domingo, 7 de abril de 2019

Coerência mandou lembranças

Quem achou lindo todas as vezes que times do interior abriram mão de seu mando de campo para jogar com o ABC na Arena das Dunas e até no finado Machadão não pode agora reclamar de favorecimento se o Potiguar trouxer a final do 2.° turno para Natal.

Coerência, minha gente, mandou lembranças! Se aprovou lá, tem que achar bonitinho cá. Simples assim.

A várzea é aqui

Há tempos reclamo e não seria diferente pelo fato do América ser beneficiado: trazer uma final de turno ou campeonato para a Arena das Dunas não sendo o mandante de Natal é inversão de mando de campo e sinal absoluto de que o estadual daqui não passa de uma várzea.

E nem adianta disfarçar com a desculpa de que o Potiguar também inscreveu a Arena das Dunas como seu mando de campo. Está na cara que a medida foi tomada só pensando em jogar uma final com América ou ABC e no dinheiro daí advindo, posto que o clube mossoroense não mandou um só jogo regular no local.

Se o Potiguar jogar em Natal, ninguém discute mais: a várzea é aqui mesmo no RN.

No momento crucial

Na última rodada do 2.° turno, o América pode ter jogado fora a chance real de ser campeão estadual. Contra o ASSU, uma equipe que só havia vencido 1 partida nas 13 rodadas anteriores, o time de Moacir não conseguiu nem mesmo o empate que manteria a liderança e, portanto, a enorme vantagem de jogar em casa e por um empate para garantir sua vaga na final contra o ABC.

Agora é o Potiguar que vai jogar em casa e com a vantagem de um empate para ser campeão do 2.° turno na próxima quarta-feira e chegar à final contra o ABC.

Enfim, o América falhou quando não podia e transformou o sonho de voltar a ser campeão estadual numa ladeira de quase 90°. Para subir.

P.S.: o que houve com Gabriel Nunes que nem foi escalado, nem entrou no decorrer do jogo?

Caiu

Roberto Fernandes não é mais técnico do CRB. Ele acabou de postar no Facebook um balanço de seus números à frente do alvirrubro de Maceió. Nos 7 meses, foram 13 vitórias, 15 empates e 4 derrotas.


Para refletir

Tive acesso à entrevista de Dexter na Folha de S.Paulo de hoje por publicação do jornalista Sérgio Xavier Filho (@sxavierfilho) no Twitter, cuja reprodução segue abaixo. 



Vale a leitura completa, mas destaco um trecho de grande impacto: 

Tem um monte de cara cantando ostentação. Cantar ostentação para jovens que nem emprego têm é difícil. Você vai conduzir essa juventude, em fila indiana, pro inferno. Pras cadeias. Pro cemitério.

Sim, precisamos refletir mesmo sobre nossos valores.

A reflexão do pastor

Outro achado na Veja de 03/04/19, páginas 72-73, é um artigo de Ed René Kivitz, pastor da Igreja Batista de Água Branca em São Paulo.

No texto, o pastor traz uma interessante reflexão sobre a interpretação dos textos bíblicos. Vale a reprodução na íntegra.

O machismo e a Bíblia
O uso de textos sagrados para reforçar comportamentos misóginos é equivocado e deve ser rechaçado a partir de uma leitura que considere o contexto histórico das Escrituras
Por Ed René Kivitz

Os equívocos hermenêuticos da visão bíblica e teológica a respeito da mulher deveriam ter ficado na poeira da história, mas é surgiram com força no Brasil contemporâneo - reflexo de antigos ensinamentos fora de contexto propagados em igrejas lideradas por homens e da mentalidade de setores evangélicos que ocupam a cada dia mais espaço noticiário. Intérpretes fundamentalistas defendem a ideia de que os textos bíblicos exigem a subordinação total da mulher ao homem ou, no mínimo, sendo a mulher casada, que ela deve ser submissa ao marido.

As passagens mais utilizadas para sustentar essa desigual relação entre homem e mulher são extraídas dos escritos de São Paulo. Diz, por exemplo, o apóstolo: "Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor; porque o marido e a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja" (Efésios 5: 22-23), e "a mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição. Não permito que a mulher ensine, nem uso de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio" (1 Timóteo 2: 11-12). Interpretados fora de seu contexto histórico e tomados como mandamentos literais, tais textos perpetuam a estrutura patriarcal e machista das culturas que foram o berço da tradição bíblica.

Os tempos bíblicos, tanto do Velho quanto do Novo Testamento, eram absolutamente masculinos. Dias difíceis para ser mulher. O mundo helênico onde viveu o apóstolo Paulo não guardava o menor apreço pelo gênero feminino. Aristóteles acreditava que a mulher era "um homem mal feito". Seria destituído de alma racional e destinada apenas à procriação. Platão e Sócrates citam um dito popular que encorajava os homens  a agradecer três bênçãos ao destino: ter nascido humano, e não animal; homem, e não mulher; grego, e não bárbaro. Talvez daí tenha vindo a oração comum aos judeus dos dias de Jesus, que agradeciam a Deus o fato de não terem nascido mulher, cachorro ou samaritano - isto é, miscigenado. Por isso, bom entendimento da Bíblia nos dias atuais exige que se leve em conta o mundo em que ela foi escrita.

O apóstolo Paulo é, na verdade, um injustiçado nessa matéria. Embora ainda limitado às tradições de seu tempo, ele foi responsável por grandes guinada na maneira como a mulher passou a ser percebida e tratada. É de sua pena também a expressão que demanda que o marido ame a esposa como Cristo amou a igreja (Efésios 5: 22-23), conceito subversivo e revolucionário para os ouvintes originais, de um período em que o cuidado com a mulher não se mostrava uma prioridade. Em sua pista de orientação ao jovem Timóteo, Paulo trata da questão da relação homem-mulher, discorrendo a respeito dos dois principais argumentos utilizados em sua época para afirmar a primazia do homem:  "Primeiro foi formado Adão, e depois Eva. E Adão não foi enganado, mas sim a mulher, que, tendo sido enganada, tornou-se transgressora" (1 Timóteo 2: 13-14). Os dois argumentos fundamentais são princípios da ordem da criação - o homem foi criado primeiro - e o princípio da ordem do pecado - a mulher foi enganada primeiro.

Ao voltarmos ao início da Bíblia, encontraremos no Gênesis a ordem da criação acompanhada de versículos que, se lidos com a intenção de exaltar o gênero masculino, reforça a condição subalterna da mulher. "E disse o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora idônea" (Gênesis 2: 18). As traduções restringem a mulher aos papéis de "ajudadora idônea (para o homem)", "auxiliar que corresponda (ao homem)", "alguém que ajude (o homem) como se fosse sua outra metade", "alguém que ajude complete (o homem)". O acolhimento literal isolado desse relato reforça a noção de que a mulher foi criada por causa do homem e está a serviço dele.

Não se deve esquecer, entretanto, aquilo que diz o mesmo Gênesis, em seu primeiro capítulo, versículos 26 e 27: "Então disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais grandes de toda a terra e sobre todos os pequenos animais que se movem rente ao chão. Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou". Ou seja: homem e mulher foram criados à imagem de Deus - e em pé de igualdade. Na ordem da criação, portanto, a relação homem-mulher articula-se a partir de conceitos como a diversidade a complementaridade. A imago Dei - ou seja, a imagem de Deus - não repousa exclusivamente no homem ou uma mulher, mas na unidade humana; não foi somente o homem criado à imagem e semelhança de Deus, mas toda a raça humana, numa unidade indissociável entre masculino e feminino.

Desde Eva, a mulher foi estigmatizada como causadora de males. Uma ideia perigosíssima que, perpetuada, faz com que até hoje mulheres sofram abusos e violências físicas. Basta ver os absurdos ditos por Tertuliano (160-220), o primeiro autor cristão, chamado de "Pai da Igreja": "Você, mulher, é o portão da entrada do inferno; é a primeira diretora da lei divina. Você destruiu, e de modo tão frívolo, a imagem de Deus, que é o homem. Como consequência da sua deserção - isto é, a morte -, até mesmo o Filho de Deus teve de morrer".

É imprescindível que líderes religiosos revejam a maneira como a mulher é tratada dentro dos templos - até pelo impacto que suas pregações possam ter sobre o destino delas fora das igrejas. A síntese bíblico-teológica da equidade na relação homem-mulher é irrefutável. Apesar de ter sido criado o primeiro, o homem perpetua sua existência ao nascer da mulher, início se reafirma a interdependência de ambos - verdade fundamental do Novo Testamento, outro conceito revolucionário de São Paulo (1 Coríntios 11: 11-12). Machismo e misoginia são heranças históricas, sociais e culturais sustentados por equivocadas tradições da interpretação bíblica e precisam ser urgentemente rechaçadas, inclusive com a autoridade da própria Bíblia. O texto sagrado aponta sempre na direção da superação de todas as injustiças e da afirmação de todos os seres humanos no mesmo patamar de dignidade, como seres criados à imagem e semelhança de Deus.

É preciso agir

Finalmente, o ser humano voltou-se para o que vem fazendo de prejudicial aos oceanos, esse verdadeiro berço da vida no nosso planeta. A revista Veja de 3/4/19 trouxe reportagem nas páginas 90-91 sobre o mal que redes, linha e anzóis abandonados ou perdidos no mar causam à vida marinha.

Segundo a reportagem, são 640 mil toneladas desse lixo específico por ano (10% do total) matando ou mutilando animais no mundo inteiro. No Brasil, 12 dos 17 estados costeiros registram esse mal. E segundo a ONG Proteção Animal Mundial, por aqui. há um acúmulo diário de 580 quilos de detrito com potencial para afetar quase 70 mil animais por dia, o que daria 25 milhões por ano. Uma matança.

Numa única rede retirada de Laje de Santos, santuário natural na costa de São Paulo, além de muitos peixes mortos, biólogos conseguiram resgatar uma tartaruga-verde, que estava presa por um anzol enganchado numa nadadeira. Foi pura sorte. Sem o resgate, a tartaruguinha iria agonizar até morrer asfixiada.

No Nordeste,  as vítimas desse lixo são as jubartes oriundas da Antártida que procuram nossas águas quentes para reprodução e amamentação dos filhotes. Em 2017, mais de 30 morreram no litoral baiano, algumas encontradas ainda enroladas nas redes.

Pior, o material é resistente. Segundo Helena Pavese, diretoria executiva da ONG, "os apetrechos de pesca são a forma mais letal de lixo plástico no mar. Duráveis e resistentes, eles podem levar até 600 anos para se decompor e depois ainda viram microplástico, entrando na cadeia alimentar dos animais." Isto significa que também consumimos plástico, só para esclarecer.

Abaixo, uma imagem trazida pela reportagem com a mutilação apresentada por uma foca resgatada  detalha bem o nível de sofrimento dos animais marinhos.


Se compaixão pelos animais não é motivo para agir, compaixão por perdas econômicas normalmente opera o milagre. E é o próprio Ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, que acabou de lançar um Plano Nacional de Combate ao Lixo no Mar, com 30 ações de curto, médio e longo prazos, que faz o alerta sobre esse tipo de lixo: "Ele causa danos a barcos e máquinas e compromete a segurança da navegação."

Não é possível que deixemos esse tipo de lixo seguir sendo descartado dessa forma por pescadores.

Podcast: Quem vai

Manchetes do dia (7/4)

A manchete do bem: Imigração virtual inaugura nova fase da globalização, diz especialista.

As outras: Aos 100 dias, Bolsonaro tem a pior avaliação de um presidente eleito, Índia tem maior eleição do mundo e temor de fake news e Pacientes superam câncer, mas depois enfrentam novo desafio: a volta ao trabalho.

Bom domingo a todos!

Fonte: Folha de S.Paulo

Today's headlines (4/7)

The headline for good: Modern monetary theory finds an embrace in an unexpected place: Wall Street.

The others: A mysterious infection, spanning the globe in a climate of secrecy, Scheme to swap fake iPhones adds up to $900,000 loss for Apple, prosecutors say, and A fire killed 10 boys in Brazil, and exposed the underbelly of the soccer business.

Good morning, everyone!

Source: The New York Times