mal e quase foi levado para atendimento numa ambulância do Samu. Espero que já esteja recuperado porque vem mais emoção por aí.
Não dava para o time de Moacir ter feito um golzinho no ASSU para diminuir a carga emocional, não? Não, não dava. Porque o América só chega quando a luta é contra tudo e contra todos. Não tem jeito. Americano(a) que é americano(a) sabe disso desde criancinha e é capaz de apontar todas as conquistas que embasam essa verdade inquestionável.
No Podcast de domingo, às 10h, eu prometo que ainda vou apontar outro fator determinante para a derrota contra o ASSU. Entendedores entenderão imediatamente. Inquestionável. E ponto final.
Agora o RN assistirá ao Clássico Rei em dose dupla para definição do campeão. Já sabemos que será sofrido, sem dúvida. Sabemos que o regulamento deu vantagem de empate e mando de campo no único jogo nas finais de turno para quem chegava em 1.°, mas achou que a melhor campanha geral não deveria ser premiada com algo mais do que o mando de campo na segunda partida das finais do estadual. Um exemplo de bom senso a ser aplaudido de pé, não é mesmo?
Mas que seja com casa cheia nas duas partidas, sem embates fora de campo e com muita emoção dentro de campo. Que tenhamos duas bonitas festas (sem pó, por favor) para tentar resgatar o futebol do RN perante seus mais fiéis torcedores, apesar dos desmandos. E sem preços abusivos, de preferência.
A partir de hoje, veremos o que nos espera. E que vença o melhor!
P.S.: Joazi esteve muito bem no 1.° tempo. Bom sinal.